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Cartas-->17. JOSÉ CARLOS -- 05/08/2002 - 08:42 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Eu sou o “Zé das Candongas” das brincadeiras dos rapazes da região. Era atrapalhado e não raciocinava direito, motivo pelo qual arreliavam comigo, embora me estimassem por ser de boa índole.

Como melhorei tanto, tendo vivido quase dezessete anos, atabalhoado e improdutivo, terminando por morrer afogado, incapaz de me movimentar na água pelo desespero da situação inusitada?

É história de difícil explicação.

Na vida anterior, fora correto no pensar, dedicando-me ao jornalismo. Sabia manter o interesse nos textos, tanto que me projetei internacionalmente. Mas não tive peias morais e me arrisquei em artigos em que denegri a personalidade de pessoas probas, no intuito de vender jornais por meios sensacionalistas.

É rocambolesco, reconheço, mas acabei solicitando para o encarne seguinte a modéstia intelectual dos despretensiosos, para forçar-me a ver o mundo por ângulo em que a cobiça, a ganância e o poder não atuassem na linha de frente dos embates pela sobrevivência.

Não há como não reconhecer que, no íntimo, buscava vencer, empregando, sutilmente, os mesmos conceitos que desejava ver anulados no caráter. As coisas correm segundo a vontade do Pai, mesmo que à revelia dos arranjos imaginosos dos que pretendem desviar-se do enfrentamento, indo por ínvios caminhos, mas tranqüilos e generosos. Em suma, desejava melhorar sem o ônus do trabalho. Um sujeito simples e sem problemas, um “Zé das Candongas” me serviria para o efeito da superação dos problemas.

Eis a falsidade posta em ação.

Ainda bem que o acaso encurtou a permanência nessa ilusão de engrandecimento sem esforços.

É de interesse informar aos leitores que, durante o sono, recuperava a lucidez e tratava exatamente desses temas com os diligentes e meticulosos orientadores, que me advertiam para a sagacidade da postura para a reencarnação. Perguntava-lhes por que me haviam facilitado o entrosamento da vida com a vontade distorcida do “intelectualóide” falido. E eles me apontavam para os resultados que ia obtendo, nas experiências como José Carlos, o trapalhão imbecilizado que me representara a figura da redenção.

Eu, acordado, vivia em plena felicidade mental e corpórea, sem noção dos valores em que me metera junto a sociedade estuante de vida e necessitada de almas fortes, para o direcionar cristão. Alheara-me, na verdade, dos problemas da humanidade. Pensara estritamente em mim e pagava, na consciência desperta pelas elucidações noturnas, o pecado do egoísmo.

Durante algum tempo, suspeitei de que me havia atirado nas águas do rio de propósito, com o fito de suicidar-me. Não pela intenção da mente obnubilada do debilóide em que me transformara, pretensioso. Mas pela predisposição do espírito envergonhado de estar tão profundamente equivocado.

Essa idéia atormentou-me bastante, no entanto terminei concluindo que o pior suicídio fora o contrário, isto é, o fato de me haver imerso na carne sem os atributos que possuía em larga escala e que pretendera ocultar, para o efeito de receber a misericórdia do acréscimo.

Como pude errar tanto anteriormente, pela crítica que hoje faço? Será que terei, na justa medida, a concepção de que agora estou certo? O que me fez melhorar, a ponto de ser capaz de exame tão arguto do caráter e das ações morais em detrimento das virtudes que não adquiri e que reconheço como imprescindíveis?

Não posso dizer que tenha chegado até aqui sozinho. Fui apaniguado pela benemerência dos protetores, que me introduziram nesta instituição escolar, e pelo Mestre José, querido xará, que me tem dedicado largo tempo em explicações de transcendental valor evangélico. A bem da verdade, o que faz ele não é nada mais nada menos do que me comprovar que todos os ensinos de Jesus estão profundamente arraigados na memória, sob o entulho, diria melhor, sob os escombros de diversas vidas, em que os males do egoísmo se sobrepuseram à palavra aprendida na escolaridade superior de um seminário e de um pastoreio que se perderam pelos vícios.

Disse e repito que as explicações são complexas e rocambolescas. Que fique registrado, porém, que nem sempre os débeis mentais logram encarnações produtivas do ponto de vista moral. Ao contrário, a cada regresso ao etéreo, devem refazer todo o aprendizado anterior, para o aproveitamento mínimo de sacrifício quase sempre de tonalidade egoística, dado que sem proveito para a prática do bem e para o crescimento das virtudes.

Amemos profundamente quem se tenha arrojado a essa apresentação dolorosa perante o povo, dado que sempre existe humilhação para os “zés das candongas”, quando alvos dos motejos ridicularizantes da população não evangelizada. Mas respeitemos, também, os que têm o sofrimento introjetado pela vivência intelectualizada e que não percebem o mal que praticam, quando interesseiros e cobiçosos. Todos merecem a nossa oração mais sagrada, todos irmãos nossos a caminho da perfeição.

Jornalista que fui, sei que está na hora de encerrar a peroração, que o público se cansa, quando os dizeres começam a afetá-lo no sensível ponto dos reconhecimentos desfavoráveis. Contudo, seria pretensioso, se lhes pedisse para se considerarem filhos diletos de Deus e suficientemente esclarecidos para perceberem que ninguém é perfeito, ou não estariam nessa peregrinação na carne? Vamos contentar-nos com o que temos, se o que temos está profundamente enraizado nos ensinos do Mestre. Se não estiver, por que estamos lendo estes depoimentos sofridos? Uma pontinha de verdade evangélica poderá ser o início da caminhada com Jesus. Resignemo-nos, pois, a cumprir, daqui por diante, as obrigações cármicas, em nome de Deus. Não tivemos passado de dor, de vícios, de débitos, se fizermos do presente a dádiva para a redenção e se estipularmos que o futuro será glorioso, na companhia dos sábios instrutores espirituais, que saberão guiar-nos, para a compreensão do que nos falta e para a aquisição de todas as virtudes.

Estava na hora de encerrar um parágrafo atrás. Se exorbito os limites do bom senso, se prejudico, por excesso, as belas páginas que se leram e que se lerão em seguida, se pretendo espicaçar um pouco mais o orgulho de quem não soube conter-se perante o destino, que exigia reparação e renúncia, faço-o no intuito de transformar os sentimentos de gratidão, de respeito, de admiração aos mestres e aos santos, em prece ao Pai, para que nos abençoe a todos e nos possibilite compreender a verdade, para a glória da criação. Assim seja.

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