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Poesias-->Olhe para mim! -- 26/08/2002 - 23:35 (Clarice Barcellos) |
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Olhe para mim!
Sou esta cara engraçadinha e suja lhe encarando
Da janela fechada de seu carro com ar-condicionado
Que a fome é o meu destino facilmente pode ver
Sinto frio e não tenho roupas para me aquecer
Sinto calor e me humilho em um banho no podre riacho
Você nem mesmo abre esta janela e ainda olha para o lado
Está com medo…o que quer dizer?
Destino miserável nunca fará de mim fêmea ou macho
Não há um amanhã, já sei, mas vou me enganando
Sem escola, vídeo game ou TV
Sem viagens, festas ou filme em DVD
Não tenho infância- nem adolescência
A realidade me nega o direito ao saber e ao lazer
A loló me anestesia em mental efervescência
Eu queria poder lhe pedir
Um pouco de comida em um prato limpo
Um lar para viver - uma cama para descansar
Este envelhecido jovem corpo cansado carregando
Uma mochila com pelo menos um livro escolar
Uma viagem até a praia, às montanhas ou ao campo
Algodão doce, uma grande taça de sorvete e pipoca
Entretanto, tudo o que consigo sussurrar daqui:
"Um dinheirinho prá comprar comida, por favor"
Mas você não pode me ouvir - não quer escutar
Eu sou um problema, o lado negro do que recusa ver
Incrível, você não me olha nem por um breve instante!
Se soubesse que um abraço e um beijo acalmariam a dor
Você entenderia que eu poderia ser mais do que esse torpor
Mais que esta brisa que passa pela sua consciência
Mais do que esse nó que atravessa a sua garganta
Ou o desconforto que meu olhar insistente lhe provoca
Eu poderia ser um bom trabalhador...talvez um doutor
Ajudar outros a sair deste feio barco de realidade nua
Fazer diferença e sacudir esta sociedade impassível
Mas este é somente o sonho impossível
De uma criança de rua...
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