Sim. Um Poeta, um místico, um pensador paradoxal, um mestre da paradoxia. Um homem de idéias. Um acadêmico ambulante. Um educador da inteligência. Um revolucionário das nobres formas de viver.
"Agostinho da Silva foi um dos intelectuais que mais influência tiveram na sua época.Teve um papel importantíssimo na criação da Universidade de Brasília, foi durante longo tempo o guru cultural da Bahia. Deixou por todo o lugar por onde passou um rastro de saber e de grandeza. O seu fascínio e o seu carisma impressionavam quem o escutasse, homens e mulheres" (Escritor João Alves das Neves-São Paulo).
Agostinho da Silva nasceu na cidade do Porto, Portugal, a 13 de fevereiro de 1906. Foi professor na Faculdade de Letras onde fundou o Núcleo Pedagógico Antero de Quental. Deixou Portugal e estabeleceu sua irradiação cultural pelo mundo a partir do Brasil.
Após uns tempos em Madri, foi depois para a Sorbonne, em Paris.Aos 38 anos parte para um demorado périplo pela América do Sul, onde se dedicou ao ensino, à tradução e à publicação de artigos, e livros, sendo também um exímio conferencista, que tinha como principal meta comunicar pedagogicamente seu pensamento humanista sem radicalismo ideológico, mas "profundamente rebelde e diverso" por muitos lugares importantes do mundo ocidental e oriental por onde andou. O seu trabalho em universidades como as do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Paraná, Brasília e Bahia, não o impediu de estar também no Uruguay e na Argentina, conforme está registrado em suas Lembranças sul-americanas. Mas sua peregrinação intelectual de mestre chegou até às universidades do Japão e dos Estados Unidos da América. Pensador crítico é autor de um livro sobre a figura literária de Fernando Pessoa. Tradutor dos grandes classícos da literatura Latina, deixou-nos preciosos testemunhos de hermeneuta da história. Foi notável seu entusiasmo como divulgador da crença na peculiaridade da comunidade da Língua portuguesa no mundo. Foi criador e propulsionador da idéia da lusofonia, defensor do papel do Brasil na comunidade dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP,) pioneiro da idéia de um Instituto Internacional de Língua Portuguesa, guru das mentes jovens que ansiosamente o cercavam para ouvirem suas mensagens, seja em palestras seja em debates na TV. Grande foi o acervo que nos legou. Mestre da paradoxia, como o definiu um conhecido professor universitário, Agostinho, para além de fecundos e diversos pensamentos não escritos com que privilegiou sua roda de amigos, divulgou seu pensamento em escritos familiares como Volta ao Mundo, Aproximações, Cartas várias, Considerações e outros textos e Cadernos, Dez notas sobre o culto popular do Espírito Santo. Várias editoras estão lançando hoje, no Brasil e em Portugal sua obra principal e está sendo produzido um grande filme e uma bibliografia selecionada de depoimentos e de imagens promovida pela Fundação do Desenvolvimento da Língua Portuguesa, com sede em Lisboa. Em Brasília, Henrik Siewierski publicou em 1994, "A Vida conversável", um livro de entrevistas com Agostinho da Silva. Por sua vez, a Academia Lusíada de Ciências, Letras e Artes de S.Paulo publicou, em 2000, o volume "Agostinho" com a colaboração de muitos intelectuais da sua roda de amizades. Mas há muitos e muitos estudos surgindo hoje que estão surpreendendo pelo rico pensamento deste pensador.
Queremos homenagear sua memória no site Usinadeletras com a republicação de um de seus inúmeros poemas - "Viva a Vida".
VIVA A VIDA
Viva a vida disse a vida
e nunca mais se morreu
Deus em si nos retomando
o tempo eterno nos deu
nunca mais fomos poetas
que era coisa de sofrer
agora somos poemas
Como Ele é de sempre ser
nunca mais fomos crianças
distantes de ter crescido
com saudades de um passado
para nós sempre vivido
nem do futuro ansiosos
pois o temos no passado
nem de espaços repartidos
se faz o mundo sonhado
se sonhamos ou vivemos
é pergunta que sumiu
a ser viemos de estar
o presente ninguém viu
só porque ousamos querer
esse querer não querendo
e fomos fazendo o feito
esse fazer não fazendo.
[AGOSTINHO DA SILVA]
(Poema extraído do livro "AGOSTINHO". São Paulo:Editora Green Forest do Brasil, 2000, pp.2365-266)