OS PECADOS DA TRIBO (1)
Roteiro de Coelho De Moraes, sobre a obra de José J. Veiga
Personagens: O Herói (H), Rudêncio (R), Consulesa (Ca), Cônsul (C), Pessoa (P), Pessoa 2 (P2),
CENA 1
(“Fechado” na mão de alguém que fecha umas janelas, com pasta-cola verde e impondo fitas verdes. Várias pessoas (P) fazem isso. A preferência é por um tempo meio nublado e um leve chuviscado. Inscrito: Interditado. O Herói, mãos nos bolsos se aproxima, olhando com certa pena.)
H: O que está acontecendo?
P: Não vê? Interditamos o prédio.
H: Não era aí que faziam a reunião do povo?
P: Era... por quê?
H: Vocês fecham em boa hora, imagino.
P: O senhor também notou?
H: Bem... não sei qual foi a causa imediata. Mas as causas remotas...
P: Moço, em nosso departamento não deixamos que nenhuma causa se torne remota. O nosso lema é cortar o mal pela raiz. A raiz aqui foram os ratos.
H: Ratos?
P: É. Está aqui, olhe (tira um papel do bolso. H vai pegar o papel mas o P puxa). Na minha mão mesmo. É documento oficial. Não pode ser tocado por estranhos. (H sorri e entorta a cabeça para ler direito, com todo cuidado).
H: Na ultima sessão da Casa do Couro ouviram chiados de ratos debaixo do soalho.
P: Satisfeito? (recolhe o papel) A ordem é esfumaçar tudo imediatamente.
H: Quando vai ser reaberta? Os Couracas são representantes do povo, você sabe. Nessa casa se reúnem para discussão dos problemas da comunidade.
P: ( recolhendo seu material) Devem abrir depois da esfumação e da matança dos ratos, é claro.
H: Dentro de dois ou três dias?
P: Normalmente seria. Mas nas atuais circunstâncias...
P2: ( grita de longe) Vamos embora, homem...
P: (grita de volta) Um momento. Estou esclarecendo um cidadão. (volta-se para H). Há dificuldades com a Indústria Química. Uma espécie de recessão. Há muita esfumação para fazer e as fábricas não estão dando conta... então há prioridades... locais onde as pessoas se juntam de vez em quando vai para o fim da lista.
H: Então a Casa do Couro vai ficar fechada por muito tempo?
P: É o que parece. Tenho que ir.
H: Tem uma idéia de quanto tempo?
P: Não sou adivinho. Mas, se não ocorrer um fato novo receio que a atual geração não deverá se preocupar com a Casa do Couro. (P sai)
(Tomada à distancia. Os caminhões partem. H fica sozinho olhando para a Casa do Couro.)