...Eu via um mundo onde muitos homens construíam casas e não tinham onde morar. As casas construídas eram grandes mas não cabiam quem os construiu.
Abri os olhos e não acreditei quando vi muitas crianças armadas indo a guerras sem saber o motivo pelo qual lutavam. E não entendi o porquê de que tais questões políticas não eram disputadas em jogos muito mais interessantes como as Olimpíadas, ou talvez, uma partida de xadrez.
Não acreditei mesmo, quando vi países inteiros assolados pela miséria enquanto que outros gastavam seus ouros em bombas nucleares.
Quis fechar meus olhos para não ver as pessoas morando... Ah! Só Deus sabe onde essas pessoas estavam morando.
Não acreditei também quando vi crianças sendo assassinadas por próprias crianças, e pedi a Deus que me desse óculos para não enxergar que são os policiais, teóricos defensores da pátria, verdadeiros bandidos e chassineiros.
Mas por mais que meus olhos quisessem se fechar, escapou-me uma lágrima ao ver que o patrono de um país foi o seu maior carrasco.
Mas de fato, não consegui acreditar em meus olhos quando eles viram a tudo isso: a fome, a alta desigualdade social, a guerra, a corrupção, a violência, a miséria. Quando meus olhos, meu Deus, olharam a tudo isso e se acostumaram com o que viu.
Realmente, não consegui acreditar nos meus olhos.
Suzana Siniscalco de Oliveira Costa - Abril de 1992
Crónica premiada e publicada no livro escritores e escritoras de ouro - Litteris Editora/ Rio de Janeiro.