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Artigos-->Diário de um Ghost Writer -- 13/08/2008 - 00:05 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Diário de um Ghost Writer

D

Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior



5 de abril





Eu estava em casa de meu pai, contando que atribuíram a mim um livro sobre segurança pública que ele escreveu, quando um rapaz ligou da padaria. Sassá Mutema (ele afirmou usar esse nome artístico e ter vindo da Bahia para Minas) era um negro de longos cabelos bem cuidados e olhos azuis artificiais. Chegou desesperado, precisando de um trabalho sobre Misticismo na Internet, mas revelou estar traumatizado com a rede. O trabalho era para o dia seguinte, mas topei assim mesmo.





6 de abril





Sassá Mutema chegou com um casaco bege, imitando pele de jaguatirica, falando fluentemente a língua da Tabatinga, um quilombo aqui de Bom Despacho. Ao receber o trabalho, suas lentes celestes se iluminaram. Ele afirmou ser um pai de santo, só não fazia aquele tipo de trabalho, mas fazia trabalhos de descarrego, curava mal olhado, benzia cobras, desenfeitiçava e jogava búzios. Colocou-se à disposição, se precisasse. Eu quis puxar assunto, dizendo que já sabia de vários centros de candomblé e umbanda que estavam atendendo pela Internet; enfim, podia-se falar na Webcam, prontamente, com um preto velho ou uma pomba gira, que baixavam on line. Sassá nada disse; ao sair, despediu-se com um “muito obrigada”.





7 de abril





Hoje vários alunos de uma faculdade privada local me procuraram para que eu os ajudasse com as resenhas de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber. Fiquei o dia inteiro fazendo um coquetel teórico, misturando comentários tirados do Meira Penna (Opção Preferencial pela Riqueza). Acrescentei uma pimentinha marxista para contrabalançar, ficou no ponto.

Pediram uma monografia de História Local a respeito da antiga ferrovia que unia nossa pequena cidade a Belo Horizonte e que foi desativada há trinta anos. O foco devia ser um episódio de um acidente na ferrovia, quando o gongo bateu na lateral da locomotiva e nenhum passageiro arriscou um pio. As ferromoças (o equivalente das aeromoças de hoje) fizeram questão de tranqüilizar a todos.

Pediram uma monografia de História Local a respeito da antiga ferrovia que unia nossa pequena cidade a Belo Horizonte e que foi desativada há trinta anos. O foco devia ser um episódio de um acidente na ferrovia, quando o gongo bateu na lateral da locomotiva e nenhum passageiro arriscou um pio. As ferromoças (o equivalente das aeromoças de hoje) fizeram questão de tranqüilizar todos logo a seguir. O aluno frisava o papel da mulher na construção da ferrovia. Um trabalho de micro-história. Falei da decadência das ferrovias a partir do governo JK e cheguei ao específico.





8 de abril





O aluno que encomendou o trabalho sobre História Local veio pegá-lo e muito me agradeceu. O telefone hoje não parou. Uma aluna que fez Pós numa cidade litorânea me trouxe seu caderno de anotações. Aparentemente, ela ficou o tempo todo na praia, pois as anotações não tinham pé nem cabeça. Meu olhar experiente me levou a pensar que ela copiou as anotações de alguém que as fez em código, para entendimento próprio. Só consegui esclarecer que trabalhos a donzela deveria fazer, contatando os professores dela na tal cidade litorânea. Para justificar o atraso, inventei uma doença rara, a síndrome de Münchausen. Um dos mestres, condoído, respondeu errando o nome da aluna: “Eu já te respondi isso, Maria Aparecida!” E ainda desejou melhoras no tratamento da doença rara. Quando eu fizer minha Pós em Literatura, pretendo escrever sobre o divertido trabalho do escritor fantasma.
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