O JUDEU DA INFÂNCIA.
Toda a criança que se preza, principalmente aquelas do subúrbio antigo do Rio de Janeiro, tiveram ou continuam tendo um amigo judeu. Geralmente filho de comerciantes, mascates árabes ou judeus, que se estabeleceram no Rio de Janeiro, oriundos dos mais favorecidos e estabelecidos comerciantes da Senhor dos Passos ou Alfândega, ruas de tradição no ramo. Se bem me recordo, tive um amigo judeu na infância, e começo de adolescência, de nome Oscar, cujo pai possuia uma pequena lojinha de linhas, pequenos apetrechos, papelaria, bijouteria, um conjunto de bobagens, situada na Avenida Suburbana, paralela à rua de minha casa, que era melhor para diversões tipo bandeirinhas, pique-esconde, e outras infantis, pois não havia transito, que pudesse por em perigo nossas brincadeiras.
Oscar era parceiro de todas, nas pipas, nas festinhas furadas do sábado, era um parceirão. Pode ser até que ainda esteja vivo, em algum canto do Brasil, ou mesmo ter voltado para o Oriente, terra de seus ancestrais. Só sei que daquele judeuzinho, jamais posso esquecer.
Uma bela tarde de sábado, no distante subúrbio de Pilares, na Rua Glaziou, jogávamos uma pelada, e Oscar estava no time contra ao meu, em pleno paralelepípedo recente, colocado na semana anterior.
Lembro que eu estava com a bola dominada, partindo para o gol adversário, quando o beque Oscar, partiu para minha direção, tentando me tomar a bola, quando deparei vir chegando no campo de jogo, um indivíduo, com uma enorme faca na mão, todo sujo de sangue, por trás de Oscar. Algumas pessoas ja perseguiam o assassino, desde a Avenida Suburbana, local do até então, suposto crime.
Foi a primeira vez que senti um odor avinagrado, entrando pelas minhas narinas, que mais tarde relacionei a outra situação por que passei, bem mais tarde, só que também foi, um crime de morte.
Bem, o quadro que tento refletir, era um bando de crianças, cercando involuntariamente, um assassino, com uma faca ensanguentada na mão, ja perseguido por umas 20 outras pessoas, gritando, pega, pega! Só que, o quadro foi se alterando para mim, e principalmente para o Oscar, quando aos poucos fomos nos perguntando, a quem aquêle maluco, havia encontrado, para praticar tal ato.
Aos poucos, fomos nos dando conta, que era um comerciante na Avenida Suburbana, dono de uma pequena lojinha, que fôra assaltado, e o assaltante o esfaqueou com a própria faca da loja. E êsse comerciante, era o Pai de Oscar, o Judeu.
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