Gênio Forte
Deus, tenho que confessar: Estou chateado contigo. Você (se é que me permite a intimidade), mesmo depois de ver o comportamento traiçoeiro de Eva, não baniu aquele tipo miserável do mundo. E de uns tempos pra cá, eu venho sofrendo por causa disso. Vou contar-lhe minha história.
É de uma moça que de tão formosa, tinha "linda" no nome. Lindalva é como se chamava a peste. Pois bem, a criatura (aliás, agora só irei me referir a ela como criatura pra não ter que me lembrar do diabo do seu nome) vinha infernizando minha vida há uns três meses: Olhares maliciosos (porém discretos demais para serem vulgares), insinuações sutis, daquelas que toda mulher faz quando quer, e o principal: um jeitinho que lhe era todo peculiar. Tamanha era sua doçura que não havia ser nesse mundo que pudesse destrata-la. Isso tudo, fazia-me pensar na criatura dia e noite, incessantemente. Cansado daquele monopólio mental resolvei enfim, tomar satisfação. E aí tenho que confessar: tive o episódio mais desagrável de minha vida, tão frustrante que sequer ousarei conta-lo aqui. Digo-lhe apenas que a criatura me arrasou por completo. Não contente em destruir todas as minhas gostosas especulações amorosas dos últimos três meses (sim, afinal eram boas!), aproveitou toda oportunidade que teve para humilhar-me.
E agora relato-lhe meu caso angustiado e volto a indagar: Porque afinal não baniu essas criaturas com gênio forte de vez de nosso mundo? Asseguro-lhe que o relatado episódio é também a história de outros tantos. Por que Você imbutiu nessas criaturas a faculdade de serem tão apaixonantes porém, ao fim, tão cruéis? Para que curvas tão bem acabadas se não passa tudo de uma grande cilada?
Resta-me apenas crer que Você não passa de um grande desiludido amoroso, se vingando de seus filhos.