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Artigos-->O Humanismo Latino -- 10/06/2008 - 09:47 (Academia Passo-Fundense de Letras) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Humanismo Latino



Paulo Monteiro (*)



Há quase uma década intelectuais de todos os continentes têm dado continuidade a uma discussão iniciada em Treviso, na Itália, em novembro de 1977. O centro de toda essa mobilização chama-se humanismo latino. Em nosso país esse intenso debate está presente, materializando-se através de encontros e publicações.

O Rio Grande do Sul, onde imigrantes de origem italiana oferecem contribuição significativa para o povoamento e o desenvolvimento econômico, político e cultural, está integrado em toda essa ebulição intelectual.

A Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul contribui com essa discussão publicando obras que não podem ser ignoradas.

Em 2000 deu à lume Globalização e Humanismo Latino, organizado por Jayme Paviani e Arno Dal Ri Junior, reunindo uma seleção de conferências e comunicações apresentadas, entre 1997 e 2000, numa série de congressos realizados em diversas partes do mundo. Trata-se de livro básico para o entendimento do tema, em especial durante o início de toda essa mobilização. Em 2003 saiu As Fontes do Humanismo Latino, volume 1, organizado por Luiz Carlos Bombasssaro, Jayme Paviani e Paulo Luiz Zugno, apresentando biografias, seleção de textos, comentários sobre essas passagens, desde os pré-socráticos, até renascentistas como Dante, Petrarca, Erasmo de Rotterdam, Montaigne, Giordano Bruno e João Amós Comênio.

O volume 2 de As Fontes do Humanismo Latino foi publicado em 2004, escrito por Ricardo Timm de Souza, apresentando a obra de alguns dos pensadores mais importantes dos últimos dois séculos. Ali encontramos homens como Henri Bergson, Georg Hegel, Sören Kierkegaard, Karl Marx, Friedrich Nietzche, cujas idéias mobilizaram milhões de pessoas, no sentido real do termo. Nesse mesmo ano circula o volume 3 de As Fontes do Humanismo Latino, organizado por Luiz Carlos Bombassaro e Jayme Paviani, destacando escritores e pensadores latino-americanos, mormente brasileiros. Há referências a tudo, desde a carta de Pero Vaz de Caminha, comunicando o “descobrimento do Brasil”, passando por autores do período colonial, chegando a contemporâneos nossos. Infelizmente, o espaço conferido a autores latino-americanos é pequeno.

Ainda em 2004 sai As Interfaces do Humanismo Latino, organizado pelos mesmos responsáveis pelo primeiro volume da série, contendo artigos e ensaios de pesquisadores de diversas partes do mundo. Destacam-se os trabalhos na área do Direito, onde o peso do Corpus iuris civilis, codificação elaborada por Justiniano entre 527 e 53 da era cristã, é muito grande.

A leitura desses livros da EDIPUCRS despertou minha curiosidade para os temas neles inseridos. Tenho chamado a atenção das “associações de italianos” existentes em Passo Fundo para essa discussão que ocorre em todo o mundo. Infelizmente muitos desses meus amigos têm feito ouvidos de mercador. Parece que estão mais interessados numa disputa de beleza entre os grupos. E nem sempre o perfume usado é dos melhores, como o demonstram certas cartas anônimas que circulam pela cidade. Até para o entendimento desse espírito faccioso a leitura dos livros da EDIPUCRS é fundamental.

Como a Itália é uma criação recente, materializada com o que aparece nos livros de História Geral com o nome de Unificação Italiana, os imigrantes que aqui chegaram traziam nas mochilas o peso dessa divisão milenar. Eram famílias, representando estratos culturais diferentes, unidas apenas pelo “passaporte italiano”, que foram sendo distribuídas pelas colônias mais díspares. E é exatamente essa divisão quase que tribal que tem continuidade nas diversas associações que se digladiam entre si. Isso impede que assuntos verdadeiramente sérios sejam deixados de lado.

É quase unânime a concordância em que a grande contribuição do Império Romano, para o mundo foi a popularização da cultura grega. E isso não foi obra dos imperadores, dos patrícios, das classes dominantes. Foi a plebe, a soldadesca, o elemento que plasmou aquilo que se chama “civilização greco-romana”. Até mesmo as línguas neo-latinas, entre as quais se destacam o francês, o espanhol e o português, são obra da plebe. Tanto que a língua de Camões não descende diretamente do latim clássico, de Cícero e companhia, mas do latim vulgar.

Os romanos – que não produziram nenhum pensador à altura dos clássicos gregos – dividiam a humanidade entre o homo humanus, eles mesmos, os latinos e os gregos, e o homo barbarus, os demais povos. O que poderíamos resgatar como humanismo latino acabou sendo a grande obra das suas legiões. Mais do que pela força das armas, os soldados dos césares entraram para a História pela força do cruzamento com os “povos vencidos”; mais do que impor o governo dos poderosos, impuseram a sua a língua, isto é, a língua comum, o latim vulgar.

Como salientam os estudiosos do tema, o humanismo, a idéia de homem, assume “diversas modalidades de humanismo, como o anglo-saxão, o islâmico, o africano, o oriental, etc. e em vários tipos, como cristão, marxista, existencialista, etc.” (Jayme Paviani, O Humanismo Latino no Processo de Globalização, in Globalização e Humanismo latino, ed. cit., p. 27).

Faço uma conclamação a tantos quantos se preocupem com as verdadeiras ligações entre Brasil e Itália para que leiam – e mais do que ler procurem entender – esses livros com o selo da EDIPUCRS. E concito a todos aqueles que se indignam com a barbárie globalizada para que discutamos o humanismo. Por que não começarmos discutindo o humanismo latino.

(*) Paulo Monteiro, que exerce o jornalismo literário desde 1974, pertence à Academia Passo-Fundense de Letras, à Academia Literária Gaúcha e a outras entidades culturais do Brasil e do exterior. Endereço para correspondência: Paulo Monteiro – Caixa Postal 462 – CEP 99001-970 – Passo Fundo - RS

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