As Metralhadoras e os Quadrados do Pulador
Paulo Monteiro (*)
Tenho ouvido seguidamente que na Batalha do Pulador, travada no dia 27 de junho de 1894, entre a Divisão do Norte (de Rodrigues Lima e Pinheiro Machado) contra o 2º Exército Libertador (de Gomercindo Saraiva) e o Exército Libertador Serrano (de Prestes Guimarães), foram usadas metralhadoras e empregados quadrados de infantaria, pela primeira vez, em guerras civis brasileiras.
Nós, passo-fundenses, temos a mania de nos julgarmos mais, primeiros ou maiores em tudo. Somos a "Cidade Mais Gaúcha do Brasil", temos a "Porta Mais Alta do Rio Grande do Sul", somos a "Capital Nacional da Literatura", sem apresentarmos sequer um escritor de projeção estadual, e assim por diante.
Agora exibimos esses dois novos títulos.
Vejamo-los.
Sejanes Dornelles, em Gumersindo Saraiva - O Guerrilheiro Pampeano (EDUCS, Caxias do Sul, 1988, p. 135), falando sobre a Batalha Campal de Inhanduí, travada no dia 3 de maio de 1893, conta que os republicanos empregaram dez peças de artilharia, isto é, uma dezena de canhões e algumas metralhadoras contra as forças federalistas. O mesmo autor, na mesma obra (p. 150), historiando a Batalha Campal do Serro do Ouro, que aconteceu a 27 de agosto de 1893, informa que foram ouvidas metralhadoras, cujo som já era conhecido pelos revolucionários rio-grandenses.
Portanto, não foi a 27 de junho de 1894, nas coxilhas do Pulador, que a metralhadora (na verdade duas dessas armas) foi usada numa revolução brasileira. Há, pelo menos, os antecedentes de Inahnduí e Serro do Ouro.
Quanto à assertiva de que, na Batalha do Pulador, foi empregada, também pela primeira vez numa revolução brasileira, a tática dos quadrados de infantaria, é outra falácia.
A Brigada Santos Filho, a 27 de junho de 1894, já estava anexada à Divisão do Norte. Antes, porém, de sua inclusão às forças comandadas por Pinheiro Machado e Rodrigues Lima, a Brigada Santos Filho participou do Combate dos Valinhos, no dia 8 de fevereiro de 1894, aqui, em Passo Fundo, na coxilha que emprestou seu nome ao confronto.
Na oportunidade, um quadrado com cerca de quinhentos homens, a maior parte forças de Passo Fundo e Cruz Alta, resistiu, com pleno êxito, durante 45 minutos, a uma carga de cavalaria empregada por aproximadamente 300 maragatos de Passo Fundo e Soledade.
A carga de cavalaria constou de um choque dos lanceiros contra pica-pau, que não se abriu. Os maragatos usaram "seis de laço", ou seja, fizeram arrastões com laços amarrados a chinchas de dois cavalos, e não conseguiram romper o quadrado. E, por fim, a cavalo, pularam sobre o quadrado, como os camicazes japoneses da II Guerra contra os navios americanos. Nem assim puderam estourá-lo. Os milicianos deitavam-se ao chão, espetando cavalos e cavalarianos com sabres e baionetas. O quadrado continuou intacto.
Coimo vimos, os pica-paus já haviam testado metralhadoras e quadrados de infantaria antes da Batalha do Pulador. Não cabe a prioridade no uso desses elementos àquela batalha campal ocorrida em solo passo-fundense.
(*) Paulo Monteiro pertence à Academia Passo-Fundense de Letras, à Academia Literária Gaúcha e a diversas entidades culturais do Brasil e Exterior.
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