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Contos-->O SOFRIMENTO DO ADEUS -- 01/07/2002 - 11:37 (Felipe de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Daì em diante tivemos altos e baixos como todo casal; porém, vagarosamente, algo foi roendo o nosso cotidiano de felicidade, sem alardes mais com persistência, algo foi se interpondo entre nòs: devagar mais com perseverança. No começo, eu nâo conseguia explicar direito o que estava se passando, sentia intimamente que começava a existir um abismo ou uma espécie de muro erguido entre nòs, embora, ainda tivesse certeza que a amava com a mesma intensidade do primeiro dia.
Os nossos silêncios foram se eternizando, sentia-me irritado, as linhas sinuosas do seu corpo desapareciam sem nenhuma explicaçâo da minha memòria e, o pior de tudo, pela primeira vez, eu senti que estava desperdiçando o meu tempo em rotinas inexplicàveis. Era algo completamente absurdo, alucinante, como poderia sentir essa sensaçâo de desperdìcio, se ela estava comigo, dormia ao meu lado, dividia comigo os melhores momentos. Durante vàrias noites nâo preguei os olhos, fiquei imaginando o que estava acontecendo comigo, o que estava se passando em surdina nas nossas vidas e simplesmente nâo encontrava nenhuma explicaçâo.

Ela estava se distanciando de mim, pouco a pouco, notei as diminutas transformaçôes, as suas frases nâo eram mais as mesmas, os seus carinhos eram vagos, distantes, sem emoçâo, inutéis e, até mesmo o seu sorriso melancòlico, nâo possuia mais o encantamento do passado. Eu nâo conseguia acreditar que todo este avalanche de coisas terrìveis estava acontecendo conosco. Ela talvez fosse a minha ùltima chance de felicidade, eu precisava dela, mas, sem nenhuma explicaçâo, estàvamos nos distanciando um do outro sem nem mesmo saber o motivo. O que eu poderia lhe dizer ? Que pressentia que os nossos momentos nâo eram mais os mesmos ? Que algo tinha mudado. Que eu ainda a amava, embora, nâo soubesse explicar o distanciamento emocional. Tantas coisas a confessar e nada verdadeiramente consistente, real, tudo no plano do metàfico e sem nenhuma perspectiva de saìda.

O tempo tem este estranho fascìnio de esclarecer certas coisas incògnitas no mais profundo do nosso ser. Fomos adiando ao màximo a nossa despedida, no fundo, querìamos um milagre, embora, nâo acreditàssemos muito em milagres desta espécie. Fomos nos desgastando interiormente até nâo mais suportar, esgotando todas as possibilidades, procurando uma saìda, qualquer saìda, mais o transcorrer do tempo nos dizia claramente que a ùnica soluçâo era o adeus. Um adeus definitivo como forma de enterrar o nosso passado.
Eu nunca poderia dizer que estava partindo, era superior às minhas forças, ficava no meu canto, silencioso, esperando talvez um milagre. Um verdadeiro milagre. Ela também nâo tinha coragem de pronunciar a palavra adeus, despedida ou até mesmo uma breve separaçâo. Todas as noites fazia planos de abandonà-la, como um detento de uma prisâo de segurança màxima, para tudo desfazer na manhâ seguinte. O medo de partir era descomunal, intransponìvel mesmo, embora soubesse perfeitamente que mais cedo ou mais tarde teria que tomar a decisâo.

Numa manhâ qualquer fugi, covardemente fugi, feito um criminoso, um rato, corri para longe dela. Nâo expliquei. Nâo deixei bilhetes. Recados. Cartas. Nem sequer disse que iria embora, apenas fugi. Devo tê-la ferido enormemente. Nâo podia fazer diferente. Nâo tive coragem de enfrentar o seu olhar e dizer que estava partindo. Estava acima das minhas forças. Tudo o que vivencìamos nâo poderia ser desfeito com simples palavras de adeus ou làgrimas de despedidas.
Fui covarde, eu sei, mas nâo podia ficar na sua frente e simplesmente dizer que iria embora. O que poderia dizer para me justificar : que nâo a amava mais ? Mentira : eu ainda a amava. Que algo estava destruindo o nosso relacionamento ? E se ela pedisse explicaçôes ? O que poderia lhe confessar ? O que tinha de concreto para expor da derrota de nossa uniâo ? O que dizer ou mentir num momento como este ?

Desaparecer, fugir o mais ràpido dali, algo dentro de mim, ordenava, impulsionava-me para longe dos seus braços. Era uma intuiçâo. Algo mecânico e incontrolàvel no meu mais profundo ser que ordenava a minha partida. Eu até queria resistir, mas a força interior que me impulsiona para longe era superior a minha vontade.
Nâo tinha certeza que estava agindo certo, tinha dùvidas se no futuro iria pagar por este ato insano, mas todo o meu corpo pedia uma partida. Esperei que ela fosse embora trabalhar, fiz ligeiro a minha valise, sem deixar vestìgios, fugi instintivamente feito um rato, sem olhar para tràs e sem pensar no futuro. Apenas fugi da sua presença e da sua vida.

No começo andei sem rumo, perambulei pelas calçadas, pensei e repensei vàrias vezes no retorno, mas o passar monòtono e degradante dos dias, tornava impossìvel um simples retorno. Terminei me acostumando com a separaçâo, por vezes, chego mesmo a pensar que agi certo e que nâo poderia fazer de outra maneira. Hoje nada tem verdadeiramente importância, no mais profundo do meu ser, ainda nâo sou capaz de dizer se tomei a decisâo correta.

Quantas e quantas noites fiquei embaixo da sua janela, admirando a luz acesa, adivinhando os seus movimentos nas reduzidas peças do apartamento, esperando algo acontecer, esperando uma decisâo da minha parte, um milagre talvez, mas nada acontecia. Duas ou três vezes por semana, antes de ir para casa, uma força silenciosa, estranha e incompreensìvel, puxava-me para as proximidades do nosso antigo apartamento.

Poderia subir e dizer que queria voltar, confessar que tudo foi um erro, que ainda existia espaço para sermos felizes, mas alguma coisa no meu interior nâo tomava a decisâo, existia sempre uma dùvida, um receio de que algo nâo seria correto, uma lembrança demasiada ou a certeza de que aquele nosso mundo nâo mais existia. Talvez esteja realmente escrito em qualquer parte deste universo que, dois seres que se amam, nem sempre, podem ser felizes por muito tempo.

A cada dia a imagem de Nicole vai se dissipando, distanciando-se, deixando falhas, recordaçôes perdidas de um mundo submerso, sentimentos invisìveis. Tudo soterrado. Certas manhâs, escuto sua voz, tranqüila, melancòlica, quase inaudìvel que me diz : “Nunca se esqueça que, mesmo na mais completa escuridâo, existe sempre um raio de luz oculto. Embora nâo o vejamos, ele existe, està là, presente, esperando somente algo para iluminar.”
Trecho de Fragmentos Submersos
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