EM NOME DE ANTONIO *
A última vez que vi Toinho foi na praia do Janga, caminhando e isso era antes do século 21. Pachorrento, já não trazia consigo a alcunha de “gordo”. Falamo-nos como nos velhos tempos e depois nos despedimos. Eu estava desempenhando o papel de hóspede de uma pousada e não esperava jamais encontrar Toinho por aí. Mas ele morava ali e ali estava com sua forma de falar meneando às vezes a cabeça, com um certo ar de menino desamparado. Deu-me um cartão e em seguida visitei-o no escritório no centro do Recife, na época da produtora Saci. Tudo começou com nossa grande vontade de ser artista. Tudo começara com um coral, no qual ensaiávamos todos, sem exceção, com as partituras, eivadas de notinhas musicais, brancas e pretas. Isso acontecia na rua Jeriquiti, no bairro da Boa Vista. Ali moravam os Sá Leitão, de cuja voz grave, havia um certo Luís Mário, afinado e que adotara uma risada bastante peculiar. Depois do coral, viemos nós os BOSSANORTE: Toinho, Luís Mário, Fernando Alves, (exímio violonista), Zé Pedrosa e eu, esse cantor inveterado mas nem tanto. Foram meses e anos de arte, de viagens, de bossa-nova, de muito bom gosto instalado e de muita seriedade. Tanto que, um belo dia, conhecemos Agostinho. Agostinho dos Santos, um artista que conseguiu participar da primeira grande audição de bossa nova, nos fins dos anos 50, logo onde, no Carnegie Hall. Gravamos um belo programa na tevê Jornal do Comercio, canal 2, em cuja cópia, nunca pus as mãos nem sei se ainda existe. Esse o Brasil bossa nova, contraditório, irregistrável e impetuoso, feito um menino azogado querendo fazer o que não pode... mas deve! Toinho queria sempre alçar mais. E alçou. Um voo maravilhoso que aterrissou no QUINTETO VIOLADO, a trazer uma proposta de assentamento e resgate musical de guerra ao desvirtuamento da música brasileira. Zé Pedrosa se foi, assim como Deda, o irmão de Toinho, a quem conheci de perto e de cujo nome saudei numa capa de disco, a FLOR DO XIQUE-XIQUE. O que está feito, está. Luciano, Generino, Toinho filho, Marcelo Melo, afora aqueles que o conheceram, outros que não o viram mas o saúdam como eu agora. Sua família – incluindo Lucinha e irmãs - sua voz de falsete, seus amigos, fãs e seguidores. Quisera agora poder cantar uma música da qual ele gostava muito: “Sim, morreu João, João do mar, deus quem quis levar que levou pro fim, um deus do mar, que outro deus matou, que pescar pescou, mas que não voltou”.
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* Toinho Alves era baixista do Quinteto Violado
WALTER DA SILVA
Camarajibe, Pernambuco, Brasil
O5 de junho de 2008.
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