----- Ora esplêndida, ora abominável, a nossa vida, a de cada um de nós, é racionalmente mesurável pelos valores (!) materiais que cada um de nós também presume saber avaliar. É exactamente neste importante pormenor que o estranho e complexo busílis da existência humana se concentra.
----- De criança, trago viva ainda a imagem do Leitinho, filho dum abastado doutor, que me dava a ideia de estar esplêndidamente face ao que eu julgava ser o meu abominável estado. Era o dono da bola e colocava-me ou retirava-me a esférica atracção consoante lhe desse na veneta.
----- Um dado dia, num ímpeto vindo não sei donde, enviei-lhe um punho ao nariz e deixei-o estupefacto, sangrando a jorro, a olhar para mim. Nunca mais, a partir dali e enquanto estudamos os dois, o José Campos de Vasconcelos Leite (o que será feito dele?) me negou ou deixou de partilhar comigo fosse o que de seu fosse. Passei a ser o seu dilecto companheiro!
----- No café da esquina, onde tomo café, escrevo e coço a cabeça, pára um tipo que se faz acompanhar exuberantemente duma bruta miúda, daquelas que fazem sair os olhos e não há como detê-los.
----- Ao correr dos dias, constatei que o esplêndido pulhinha anda a confrontar os abomináveis sacanas que olham desorbitados para o monumento carnal que traz mão na mão: ora põe a bola, ora tira a bola!
----- O Tuninho (*) doutras épocas já me surgiu por diversas vezes no cérebro a reclamar pronta reposição do saudoso feito boxeador: - Anda, estúpido senil, dá-lhe, porque esperas?
----- Bem... A vida será assim?
(*)- Baptismo milenar.
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