UMA CARTA INACABADA
Querida!
É manhã ensolarada, no momento em que te escrevo
Ouço o cantar da passarada, vou à janela ver o enlevo.
O sol por entre as montanhas, a úmida e verde mata
Os cisnes, com suas manhas, deslizam em lagos de prata.
As nuvens claras, qual cristais, unidas, passeiam sorridentes.
E os peixes, nos lagos, freqüentes, promovem remoinhos ovais.
Um rio sereno segue a sua rotina. Despede-se da serra em que nascera,
Indo beijar o mar, detrás da colina. Mar que sempre bem o recebera!
No campo, já um galo, ali estava. Tinha acordado, talvez, naquele instante.
E batendo as asas ele cantava, por certo, ao seu amor distante.
O cantar daquele pequeno ser tira-me do espasmo em que me encontrava,
E tudo quanto fitava, passou de ti lembranças ter.
Que bom que assim fosse...Que bom seria!
Se o nosso amor tivesse o fundo musical dos pássaros na mata, em cantoria !
Tudo natureza, tudo em harmonia !
Que bom que assim fosse...Que bom seria !
Numa paixão aumentada dia a dia, o sol ardesse em nosso corações,
Com beijos úmidos como as matas dos sertões !
Que bom seria !
Se teus cabelos louros deslizassem, pelos meus, num singelo afago
E os meus olhos, como calouros, te apreciassem tal qual os cisnes do lago.
Quem bom que assim fosse. Que bom seria !
Se pudéssemos passear com alegria, outra vezes, de mãos dadas.
Tal qual as nuvens das manhãs ensolaradas!
Queria ser aquele rio...e pronto !
E tu o mar que ele espera.
Atravessando a mais árdua cratera, iria feliz ao teu encontro !
Mas... na penúltima carta ela foi sincera. E por isso a venero.
Há outro rio, não me lembrava.
Vai ficar na lembrança quem eu amava.
Mas outra carta ainda espero.
Domingos Oliveira Medeiros
03/12/2001
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