Usina de Letras
Usina de Letras
255 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62171 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50576)

Humor (20028)

Infantil (5423)

Infanto Juvenil (4756)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->O Combate do Boqueirão -- 28/07/2008 - 23:44 (Academia Passo-Fundense de Letras) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Combate do Boqueirão



Paulo Monteiro





A política passo-fundense caracteriza-se pela violência. No século XIX, conservadores e liberais comportavam-se como verdadeiros bandos em guerra. Os primeiros, liderados por Gervázio Luccas Annes, quase sempre na oposição, eram os que mais apanhavam; os segundos, capitaneados por Antônio Ferreira Prestes Guimarães, impunham, por todos os meios, seu domínio.

Quando assumiram o poder, quase no final do Império, os gervazistas, impuseram violenta repressão aos adversários. Pouco depois, os liberais retomaram o domínio da situação, e foram à revanche. Sentindo que o governo dos Bragança estavam com seus dias contados, e que a República era inevitável, os conservadores aderiram ao Partido Republicano Rio-Grandense.

A 15 de novembro de 1889, proclamada a República, após um breve período de acordo, os cristãos-novos do republicanismo assumiram o controle pleno da situação impondo-se a ferro e fogo. E a política ficou ainda pior do que era antes. Bandos armados passaram a disputar o poder político local. A violência aumentou e a cidade foi tomada e retomada pelos caudilhetes de um e de outro lado, segundo alternavam-se os grupos no governo estadual.

Assim, em princípios de 1893 a repressão aos federalistas era muito grande em Passo Fundo, Palmeira das Missões e Soledade. Quem não podia ou não queria migrar para outros estados ou emigrar para o exterior refugiava-se no interior das serras e florestas, armava-se como podia, oferecendo a resistência possível.

A perseguição atingia até mesmo presos comuns. Vários deles foram levados para os matos existentes nos Valinhos e covardemente massacrados,

Registram-se fatos incríveis desses tempos sangrentos.

O general maragato Antônio Ferreira Prestes Guimarães escreveu que alguns desses presos eram mulheres. Uma delas, grávida, reconhecendo no chefe dos mascarados que a retiraram da cadeia, o avô da criança que trazia no ventre, implorou pela própria vida e a do filho. O próprio líder do bando que, segundo a tradição maragata, seria irmão do coronel Gervazio Luccas Annes, abriu a barriga da infeliz, arrancando a criança. Reconhecendo, pelos cabelos cor de fogo, que era seu neto, fez dar sepultura decente à pequena vítima.

A resistência às arbitrariedades era comandada por Elisário Ferreira Prestes, Amâncio d’Oliveira Cardoso, Veríssimo Ignácio da Veiga, Pedro Bueno de Quadros, José Antônio de Souza, mais conhecido como Palmeira e José Borges Vieira.

Em meados de abril de 1893 José Antônio de Souza e Elisário Ferreira Prestes, à frente de 350 homens aproximaram-se de Soledade. Essa aproximação bastou para que o intendente Aldino Loureiro e uma guarnição de 300 homens abandonassem a cidade.

Elisário Prestes e Palmeira, uma vez dominada Soledade, investiram contra Passo Fundo. No caminho receberam a adesão de aproximadamente 600 combatentes, comandados por Amâncio d`Oliveira Cardoso. Ao aproximarem-se de Passo Fundo, o intendente Gervazio Luccas Annes e uma força de 400 homens, fortemente armados, sob o comando do capitão Eleutherio dos Santos, não quiseram oferecer resistência, preferindo retirar-se na direção de Cruz Alta, no dia 30 daquele mês de maio.

Com a cidade em mãos dos rebeldes, aumentou a concentração dos simpatizantes da causa vitoriosa que se apresentaram para a luta.

O domínio federalista seria muito breve. No dia 4 de junho já eram mais de mil combatentes, precariamente armados e sem nenhuma instrução militar, quando os republicanos, reforçados por forças cruz-altenses voltaram para retomar a cidade.

A força republicana, composta de 290 homens de Passo Fundo, mais um reforço de 80 cruz-altenses sob o comando do coronel Afonso Jacinto, conseguiu aproximar-se, protegida por uma forte cerração. Encontrou os federalistas à entrada da cidade.

Os atacantes formaram uma linha de infantaria, à direita, sob o comando do major Eduardo de Brito, atacando de flanco os defensores da cidade, Pelo centro, o ataque foi comandado pelo coronel Gervazio Luccas Annes e pelo capitão Eleutherio, da Brigada Militar. Os atacantes postaram, ainda, dois esquadrões de cavalaria à esquerda, comandados pelos coronéis Pedro Lopes de Oliveira e Afonso Jacinto, prontos para enfrentar a cavalaria maragata que avançava das imediações do Capão do Bugio (hoje Loteamento São Bento), tendo à frente o coronel Elisário Ferreira Prestes.

Os federalistas investiram contra o centro dos republicanas com uma carga de cavalaria, para partir a força adversária. Foi impossível. A fuzilaria dos homens de Eduardo de Brito e Gervazio Annes causou pesadas perdas na cavalaria maragata. Esta recuou. Enquanto isso, o flanco esquerdo dos republicanos fez retroceder a cavalaria que descia dos lados da atual Vila Vera Cruz, sob o comando de Elisário ferreira Prestes.

O combate do Boqueirão, travado na manhã de 4 de junho de 1893, não durou mais do que meia hora. Deixou, segundo a historiadora Delma Rosendo Gehn, um saldo de 25 federalistas mortos, no confronto, e seis na retirada, além de um elevado número de feridos. Os republicanos tiveram três mortos e dez feridos. Prestes Guimarães oferece números diferentes: nove mortos e três feridos, entre os federalistas, e três mortos e um número ignorado de feridos entre os vencedores.

A autora de “Passo Fundo Através do Tempo” narra que Elisário Ferreira Prestes, ante a impossibilidade de operar com sua cavalaria, foi o primeiro a abandonar o campo da luta, rumando em direção de Soledade. José Antônio de Souza, o Palmeira, seguiu atrás com seus comandados. Amâncio d`Oliveira Cardoso, pela Rua do Comércio, atual Avenida Brasil, foi perseguido até além da cidade, que não passava da Rua da Igreja, atual Coronel Chicuta.

Prestes Guimarães afirma que apenas uma “vanguarda de menos de 200 homens das forças libertadoras” enfrentou os republicanos. Palmeira teria se oposto a uma formar resistência e que, por isso, se retirou para Soledade, sendo seguido por outros combatentes. Conta que Elisário Ferreira Prestes e Amâncio d`Oliveira Cardoso, desgostosos com a situação, dissolveram suas forças.

Com a vitória republicana, as forças revolucionárias acabaram sendo desmobilizadas, restando apenas uma tropa de 150 homens, acampada no Campo do Meio e que seriam derrotados poucos dias depois.

O combate do Boqueirão foi o primeiro dos encontros bélicos de proporções maiores ocorridos em Passo Fundo durante a Revolução Federalista. Em outubro de 1893, o Exército Libertador comandado por Gomercindo Saraiva e Luiz Alves de Oliveira Salgado, cruzaria por Passo Fundo rumo ao Paraná, mudando o epicentro revolucionário, no Estado para nossa região. Aqui ocorreriam diversos combates, culminando com a Batalha do Pulador, no dia 27 de junho de 1894, onde foi decidida a sorte daquele movimento armado.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui