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Artigos-->A Maldição do Monge -- 25/07/2008 - 11:34 (Academia Passo-Fundense de Letras) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Maldição do Monge

(Lenda asso-Fundense)



Paulo Monteiro

(Da Academia Passo-Fundense de Letras e da Academia Literária Gaúcha)



Ninguém consegue explicar como as lendas se formam. O certo é que elas sempre têm um pé fincado no real. Parecem explicar simbolicamente uma realidade histórica, muitas vezes ignorada pelos historiadores. É o caso do Negrinho do Pastoreio, imortalizado pela arte literária de Simões Lopes Neto, ao enfeitar o conto original com o marianismo.

Passo Fundo tem uma lenda, pouco divulgada, envolvendo uma ou mais figuras a merecer ou merecerem investigações aprofundadas de nossos historiadores regionais: o monge João Maria ou São João Maria. Sua existência é documentada.

À minha frente, falando desse beato, “Voluntários do Martírio”, livro de Ângelo Dourado, médico das tropas de Gomercindo Saraiva durante a Revolução de 1893 (fac-símile da edição de 1896, Martins Livreiro – Editor, Porto Alegre, 1979) e “Dicionário Sociolíngüístico Paranaense”, de Francisco Filipak (Imprensa Oficial do Paraná, Curitiba, 2002).

O último autor (Op. cit., p. 249) conta que, no Paraná, pareceram três monges. “O segundo monge foi Anastás Marcaf, que chegou à Lapa com as tropas de Gumercindo Saraiva, durante a Revolução Federalista em 1884. Imitou em tudo a João Maria d`Agostini e intitulava-se João Maria de Jesus”.

Se é que esse Anastás Marcaf chegou à Lapa com as tropas de Gomercindo foi em 1894. Não é, porém, o que se depreende do testemunho deixado por Ângelo Dourado. Nesta última data, um morro existente nos arredores da cidade paranaense de Lapa, já era conhecido como “serro do Monge” (Voluntários..., p. 225). Algum outro ermitão, talvez o primeiro João Maria, deve Ter estanciado por ali.

Não quero entrar nessas sutilezas históricas. Retorno a Ângelo Dourado que viveu na época do surgimento da lenda passo-fundense. Ele nos relata (p. 218 e segs.) que retornando do Paraná, quase na divisa com o Rio Grande, chegaram a uma aldeia onde “Começam os domínios de um célebre monge que tem percorrido toda a região missioneira, plantando cruzes em frente das casas, designando árvores, que dizem ser sagradas onde os crentes habitantes destas regiões vão em certas noites rezar, levando cada qual um rolo de cera que acendem ali”.

O médico federalista foi conhecer o célebre monge apenas nos primeiros dias de julho, já nas proximidades de Soledade, e depois da Batalha do Pulador (27 de junho de 1894). Conta que o eremita, ainda jovem, era simpático aos revolucionários, chegando a acompanhar pelo menos um combate. Ângelo Dourado, porém, não dá nenhum testemunho pessoal dessa assistência. Com certeza o louco, como o médico define o religioso, não acompanhou as forças de Gomercindo ao Paraná. Verdade é que prestava culto a Santo Antão, tanto que edificou uma capela a esse velho monge nas proximidades de Santa Maria, bem no coração do Rio Grande.

Há poucos quilômetros de Passo Fundo, às margens da velha estrada que levava ao Botucaraí, existe a localidade de Santo Antão, onde nasci, e uma igreja a ele consagrada. É perto dali que o monge teria lançado uma maldição contra Passo Fundo.

Contam os mais velhos que São João Maria (era assim que lhe chamavam) caminhava sempre se apoiando num cajado rústico de madeira, levando um cordeirinho branco sob o braço. Numa de suas andanças pela região pediu pousada em fazenda próxima ao Bom Recreio. Foi muito bem tratado. Os filhos do fazendeiro resolveram fazer uma maldade com o santo. À noite roubaram e decolaram o carneirinho. O peregrino levantou cedo e saiu tranqüilo. Os malandros ficaram observando, quando viram, ressuscitado, o animal correndo atrás do dono. Este, voltando-se, teria dito que pagariam muito caro pelo seu ato e que nada de bom prosperaria em Passo Fundo. Pior é que parece Ter funcionado a praga do anacoreta.

Os maldosos e seus descendentes perderam a vida faustosa e foram mourejar de sol a sol. Os capitais gerados no Município pela exploração da madeira, do trigo, da soja e de outras atividades têm migrado para enriquecer outras regiões. Prédios que antes abrigavam indústrias servem como pontos de promiscuidade e consumo de drogas.

Parece que ainda está por aparecer boca mais poderosa que a do São João Maria, capaz de quebrar a lendária maldição.



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