Toda sexta-feira é azul,
Me guio pelo Cruzeiro do Sul,
E toco aquele velho blues.;
No som da gaita, a cidade se agita,
A Nove de Julho brilha e palpita,
E espanto a tristeza que grita
No peito deste pobre rapaz
Que no Trianon encontra sua paz,
E chora pela canção que desfaz
A maldade do ser urbano,
E torna este existir mundano
Da selva de pedra que cresce
Sobre os pilares romanos.
E a cidade ainda reluz,
A Praça da Sé me devora e me seduz,
E a saudade é uma pesada cruz
Que arrasto desde que a deixei,
A dor que carrego, só eu sei,
E sem ela me torno o que me tornei.;
Um poeta de poucos versos,
Um filósofo de argumentos diversos,
Um ator com sentimentos reversos.;
E pelas ruas escuras e vazias,
Declamo eu uma paixão que crescia
Sempre que o raiar do sol eu sentia
Sobre os prédios de São Paulo:
-Canto uma paixão que é poesia.
E a melancolia se esvai
Junto com a garoa que cai
E que cobre a Avenida Paulista.
Essa garoa, que é como
um véu de noiva.
|