O avião cheio. Quase todos os passageiros acomodados, esperando fechar a porta.
Que bom ! - Penso eu - hoje não vai atrasar.
Aquela mulher clara, de meia idade, loura, de blazer vermelho, de mocassins provavelmente macios como os meus, sentou-se do outro lado, na mesma fila que eu.
Ainda no ônibus de embarque no aeroporto, notei a presença discreta, silenciosa e cintilante como uma pérola.
E como ela se parece com a Lya Luft, de quem estou exatamente lendo a coluna na revista, discorre sobre violência x impunidade, os tempos de hoje, pena de morte, etc.
E, de repente, um passageiro ali na entrada, dizendo para os comissários que não vai mais, que é para tirar a bagagem dele do avião. Diz que trocaram o avião e que, então, o lugar dele não é mais na poltrona de emergência e que, assim, ele não vai, que não cabe o laptop, que precisa escrever, patatati-patatá que tem
passagem em outra companhia... que tem de escrever durante o vôo.
Não sei mais depois de quantos minutos e
de algumas chamadas dele no celular, ajeitam, finalmente, o homem e suas imperiosas necessidades na primeira fila.
O avião sobe e desce em Confins.
Ao esperar minha bagagem, vejo novamente a mulher do blazer vermelho. Não me contenho, digo: - "A senhora se parece muito com a Lya Luft". Ela responde - "Mas eu sou a Lya Luft". Dou-lhe parabéns, pelo primeiro lugar na lista dos mais vendidos, falo que a leio sempre, já li alguns livros dela.
Ganho seu autógrafo, que prazer!
Ela, suave e discretamente, uma virginiana poeta, autora renomada, chega a Belo Horizonte para lançar seu livro "O Silêncio dos Amantes"...
Já comprei, meu exemplar vai chegar pelo correio.
O homem do estardalharço
- e do qual não faço a menor idéia o que de tão importante pudesse ele escrever -
não está mais em lugar nenhum.
Lourdinha Biagioni®
Belo Horizonte, 27 de maio de 2008
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