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Cartas-->14. GISLANE -- 02/08/2002 - 10:37 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Também poderia ter dado o nome de Gilberto. Dentre todos os do grupo, o único que se lembra de duas encarnações seguidas, com sexos diferentes, sou eu. Veja que complicou a forma de tratamento: devo dizer “único” ou “única”? Se tivesse tendências homossexuais, de acordo com a última encarnação, preferiria ser chamada de Gilberto. E se as tendências fossem da penúltima encarnação, seria Gislane.

Pediram-me para vir relatar as experiências desagradáveis, a partir do momento em que não soube caracterizar a personalidade, segundo os princípios físicos ou genéticos, exclusivamente. Trata-se de tema muitíssimo melindroso, o qual, entretanto, deixei para trás, após alguns anos de estudos do que ocorria comigo, no âmbito das realizações afetivas.

A história da minha existência dista a milênios, o que não deve constituir-se em ponto de admiração para ninguém, pois não há ser humano que não tenha tido experiências desde épocas muitíssimo mais longínquas.

Mas não há nada de muito escabroso nos meus relacionamentos, afora o fato de me haver desviado do rumo projetado pelos mentores, para o derradeiro encarne. Terminei a vida sem que desse curso ao desejo mundano, se assim puder chamar a ânsia de me entregar todinha à prática libidinosa com as mulheres, mais especificamente, as primas e vizinhas.

Quase sempre, nesses casos, os desvios da personalidade têm origem na superestrutura familiar, onde os pais não conseguem administrar a afetividade convenientemente, distribuindo mal os carinhos pelos filhos ou maltratando o cônjuge do sexo oposto ao da criança. Minha mãe não se dizia feliz e punha meu pai em aflição, toda vez que desconfiava de que estivesse sendo traída. Eu ouvia as lamúrias paternas e me voltava contra minha mãe, até que surpreendi meu pai em pleno desempenho sexual com uma das minhas irmãs.

Não queria chegar ao extremo da revelação. Perdoem-me por isso e orem sentida prece de conforto energético para compensar os possíveis fluidos de sentido negativo que possam ter emitido contra tais pessoas.

A verdade é que, a partir daí, passei a compreender as atitudes de mamãe e a detestar meu pai. Isso se dava da boca para fora, pois, conforme verifiquei depois, se ele me tivesse convidado, era quase certo que aceitaria, tanto o admirava. Mas o escândalo arruinou de vez o relacionamento já abalado e o lar se desfez, para sempre.

Dispersaram-se os membros da família e fui morar com minha tia. Mamãe me acusava por não ter tido contemplação com os sentimentos dela, pelo fato de ter perdido a fonte econômico-financeira, já que nunca precisara trabalhar. Sozinha, teve de arrumar emprego, sendo muito difícil o ajustamento à nova situação. Depois de haver dado algumas cabeçadas, cujo conhecimento só obtive muito depois de ter vindo para cá, amasiou-se com um primo distante, o que considerei, desde logo, incestuoso.

Eu mesma passei a cortejar a priminha com quem fui viver. Mas isso perdurou por pouco mais de um ano, pois logo sofri o acidente que me tirou a vida, explosão de gás, inadvertida e tola. Levantei de manhã, acendi a luz e bum!, vim para o lado de cá, imediatamente. Estava com treze anos de idade.

Aqui, logo me encontrei com parentes distantes de que mal e mal ouvira falar. Eram seres que renovavam a amizade ou que se reaproximavam de antiga inimiga (inimigo, para ser mais exata, pois aí entra a personalidade masculina).

Penso que tenha sugerido as pistas para a estranha confusão afetiva, em relação à última encarnação. Quando busquei as raízes dessas tendências homossexuais no Gilberto da precedente encarnação, fiquei estarrecida, pois me vi companheiro fiel de uma mulher, até a morte. Ela é que não soubera corresponder ao amor, terminando assassinada pelo marido alucinado (eu), ao descobrir-lhe as peripécias extraconjugais.

Não há como amenizar o drama. A vida prega dessas peças, que mais parecem o produto da fantasia ou da imaginação dos teatrólogos sensacionalistas. Há ainda outras informações aparentemente estapafúrdias, não fosse a seriedade com que tudo se deve encarar, em função dos deveres e responsabilidades dos seres que se aproximam afetivamente.

Aquela pessoa que amei e executei, nesta última peregrinação, é minha mãe, por quem nutri repulsa e que terminou afastando-se de mim, depois de haver prometido dar-me a oportunidade da reconciliação, devedora e credora ao mesmo tempo.

Muito meditei a respeito dos vínculos cármicos entre as diversas personagens desse melodrama. Meu pai fora o amante dela, quando esposa de Gilberto. Minha irmã, a pivô da separação, fora a esposa rejeitada. A prima a quem dedicava afeto irresponsável fora amante de Gilberto, antes do matrimônio, e que o tentara durante muitos anos, sem sucesso.

Todos esses relacionamentos sexualmente concretizados em experiências de vidas sucessivas servem para o estabelecimento das causas das frustrações amorosas, mas apenas quando não se completam em amor, permanecendo mesclados com ódios, rancores, ímpetos de vingança.

Se me fosse dado conhecer, à época do reencarne, o que hoje sei, sem dúvida não iria aceitar volver tão depressa ao seio da família, mesmo pejada por crime de sangue e sob a consideração superior da vítima. Quando as feridas estão mal curadas, é preferível curtir a tristeza da separação, em angústias de saudade, para que o sentimento oposto não venha a frutificar, na inconsciência da cobrança dos débitos.

Tudo o que acima disse não importa. O que deve ser levado em conta é o fato de que o amor deve purificar-se, deve santificar-se, mesmo que haja debilidades psíquicas, a conduzir os desejos para áreas contrárias aos anseios próprios da natureza física ou material.

Talvez a morte tão cedo e repentina tenha tido o efeito inesperado de me fazer pensar, enquanto me recompunha, para o enfrentamento dos resgates necessários, a partir dos elementos projetados para a vida e que se impediram de concretizar. Com certeza, envolvida no redemoinho turbulento das paixões, iria ver-me diante de situações em que a tendência da alma me teria conduzido, fatalmente, a novos débitos.

Mas essa constatação não deve servir-me de conforto. É que o simples fato de me conhecer melhor, não me autoriza a dar-me por quite com todos os credores. Para a perfeição do entendimento e para a refacção dos elos sentimentais rompidos, somente o tratamento de choque de outra encarnação, talvez sob condições mais propensas ao deslize.

Quanta gente não deve estar odiando-me por não oferecer a mitigação do sofrimento, a partir da compreensão das leis cármicas e dos defeitos e correspondentes virtudes. Eu mesma gostaria de poder afirmar que estou tranqüila, feliz, preparada para o auxílio aos que continuam encarnados, aliás todas as personagens do drama, mais velhas e mais sofridas por percalços ulteriores ao meu desaparecimento, cujas personalidades necessitam de amparo para evoluírem, evangelicamente.

Quem sabe, por acréscimo de misericórdia, o Pai possibilite que esta página caia nas mãos desses parentes e que, à vista dos indícios narrativos, se reconheçam e se justifiquem perante a existência, mudando o rumo dos interesses subalternos, para a ampliação do amor e da bondade...

Para encerrar, a minha palavra de santa advertência aos homossexuais, não os que suspeitam de que os atuais relacionamentos tenham tido origem semelhante aos de minha conduta, mas a todos os que pretendem terem sido sempre do sexo oposto, nas anteriores encarnações. Para esses, a luta será redobrada, se não quiserem sofrer após o desencarne, mesmo quando se julguem plenamente realizados na vida. É que o corpo carnal, quando não corresponde ao corpo espiritual, deve ser respeitado, pois se trata de teste que a gente mesmo se permitiu, para a superação de deficiências insuspeitas presentemente.

Ir avante nas considerações será tão-somente conjecturar a respeito da verdade desse tipo de estrutura cármica. Aceitem-me como sou, limitada e atrevida, mas confiante de que lhes tenha trazido informações verdadeiras sobre que refletir com ponderação e sabedoria.

Fiquem com Deus!

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