A Importância Histórica
da Batalha do Pulador
Paulo Monteiro (*)
A Revolução Federalista era até pouco tempo um tema proibido. Não oficialmente, por decreto ou lei, mas porque a maioria das famílias, em todo o Estado, e de maneira particular em Passo Fundo estiveram, de uma forma ou de outra, envolvidas naquela sangrenta conflagração armada.
Angelo Dourado, médico federalista, que acompanhava as tropas de Gomercindo Saraiva, a propósito, deixou um depoimento impressionante, ao contar que todas as famílias passo-fundenses tinham integrantes seus incorporados ao Exército Libertador Serrano, comandado pelo general Antônio Ferreira Prestes Guimarães, neto do cabo Manuel José das Neves, o fundador de Passo Fundo.
Em Passo Fundo, onde as rivalidades políticas, durante o império, entre liberais e conservadores eram intensas e violentas , essa animosidade exacerbou-se com a República. Os conservadores, sempre minoritários, liderados pelo coronel Gervazio Luccas Annes, cruz-altense que para cá se mudou com o objetivo de liderar seus companheiros de partido, bandearam-se com todas as armas, para a nova situação, radicalizando ainda mais os métodos usuais do fazer político. Chegaram a importar mercenários corrientinos , que cometeram violências e todo tipo de tropelias contra os antigos liberais.
Dados históricos disponíveis demonstram que, já em 1891 , grupos armados sob o comando de Prestes Guimarães, operavam em Passo Fundo. Assim, a Revolução, aqui nascida, acabou mudando seu epicentro para a Fronteira, única e exclusivamente por motivos estratégicos. E Prestes Guimarães, no posto de coronel, foi um dos primeiros e mais importantes chefes militares federalistas, quando o Exército Libertador, sob o comando geral do general Joca Tavares, passou a operar na Campanha.
Quando, enfrentando sérias dificuldades na Fronteira, o exército federalista de Gomercindo Saraiva decidiu rumar ao Paraná, em outubro de 1893, para dar apoio aos marinheiros sublevados contra Floriano Peixoto, a Revolução deslocou o seu centro para a Região de Passo Fundo. Aqui foram travados quatro grandes e importantes encontros militares: o combate do Umbu (16/01/1894), o combate dos Valinhos (8/02/1894), o combate dos Três Passos (6/06/1894) e a Batalha do Pulador (27/06/1894). Além disso ocorreram confrontos menores.
A Batalha do Pulador foi o mais importante de todos esses choques armados, pelo número de homens envolvidos diretamente na ação, o poder destruidor do armamento empregado e a quantidade de mortos.
Como já demonstrei em diversos artigos que venho publicando e no opúsculo A Batalha do Pulador, envolveram-se diretamente na ação 1.600 federalistas e 3.000 republicanos, totalizando 4.600 homens, pelo menos. Foram contados 1.024 mortos no local da batalha, afora um número incalculável de combatentes que morreram em conseqüência dos ferimentos recebidos em combate. O número de feridos que sobreviveram, também é incalculável.
Embora dos documentos republicanos contem vantagem para o seu lado, do ponto de vista militar, a vitória foi dos federalistas, que permaneceram no local. O coronel Verissimo Ignacio da Veiga, e seus lanceiros, ali pernoitaram, contaram os mortos e deram sepultura aos seus camaradas. Somente depois deixaram o local.
Terminada a batalha o resultado era este: as forças republicanas recuaram na direção de Cruz Alta, à espera de reforços, e as tropas revolucionárias, num movimento de semicírculo saíram pelo município de Soledade, reentrando em Passo Fundo, em Não-Me-Toque, daí seguindo a toda pressa rumo à Fronteira, onde esperavam apoio dos federalistas exilados.
O desfecho da história todos sabem. Os federalistas, em retirada, acabaram envolvidos por todos os lados, tanto pela Divisão do Norte, quanto por forças da Brigada Militar e provisórios sob o comando do senador e general Pinheiro Machado.
Moral da história: todos os historiadores isentos concordam que a Revolução Federalista foi decidida na Batalha do Pulador. Depois dela o que vimos foi o mais combativo exército revolucionário num recuo alucinado, acossado por todos os lados. A morte de Gomercindo Saraiva, a 10 de agosto de 1894, em Carovi, interior de Santiago, foi apenas um ponto final na História da Revolução Federalista. A tentativa posterior de reacender o movimento, com a tragédia de Campo Osório, foi apenas um pós-escrito.
(*) Paulo Monteiro pertence à Academia Passo-Fundense de Letras, à Academia Literária Gaúcha, ao Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana, à International Academy Of Letters Of England e a diversas instituições culturais do País. Exerce o jornalismo desde 1974, sendo autor de centenas de artigos sobre temas literários, culturais e históricos. O texto acima foi impresso e distribuído aos participantes da 3ª Semana Acadêmica de História da UPF, realizada entre 12 e 16 de setembro de 2005, sob o tema “A Revolução Federalista (1893-1895): epopéia ou tragédia?”
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