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Artigos-->Os Dois Manifestos Fedralistas -- 28/07/2008 - 16:04 (Academia Passo-Fundense de Letras) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os Dois Manifestos Fedralistas



Paulo Monteiro (*)



O Memorial do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul está prestando um grande serviço à história e à cultura do Estado ao publicar algumas obras e reeditar outras importantes para o entendimento da vida rio-grandense do Sul.

Dentre as obras novas os dois volumes sob o título comum de DIÁRIOS DA REVOLUÇÃO DE 1893, publicados no ano passado, contribuem para um melhor entendimento daquela verdadeira guerra fratricida. O tomo I reúne documentos de Francisco da Silva Tavares, advogado e político proeminente do Rio Grande do Sul, durante o Segundo Império; o tomo II documentos do General João Nunes da Silva Tavares (Joca Tavares), veterano da Revolução Farroupilha e da Guerra do Paraguai, escolhido por Gaspar da Silveira Martins para o comandante em chefe da Revolução Federalista.

Os diários de Francisco da Silva Tavares e de seu irmão mais velho tiveram como organizadores Coralio Bragança Pardo Cabeda, Gunter Axt e Ricardo Vaz Seeling, crescendo em importância para a historiografia do Rio Grande pelo fato de que os irmãos Tavares desempenharam papel saliente naquele movimento armado. Se o Tavares mais velho foi o comandante militar máximo do movimento e o mais novo se destacou nas articulações que levaram à pacificação do Rio Grande.

Quero, como simples demonstrativo da importância dos Diários transcrever um documento que deu muitos panos para manga, o manifesto lançado pelo general Joca Tavares a 5 de fevereiro de 1893, quando o coronel Gomercindo Saraiva invadiu o Rio Grande do Sul.

“Cidadãos, às armas!

Os inimigos da Pátria, arvorados em governo legal, implantaram nela o terror como meio de ação, lançaram mão do punhal para matar em plena paz; das Comblains para assaltar casas de famílias e do saque para saciar sua voracidade.

A imprensa clamou contra essas atrocidades, tendo como resposta única o tripudiar de algozes sobre os cadáveres das vítimas. O Rio Grande, Pátria de heróis, está convertido em terra de escravos. Qualquer esbirro penetra nos lares matando os chefes de família, ferindo mulheres e crianças a tiros de revólver.

A estatística de crimes registrou fatos tão atrozes como os praticados em plena paz, depois da rendição de Bagé, não tendo inimigo a combater em parte alguma do Estado.

O nosso patriotismo aconselhou o desarmamento para evitar a luta fratricida, porém o mau instinto de adversários desleais, se prevalecendo da ocasião para matar, regando de sangue e lágrimas o solo Rio-Grandense.

Há 8 longos meses que muitos de nossos irmão amargaram no exílio o pão duro da necessidade, sofrendo vexames que lhes impõe nas cidades, e outros, errantes pelas matas, fogem ao punhal homicida. Para acabar com esse estado de coisas, já não há para quem apelar.

Os nossos brados, os gemidos das viúvas, e dos órfãos não são ouvidos pelos dominadores que se banqueteiam nos Palácios.

O único recurso que nos resta é conquistarmos a liberdade da nossa terra pelo brilho das nossas armas.

Concidadãos!!

A Nação inteira e os povos cultos têm neste momento os olhos voltados para nós.

Povo de heróis sempre habituados a libertar dos seus tiranos a humanidade extraviada, mostrai-vos dignos da herança de glórias, legados pelos nossos antepassados, libertando à nossa terra do odiento jugo que a oprime.

Lutemos Cidadãos!!

A nossa causa é justa porque queremos reconstruir a nossa Pátria sobre lares de liberdade; é nobre porque é a causa da humanidade; é grande porque é a causa de um povo inteiro que tem sede de justiça e que clama pelo império da lei, hoje calcada aos pés pelos agentes do poder público.

Às armas Compatriotas!!

Lutemos pela Liberdade da Pátria e Deus será conosco!

Viva o Rio Grande do Sul!

Viva o Exército Libertador!

Viva Partido Federalista!

O General em Chefe João N. da Silva Tavares – Acampamento na Carpintaria, 5 de Fevereiro de 1893.”

O documento acima é transcrito às páginas 16 e 17, como nota, no volume com os Diários de Joca Tavares, mas opto, para divisão em parágrafos utilizada às páginas 112 e 113 de Gumersindo Saraiva: o guerrilheiro pampeano, de Sejanes Dornelles (EDUCS, Caxias do Sul, 1988).

Esse manifesto de Joca Tavares é um documento enérgico. Nele o experimentado comandante de armas denuncia com clareza as violências cometidas no Rio Grande do Sul, que se avolumam com a subida ao poder do núcleo republicano-positivista engrossado pela oposição conservadora.

A ditadura castilhista é apenas o instrumento, a ferramenta usada pela elite originária do Partido Conservador para efetuar um verdadeiro ajuste de contas com os federalistas, em sua maioria, ex-integrantes do Partido Liberal.

O texto da proclamação alcançou ampla repercussão, muito menos pelo seu próprio conteúdo do que pela amplificação conferida pelos adversários políticos. O fato de não acabar por um “Viva a República!” foi transformado usado como prova de que a Revolução era monarquista. Também deve ter provocado oposição dentro do próprio Exército Revolucionário tanto que no dia 10 de março Silveira Martins envia correspondência a Joca Tavares, onde dizia: “... conta-me que aparecem descontentamentos no Exército revolucionário; tenha V. Exa. Paciência que em todos os tempos homens foram assim mesmo, e as coisas assim se passam (...)”, hipotecava integral apoio ao general aconselhava no sentido de que “é preciso levar o alento aos companheiros do coração do Estado, marchar, manobrar e fatigar o inimigo que não tem resistência nem capacidade de estar em campanha e só pode viver dentro das trincheiras, o que lhes tira toda a força moral”.

No dia 15 de março de 1893 era lançado um segundo manifesto, assinado pelas mais expressivas lideranças militares da Revolução e com um “Viva a República”. Adoto a mesma divisão em parágrafos do usada no livro de Sejanes Dornelles (pp. 112 a 116), mas conservando passagens que faltam na obra do escritor quaraiense, onde constam, ainda, os nomes dos majores Luiz Barcelos e Pedro Diogo. Ei-lo:

“À Nação Brasileira

Os povos oprimidos em armas no Estado do Rio Grande do Sul, estão sendo injusta e atrozmente caluniados em seus nobres e alentados intuitos patrióticos. Nossos adversários, com o desígnio pérfido de tornar antipática à opinião a revolução Rio-Grandense, apontam-nos ao país como restauradores da Monarquia! É uma monstruosa calúnia! É uma torpe e miserável especulação!

Não! O objetivo dos revolucionários rio-grandenses, não é a restauração da Monarquia, é libertar o Rio Grande da tirania que há oito meses a oprime, restabelecendo a garantia de todos os direitos individuais, é acabar com o regime das perseguições, das violências inauditas, do latrocínio, do saque e do assassinato oficial, que desgraçadamente tem sido apoiado pelo governo do Marechal Floriano Peixoto.

É este o fanal que guia os Revolucionários Rio-Grandenses, cuja causa não pode ser mais sagrada nem mais humanitária.

O País inteiro tem sido testemunha dos horrores que há oito longos meses têm se praticado no Rio Grande, onde o barbarismo do governo chegou ao extremo de mandar fuzilar, pelas costas, em suas próprias casas, a dignos e respeitáveis cidadãos, arrancando outros do seio de suas famílias para mandar assassiná-los na lúgubre solidão dos matos.

E agora, para coonestar o seu apoio a um governo cujo programa oficial parece ser o extermínio dos adversários pelo saque e o assassinato, e tornar a justiça e santidade da nossa causa antipática à nação, atirando-nos a pecha de restauradores!

Mentira!

Queremos a restauração da lei, do direito, da justiça, da segurança à liberdade, aos bens e à vida de todos os cidadãos.

Lamentamos que os nossos irmãos do Norte acreditem, em mais esta perfídia oficial, inventada para desnaturar os intuitos patrióticos do único direito que resta a um povo oprimido: a revolução. Ainda com mais profunda dor da alma deploramos que esteja servindo de algoz das liberdades rio-grandenses o Exército Nacional.

Esse Exército que devia merecer-nos tanto respeito e para o qual fomos tão generosos depois da vitória de D. Pedrito, onde apenas duzentos atiradores das forças revolucionárias entraram em ação, vencendo a guarnição composta do 6º Regimento e populares que depuseram armas e munições em número de quatro mil tiros.

Aos oficiais foi dado liberdade e concedidas vinte praças armadas para acompanhá-los; o restante filiou-se espontaneamente às nossas fileiras. Infelizmente, parece que o Marechal Floriano não quer no Rio Grande o governo da opinião e, sim, governo que se escude puramente na força material, quer, finalmente, esmagar o Rio Grande do Sul.

Se não fosse isso, já estaria brilhantemente triunfante a revolução rio-grandense. De qualquer forma, lutaremos, ainda mesmo com o Exército, já que o Exército quer ser algoz da liberdade rio-grandense.

Se sucumbirmos na luta, restar-nos-á o consolo supremo de termos defendido com o sacrifício da própria vida, o penhor sagrado que nos foi legado pelos nossos antepassados: o amor à liberdade. E a esses que querem governar com o apoio exclusivo da força material, o labéu infamante de serem os coveiros das tradições gloriosas e da altivez indômita do povo rio-grandense.

O Rio Grande ficará sendo terra de escravos, mas nós não sobreviveremos a tanta vergonha e ignomínia. O nosso sangue será, um dia, o signo da Redenção.

Viva a República!

Viva a Nação Brasileira!

Viva o heróico povo Rio-Grandense!

Quartel general do Exército Libertador no município de Santana do Livramento, 15 de março de 1893.

General João Nunes da Silva Tavares – Rafael Cabeda – Coronel José Maria Guerreiro Victória – Coronel José Bonifácio da Silva Tavares – Coronel Laurentino Pinto Filho – Coronel Antonio Barbosa Neto – Coronel Marcelino Pina d’Albuquerque – Coronel Gumercindo Saraiva - Coronel Domingos Ferreira Gonçalves – Coronel João Maria Epaminondas de Arruda – Coronel Ladislau Amaro da Silveira – Coronel Joaquim Nunes Garcia – Coronel Juvêncio Soares de Azambuja – Coronel Antero Anselmo da Cunha – Coronel Antonio M. França – Coronel Daniel Costa – Coronel José Serafim de Castilho – Coronel Antônio Ferreira Prestes Guimarães – Coronel David José Martins – Coronel Manoel machado Soares – Tenentes-Coronéis: Procópio Gomes de Mello – Estácio Azambuja – Tomás Mércio Pereira – João de Deus Ferreira – Vasco Martins – Gaspar Sérgio Luís Barreto – José Bernardino Jardim de Menezes – Israel Caldeira – Francisco Vaz – Malaquias Pereira da Costa – Torquato José Severo – Lídio P. Soares – Alexandre José Collares – João José Damasceno – Severino Coelho Brasil – João Barcellos de Oliveira – David Manoel da Silva – João Machado Pereira – Ulisses Reverbel – Sebastião Coelho Manoel Moreira da Fontoura – Felipe Nery Portinho – Boaventura Martins – João Alves Coelho de Moraes”.

Não adiantou. A campanha acusando os federalistas de defensores da restauração monárquica continuou anos a fio. Três décadas e meia depois Othelo Rosa (Júlio de Castilhos, Livraria do Globo, Porto Alegre, 1928, p. 186 e segs., da primeira parte), mantinha-se fiel ao discurso castilhista. Para esse historiador o motivo principal da Revolução Federalista era instaurar o Terceiro Império no Brasil...

Os manifestos são importantes, ainda, porque deixam claras as causas do movimento, fundamentalmente políticas. O discurso empregado nos documentos é meridianamente claro.

(*) Paulo Monteiro pertence à Academia Passo-Fundense de Letras e à Academia Literária Gaúcha e a outras entidades culturas do Brasil e Exterior. Desde 1974 exerce o jornalismo em Passo Fundo, sendo autor de centenas de artigos sobre temas literários, culturais e históricos.



Comentarios

Miriam Freitas  - 23/07/2019

Texto necessário porque obscurecido pelas manipulações do poder.
A história dos vencidos, por eles mesmos.
Parabéns pela iniciativa !

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