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Artigos-->Normalidade -- 20/04/2008 - 13:11 (Max Diniz Cruzeiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ser normal é pertencer a uma classe de características universais para uma determinada população observada. É o que é comum, dada uma característica avaliada. Sua antítese, a “anormalidade” é caracterizada pela não aceitação do comum e preconiza preconceito de definição uma vez que as observações atípicas, ou minoritárias, não dispõem de força suficiente para compor significativamente uma população. Por exemplo, num país africano é normal terem pessoas de olhos castanhos. Portanto a característica avaliada é: ter olhos castanhos. Mas existem determinados indivíduos que possuem olhos azuis. Ter olhos azuis é uma característica incomum. É anormal neste país africano encontrarem pessoas de olhos azuis. Porque a característica é minoritária. O comum é selecionar ao acaso uma pessoa e ver que ela possui olhos castanhos.



No sentido empregado no exemplo de anormalidade não constitui de fato um jargão ou preconceito, apenas uma forma de visualizar um fenômeno, mas é comum o emprego da palavra “anormalidade” no sentido pejorativo. No emprego das palavras o sentido negativo da idéia é de difícil detecção, porém é facilmente perceptível a utilização deste modo quando observado o contexto e entonação em que a frase é pronunciada. Em seu sentido negativo anormalidade está mais para: aberração, afetação e inferiorização. Por exemplo: “Cara, como tu está anormal hoje?, “ Vai me desculpar mais você não é uma pessoa normal?” ou “Por que você não é uma pessoa normal como nós?”.



A correlação de idéias de normalidade é muito perigosa no sentido de encontrar conclusões falsas sobre um determinado fenômeno. Correlacionar neste caso é identificar o subgrupo cuja característica é predominante e que “eu” também pertença e passar a regrar as variações, sobretudo de comportamento, que não fazem parte da característica dominante, contraponto as idéias como “subversão”, “aberração”, “afetação” ou “inferiorização”. Como a idéia dominante é largamente convencional o comum é todos agirem da mesma forma que ela se apresenta. Todavia, quando uma idéia se contrapõe (anormal) ao modo comum de raciocinar ela passa a ser algo que necessariamente deve ser combatido e expulso da sociedade.



Para a estatística os estudos das populações pressupõem na maioria das vezes que o comportamento delas seja normal. Ou seja, poucos indivíduos com características divergentes e muitos indivíduos com características semelhantes ou comuns. Assim, quando um pesquisador colhe uma amostra de uma dada população para o estudo de seu comportamento ele não precisará colher informações de um número elevado de indivíduos, pois como a maioria demonstra características similares basta que ele quantifique a similaridade e pegar alguns elementos deste grupo e avaliar o comportamento de toda a população através de um grupo limitado de indivíduos. Por exemplo: Em Angola de cada 10 famílias observadas numa pré-amostra apenas um indivíduo tem olhos claros os demais olhos escuros. Sabendo que o país inteiro possui em média 980 mil famílias não é necessário pesquisar todas as famílias para determinar a quantidade de pessoas que têm os olhos claros, uma vez que sei da relação 10 por 1 (famílias/indivíduos com olhos claros).



Relacionar aspectos físicos, biológicos ou elementos da natureza é bem mais compreensível quando o fator avaliado é a normalidade. Porém quando o núcleo de investigação é comportamento social o pesquisador deverá ter cuidado para que a interpretação de sua pesquisa não caia em conclusões e premissas que alimentam teorias infundadas ou de convicções filosóficas que orientem um levante sobre as formas minoritárias do pensar.



Existe abuso na utilização do padrão normal das populações por parte dos pesquisadores. A concentração de características comuns nem sempre obedece a um padrão onde existe uma pequena quantidade de similaridades de baixa expressão numa ponta concentrando-se as características em torno de poucas divergências no meio e no outro extremo uma outra pequena quantidade de similaridades que se destacam. Assim, é como se fosse estudada uma população sendo que a faixa etária poderia ser dividida por: jovens, adultos e idosos. Onde jovens haveria uma baixa concentração de indivíduos, adultos a faixa deste determinado país com a maior parcela da população e idosos também com uma faixa reduzida de indivíduos.



No exemplo hipotético se estudar esta população através de suas características internas, como: renda, escolaridade, sexo,... haveria de levar em consideração as características globais cuja divisão é a análise etária. E observa-se que o padrão normal encaixa-se exatamente sobre a distribuição desta população. Porém para uma outra característica desta população como, por exemplo, número de filhos a distribuição poderia não ser normal e sim algo parecido com uma distribuição exponencial e um tratamento diferenciado da faixa etária deveria ser desenvolvido para não incorrer em erros as conclusões de uma pesquisa.



Ocorre que os pesquisadores, viciados em normalidade dos dados, cada vez que encontram distribuições divergentes da normal, efetuam transformações nas variáveis para simular uma determinada normalidade dos dados e calcular as estatísticas baseadas nos pressupostos de normalidade que a distribuição garante para a cadeia de informações. Poucos pesquisadores tentam encontrar outras distribuições capazes de explicar também o comportamento de uma população pela utilização de instrumentos mais significativos e mais proporcionais ao modo em que os indivíduos estão distribuídos pelas suas características.



A distribuição normal exata tem a aparência de um morro simétrico nas pontas. Porém quando a simetria não é verificada à esquerda é dita distribuição assimétrica negativa ou quando à direita é dita distribuição assimétrica positiva. Uma forma convencional que poderia resolver tal problema é encontrar funções que simulassem tais comportamentos divergentes da distribuição normal padrão. Assim, com tais desdobramentos e outras inúmeras funções que também pudessem ter outros comportamentos, determinar com melhor exatidão as características populacionais que interessam ao pesquisador avaliar.



Ser normal reflete um padrão de comportamento onde o praticamente desenvolve ações em que a maioria também compactua. Ser anormal reflete um padrão de conduta divergente do senso comum. Quando isto ocorre pode estabelecer uma rotulação de idéias do comportamento social do indivíduo. Aos anormais pertencem: os hospícios, isolamento social, cárceres privados, subculturas e rotulação. A antagonização de idéias é um fator observado no mundo de normais e não-normais.



Em termos sócio-econômicos não é interessante para uma população ter uma distribuição normal, uma vez que grande parcela da população encontra-se dentro de um restrito complexo de preferências. Quanto maior a variação e tendências sociais maior a complexidade de uma dada população. As idéias são mais segmentadas, as pessoas passam a trocar ou intercambiar mais informações a economia prospera melhor, pois há um número maior de especialistas que canalizam seus esforços para núcleos da população cada vez mais distintos e com peculiaridades próprias. Quando isto ocorre existe uma preocupação maior para as grandes indústrias que não mais poderão padronizar seus produtos para uma clientela cada vez mais exigente em termos de particularidades.



As pequenas empresas ganham com a diversificação. Diversificar é sair do contexto normal e anormal. É um estado cujas características estão quase que uniformemente distribuídas. O que significa que dada uma característica desta população a combinação de fatores ou respostas que qualificam tal característica é tão densa e extensa que quase não existe uma moda, ou seja, um elemento que se destaque, distribuindo aspectos relevantes quase que igualmente e de forma ampla para toda a parcela da população. Por isto as pequenas empresas levam vantagens, pois conseguem atender com maior facilidade as particularidades de cada grupo de clientes. A loja LenderBook de Confecções (Empresa fictícia) por exemplo, tem uma linha voltada para o movimento Hip-Hop, outra voltada para o movimento Dread, Heavy Metal e Rare Krishna.



Os segmentos acima são bem exigentes no modo e estilo de vida. A quantidade de adeptos é tão pequena em comparação à população como um tudo que as grandes indústrias não “perdem seu tempo” na construção de linhas e modelos para um público tão pequeno e em geral de baixo poder aquisitivo, pois para as grandes indústrias um segmento só é atrativo quando o volume de clientes é tão grande que o investimento maciço pode refletir em fatias de lucro cada vez mais atraentes. Numa população pouco diversificada tais grupos são anormais, no sentido de fugirem do comum, do padrão de consumo. Já numa população bastante diversificada, onde não há a presença de um fator modal preponderante, tais grupos seriam segmentos normais de uma linha de consumo. Uma população diversificada, sob este foco, seriam apenas setores específicos que demandam atendimento especial para o fechamento de negócios.



A normalização como padrão cria regras de conduta onde todos devem ser iguais e seguir as regras estabelecidas. As regras são adotadas pelo senso comum, ou por fórmulas sociais na forma de leis. O sistema cria um instrumento onde não se espera que existam desvios de conduta. Todos devem ser normais segundo as leis. Os anormais são punidos com bastante rigor, dentro do que determina as regras impostas a todos. Repare que normais criam regras normais de senso comum aos outros. Os parâmetros utilizados como denominadores comuns para a população são subjetivos e o esperado é uma padronização do comportamento social onde não existe uma distribuição de freqüência, pois todos se concentram em torno de um único objetivo: conduta social homogênea. É claro que a própria lei determina discricionariedade, ou, formas deferentes de fazer o mesmo ato, ao comum, ou, popular, que permita ela ter a sensação de estar gozando de liberdade para praticar suas ações em seu cotidiano.



O regramento da conduta é um fator muito importante para a fabricação da normalidade. Quem desobedece fica à margem da moral, dos costumes, da vida social ou ética. O processo de formação da normalidade é derivado principalmente do sistema de ensino estabelecido para uma determinada população. Os conceitos do que é “bom”, “consumível”, “do que deve ser experimentado”, “do que deve ser comedido ou regrado”,... são elementos que aos poucos são formados nas consciências dos indivíduos para se encaixarem no padrão de normalidade em que a sociedade estabelece para a população como um todo.



Por que criar um padrão para tudo? Porque o homem moderno acredita que padrões são mais fáceis de serem controlados do que cuidar de uma multiplicidade de idéias cujos adeptos encontram diferentes razões em seguir ou não opiniões. Esta é a mesma ótica utilizada em larga escala para o consumo, para a formação de opinião, que concentra todo mundo em torno de dois eixos o “certo” ou o “errado”, onde sob esta ótica existirá uma em que será a maioria e será constituída como um padrão a seguir. Seja ela em sua valoração positiva ou negativa.



A análise crítica permite variações que tiram o homem do padrão de normalidade para uma visão mais heterogenia das coisas e situações. A tomada de decisão, numa visão crítica, está endossada em parâmetros mais robustos de concentração de idéias. Assim, uma tomada de decisão hoje pode parecer favorável a um determinado contexto, mas não é algo estático, parado ou diminuto. Amanhã a mesma decisão pode ser contrária, dado que um novo elemento foi capaz de refletir uma componente mais importante, que mudasse seu efeito, que tornasse mais amplo o foco de visão, permitindo uma análise da situação mais depurada tornando o padrão de visão crítico para o lado oposto do que se acreditava antes.



No senso crítico o padrão de normalidade é volátil, muda de sentido à medida que novos elementos são incorporados ao conhecimento humano. Por isto a ciência utiliza largamente tal padrão como regra associativa às descobertas e métodos empregados para tal fim em suas análises e metodologias empregadas. O censo normal para o crítico científico é aquele em que apresenta coerência com os métodos e processos estabelecidos para a análise de dados. O censo normal para o homem crítico é aquele em que apresenta coerência com as idéias estabelecidas que não gerem inconformidade com os elementos internos ou neurais que embasam sua forma atual de pensar.



Para alterar o censo crítico de um cientista basta apenas que os métodos dêem provas claras para a mudança abrupta do pensamento, mas para o homem crítico mudar sua forma de pensar é necessário mexer com as premissas que embasam sua linha de pensamento, de forma a justificar substancialmente a ruptura do modo de pensar para que o padrão de normalidade passe a ser outro adverso de sua forma de raciocinar. Para o homem comum, o não crítico, a mudança de uma padronização ou normalização é mais difícil de ocorrer, porque ele foi “projetado” ou “condicionado” a raciocinar de forma “padronizada” dentro de uma “normalidade” no eixo de suas idéias que não permitem ser tão voláteis assim.



Na esfera política padronizar parece ser algo comum. A criação de partidos normaliza idéias, torna núcleos de pessoas envoltas em contextos como, por exemplo, o partido que é a favor da “centralização”, outros “descentralização”, “legalização de contraceptivos”, “contra o aborto”, ou “a favor dos direitos humanos”, “defesa da natureza”,... canalizando indivíduos que pensam de forma semelhante a defenderem seus pontos de vistas criando uma normalização dentro do partido que identifica a forma de pensar do grupo perante uma sociedade. Para a política, na visão geral, isto é uma coisa boa, pois uma vez que o partido está no poder ele deve agir de acordo com a forma de pensar de seus membros. Quando o trabalho de base sobre a população já está concluído e ela outorga para tal partido o direito de representação a normalidade anterior deixa de prevalecer sobre o homem comum e passa a reger os valores e conceitos dos representantes do partido outorgado no processo eleitoral. É uma normalização lenta que se legitima quando o benefício do novo padrão é igualmente distribuído a todos ou a maioria de uma população.



Em termos de política pública governar para todos significa despender enorme força caso a população estiver bastante diversificada em suas idéias, mas se ocorrer das idéias da população estar concentradas em poucos eixos, ou seja, estão normalizadas em torno de poucas situações, é bem mais fácil implantar políticas capazes de atender as necessidades dos indivíduos. Por outro lado, este processo globalizante, inibe a criatividade, a autocrítica e a individualização do ser humano. O homem passa a depender cada vez mais de padrões estabelecidos para caminhar nas mesmas direções que o senso comum exige. E a individualidade vai sendo deixada de lado a favor da “normalidade” e a grande massa fica cada vez mais suscetível à manobra de poucos que detêm o controle sobre os meios de informação.



Instrumentos normativos tentam transformar matéria que não existe uma regra geral para a definição de conduta por parte dos cidadãos em atos cheios de regras que todos devem estar subordinados. Para ter efetividade é necessário que o instrumento tenha eficácia e eficiência, mas isto é obtido somente se houve legitimidade e a anuência por parte dos administrados que irá estabelecer uma relação causal como o instrumento normativo. Nem todo o instrumento normativo está dentro de um padrão normal, mas todo o instrumento normativo visa preencher ou determinar um padrão normal para os indivíduos de uma população.



Muitos pesquisadores tentam determinar o comportamento padrão de grupos para satisfazerem relações comerciais, governamentais, sociais, econômicas, de crédito e outras. O estudo dos comportamentos padrões ou dito normais é fundamental para política de massa, mas não absorve as reais necessidades dos indivíduos, apenas é uma forma de canalizar esforços para a realização de medidas globais sem se preocupar com as variáveis internas.



Por exemplo, um estudo da saúde verifica que 70% das crianças da cidade LenderBook sofrem de desnutrição. É normal encontrar crianças desnutridas nesta cidade. Então o prefeito da cidade parte por uma ação emergencial que é ensinar os pais a fazer o soro caseiro. Passado um mês os agentes voltam a fazer a pesquisa e descobrem que 23% das crianças de LenderBook são desnutridas. É normal agora encontrar crianças nutridas. Agora o município pode mostrar ao mundo que o seu índice de desenvolvimento humano elevou-se graças à política social desenvolvida. Mas o problema foi apenas mascarado, pois o principal motivo da desnutrição é a falta de mantimentos provocada pela falta de renda dos moradores que vivem com baixos salários ou o desemprego constante. Assim, o complexo vitamínico está apenas retardando um problema social que irá eclodir mais adiante.



Portanto, tome cuidado ao utilizar o termo normalidade indiscriminadamente, pois o seu uso incorreto apresenta-se como um preconceito e não um termo científico de causa e efeito. Espero que para você caro leitor seja normal concordar com as definições aqui expostas. Caso discorde, use seu senso crítico e se liberte do dogma da padronização.

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