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Artigos-->ENRIQUE DUSSEL E O TEXTO DO EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO -- 18/06/2008 - 19:38 (Paccelli José Maracci Zahler) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Enrique Dussel e o texto do Exército Zapatista de Libertação Nacional



Paccelli José Maracci Zahler

Dussel tem uma preocupação com a maioria dos excluídos, que correspondem a 85 % da população mundial.

Reproduzo um texto da mensagem do Exército Zapatista de Libertação Nacional aos indígenas,falando da realidade daquele povo, retirado do livro de Dussel:



“Os mais velhos dos velhos de nossos povos nos falaram palavras que vinham de muito longe, de quando nossas vidas não eram, de quando nossa voz era calada. E caminhava a verdade nas palavras dos mais velhos dos velhos de nosso povo. E aprendemos em suas palavras que a longa noite de dor de nossa gente vinham das mãos e palavras dos poderosos, que nossa miséria era riqueza para uns quantos, que sobre os ossos e o pó de nossos antepassados e de nossos filhos se construiu uma casa para os poderosos, e que nessa casa não podia entrar o nosso passo, e que a abundância de sua mesa se enchia com o vazio de nossos estômagos, e que seus luxos eram paridos por nossa pobreza, e que a força de seus tetos e paredes se levantava sobre a fragilidade de nossos corpos, e que a saúde que enchia seus espaços vinha da morte nossa, e que a sabedoria que ali vivia de nossa ignorância se nutria, que a paz que a cobria era guerra para a nossa gente” (DUSSEL, 2002).



Tive a oportunidade, em 1994, de conhecer a região de Chiapas, no México, quartel general do Exército Zapatista de Libertação Nacional, no auge da atuação do subcomandante Marcos.

Fiquei um mês na cidade de Tapachula, perto da fronteira com a Guatemala, considerada uma das áreas mais pobres do México, com maioria da população indígena.

A cidade de Tapachula poderia ser comparada com Ciudad del Este no Paraguay, apesar de ter um movimento menor. Contudo, era e ainda deve ser mais policiada por ser uma das portas de entrada de imigrantes ilegais que se deslocam até o norte do México para tentar entrar nos EUA.

Em algumas barracas, era possível ver camisetas com a imagem do subcomandante Marcos e seu inseparável cachimbo e, em alguns locais, já estavam vendendo bonecos artesanais do referido personagem.

Posso dizer que, apesar da pobreza da região, eu vi a parte boa. Segundo me falaram, a parte pior estaria no interior. Isso pode ser comparado com as nossas cidades do nordeste. Quem vai às capitais, vê luxo e glamour. No interior, a seca, a fome, a enfermidade, a mortalidade infantil.

Esse tipo de ambiente, formado por excluídos, é o ideal para o surgimento de movimentos armados porque os comandantes dão ao povo da região aquilo que as autoridades competentes não dão: abrigo e comida. Sem falar na doutrinação.

Começa a surgir a idéia de um movimento separatista que vai ser combatido pelas forças do Estado.

Creio que aqui entra o pensamento de Dussel, alertando-nos e à sociedade para ouvir o que eles têm a dizer e buscar ações práticas para solucionar o problema. Eles são "o Outro", aquele que nos faz repensar o nosso egoísmo hedonista.

Para Dussel, "não se faz crítica do sistema que causa vítimas para que o excluído permaneça negado. Critica-se com vistas a sua libertação".

Diz ele: "(...) para que haja justiça, solidariedade, vontade diante das vítimas, é necessário `criticar` a ordem estabelecida para que a impossibilidade de viver destas vítimas se converta em possibilidade de viver e de viver melhor. Mas para isto é necessário `transformar` a ordem vigente; fazê-la crescer, criar o novo" (p. 70 da apostila).

Mas como transformar a ordem vigente e criar o novo?

A guerrilha usa o caminho das armas, do terror, dos atentados, dos seqüestros, para atingir o poder e tentar tornar a sociedade igualitária. Particularmente, eu acredito na educação. Somente a educação nos libertará, desde que voltada para o `Outro`, para o próximo, para a solidariedade, para a solução dos problemas.

Porém, existe a natureza humana a ser educada. Estamos presenciando operários no poder que em pouco tempo adotaram a ideologia das elites.Descobriram o conforto, as bebidas e charutos importados, as mordomias. E passaram a desdenhar do povo como outrora se sentiam desdenhados.

Tive a oportunidade de conhecer Cuba. Tenho profundo respeito e admiração pelo povo cubano, um povo criativo e trabalhador. Porém, lá também se formou uma elite ligada ao poder que tudo pode, tudo faz. Enquanto o restante da população passa necessidades.

Dussel chama a atenção de que "a luta para conseguir a libertação e para realizar a transformação das estruturas injustas que causam excluídos cabe, antes de tudo às próprias vítimas, à comunidade das vítimas".

Não somos nós que vamos ditar o que é melhor para os `excluídos`, para as `vítimas`, nós, segundo Dussel, somente vamos poder intervir a partir da cultura e da posição das próprias vítimas.

O uso do texto do Exército Zapatista de Libertação Nacional por parte de Dussel é uma forma de mostrar que os `excluídos` também têm algo a nos dizer sobre a realidade deles e que devemos estar atentos para entender a sua cultura e a sua posição frente à sociedade em que vivemos.



BIBLIOGRAFIA CONSULTADA



DUSSEL, Enrique. Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. 671p.

UCB. UEA-04 – A superação da metafísica e a ética em alguns pensadores contemporâneos. Apostila do Curso de Especialização em Filosofia e Existência. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2008.







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