Antonio Donin foi uma das figuras mais importantes da história passo-fundense na segunda metade do século XX. Tive o prazer de conversar incontáveis vezes com o poeta, jornalista, professor, advogado e político, que ele era, tudo ao mesmo tempo, vinte e quatro horas por dia. Dele e dois outros professores, Sabino Santos e Edy Isaías, guardo as lições que recebi fora das salas de aula, pois não chegue a ser seus alunos em classe.
Durante as conversas com o professor Donin ele recordava os lances iniciais para que Passo Fundo dispusesse de ensino superior. Em Rio Grande, onde vivera durante algum tempo, antes de fixar-se definitivamente na terra do capitão Manoel das Neves, participara dos movimentos para criar a universidade local. Trouxe a inspiração e a experiência. Trabalhador incansável, articulador inexcedível, procurou unir todos os segmentos da sociedade passo-fundense em torno da criação de uma Universidade. E o conseguiu.
Nessa articulação, o Grêmio Passo-Fundense de Letras teve um papel primordial, importante, enquanto instituição organizada da sociedade civil. Em todas as reuniões os “gremistas” se destacam, em número e movimento. Os documentos da época demonstram-no à saciedade.
Na entrevista concedida à Água da Fonte (Ano 4 - nº 5 - Junho de 2007) Paulo Giongo, memória viva da história passo-fundense nos últimos setenta nos confirmou tudo o que o professor Antonio Donin narrava. “O professor Antônio Donin veio de Rio Grande, onde participara dos movimentos que levaram à criação das universidades daquela cidade e de Pelotas. Trouxe a experiência dessas mobilizações para Passo Fundo. Começou a promover reuniões com o objetivo de criar uma Universidade em Passo Fundo. Participei de todos esses encontros, ora na redação de O Nacional, ora na redação do Diário da Manhã, na Rádio Passo Fundo e em clubes sociais. Com isso, toda a comunidade se uniu e, assim, foi possível o desenvolvimento do ensino universitário”, declarou textualmente Paulo Giongo.
A seguir, confirmando documentação existente nos arquivos da Academia Passo-Fundense de Letras, destacou a contribuição do Grêmio Passo-Fundense de Letras: “A participação foi intensa. Quase todos aqueles que abraçaram a idéia do professor Donin faziam parte do sodalício. Os integrantes do Grêmio Passo-Fundense de Letras entenderam que o arrazoamento da minuta do telegrama, elaborada pelo professor Sabino Santos, merecia alterações e incumbiram Antonino Xavier e Oliveira de fazê-las. Feitas e aprovadas, o telegrama foi enviado a Getúlio Vargas, Quando, mais tarde, decidimos abrir processo para criar a Universidade de Passo Fundo, encontramos o processo aberto pelo Grêmio, hoje Academia Passo-Fundense de Letras, já em tramitação no Ministério de Educação e Cultura”.
A história dos telegramas começa no dia 3 de agosto de 1951, quando o professor Sabino Santos lê a minuta de um telegrama que deveria ser passado pelo Grêmio Passo-Fundense de Letras ao presidente Getúlio Vargas pleiteando a criação de uma universidade. O jornalista Túlio Fontoura, apoiando a emissão do telegrama, “propôs que o Grêmio desse ao deputado César Santos amplos poderes para tratar junto ao snr. Presidente do assunto em foco”. Decidiu-se fazer outra redação do telegrama, incumbência conferida ao historiador Antonino Xavier e Oliveira.
No dia 17 daquele mês foi aprovado o envio do seguinte ao presidente Vargas:
PRESIDENTE GETULIO VARGAS
PALCIO CATETE
RIO DE JANEIRO
PERMITA VOSENCIA GREMIO PASSOFUNDENSE LETRAS INSTITUIDO 1939 E DESDE ENTAO PROPUGNANDO DESENVOLVIMENTO CULTURA LOCAL VG RENDA HOMENAGEM MUNICIPIO COMEMORA SEU NONAGESIMO QUARTO ANIVERSARIO VG SOLICITANDO PRIMEIRO MAGISTRADO NAÇAO TORNE EFETIVA CRIAÇAO UNIVERSIDADE PASSO FUNDO VG TANTO MAIS NECESSARIA QUANTO CERTO ALEM POSIÇAO CENTRAL CIDADE EM VASTA E POPULOSA REGIAO RIOGRANDENSE VG CONTIGUIDADE AMPLAS ZONAS OESTE SANTA CATARINA E SUL PARANA TAMBEM ATENDIDAS TAO JUSTA E PATRIOTICA APSIRACAO VG CURSOS SUPERIORES EXISTENTES ESTADO NAO COMPORTAM MATRICULA NUMEROSOS SCANDIDATOS ANUALMENTE PREPARADOS GINASIOS ESTA REGIAO PT RESPEITOSAS SAUDACOES
CELSO FIORI – PRESIDENTE
SABINO SANTOS – SECRETARIO
A resposta veio logo, noticiando a abertura do processo para a criação da Universidade de Passo Fundo, de que nos falou Paulo Giongo. Eis o telegrama do então secretário da Presidência, ainda existente nos arquivos da Academia Passo-Fundense de Letras:
OFF CELSO FIORI E SABINO SANTOS GREMIO PASSOFUNDENSE LETRAS PFUNDORS
PALACIO CATTETE RIODV 14829 40 23 12
SENHOR PRESIDENTE DA REPUBLICA INCUMBIU ME COMUNICAR ASSUNTO SUA CORRESPONDENCIA FOI ENCAMINHADO MINISTERIO EDUCACAO SAUDE PL 20/8/51 AFIM DE SER DEVIDAMENTE APRECIADO PT PROTOCOLADO P R 71062 PT SDS LOURIVAL FONTES SECRETARIO PRESIDENCIA
Os documentos aqui transcritos, comprovam a importância dos “imortais de Passo Fundo” para o desenvolvimento e o progresso do município, nas últimas sete décadas. Todas as iniciativas que deram certo ou surgiram dentro do prédio sede de número 792, da Avenida Brasil Oeste ou ali se desenvolveram.
A idéia da criação da Universidade de Passo Fundo, surgida na mete fecunda de Antonio Donin, encontrou solo fértil nos jardins da Academia Passo-Fundense de Letras, ali floresceu, vicejou e foi dar frutos em diversos pontos da região.
(*) Paulo Monteiro, autor de centenas de artigos e ensaios sobre história e literatura, pertence à Academia Passo-Fundense de Letras, ao Instituto Histórico de Passo Fundo e a diversas entidades culturais do Brasil e do exterior. Seu endereço para correspondência e envio de livros para leitura e análise é: Paulo Monteiro, Caixa Postal 462, CEP 99001-970, Passo Fundo, RS.
