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Artigos-->Depoimento -- 11/04/2008 - 14:55 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Depoimento



Délcio Vieira Salomon



Professor aposentado da UFMG – Diretor da Fafich (1978-1981) – fundador da Apubh-UFMG, autor de Como fazer uma monografia - A maravilhosa incerteza – Beira dos Aflitos – Na mesma tecla.







Ao pronunciar-me a respeito do lamentável acontecimento ocorrido no dia 03 de abril último com a invasão da Política Militar no Campus da UFMG quero, antes de mais nada, apoiar e elogiar a Nota de Repúdio lançada pela APUBH. Equilibrada e sensata. Apenas lhe faço pequeno reparo. Durante a ditadura militar não foram poucas, nem menos graves as agressões às liberdades de expressão dentro das Universidades, especificamente a UFMG, como diz a nota. O injustificável permanecerá sempre grave no leito da história, ad perpetuam rei memoriam. Jamais se há de condenar a violação de hoje minimizando as violações do passado. Não cabe também no momento comparar situações diversas, mas isso não impede que a força do repúdio de ontem não tenha sido tão forte quanto a de hoje para que a consciência nacional não caia no entorpecimento.



Para mim a recente invasão da PM, além de acerbadamente condenada por ferir de cheio a autonomia universitária, revela no mínimo que há algo de errado na condução daquela que é considerada a segunda maior universidade brasileira, chegando a ombrear com a UNICAMP.



Não estou para julgar pessoas, nem me cabe, por indigesto, o exercício inquisitorial. Mas algo me tem causado estranheza.



Primeiramente o papel das bruxas das coincidências em nosso país, notadamente em nossa Minas Gerais, quando acontecem episódios graves e mais se agravam pela constatação da ausência de responsabilização. Ficando só em nosso contexto regional e de memória a me deter nos principais:



Em 1997 quando do levante da PM em greve e rebelião de centenas de praças que culminou na morte do cabo Valério dos Santos, baleado em frente à sede da corporação, na zona Sul de Belo Horizonte, o governador Eduardo Azeredo estava ausente. Ausência que repetia a do mesmo governador na triste enchente de janeiro daquele ano que matou dezenas de pessoas. Na própria UFMG quando do Reitorado do Prof. César Sá Barreto houve invasão da PM no Borges da Costa, local da moradia estudantil e Sua Magnificência estava em viagem por Portugal. Agora a última invasão da PM foi "brindada" pela ausência do Reitor Ronaldo Pena e quem respondia pela reitoria era a vice, a Professora Heloisa Starling.



Dir-se-á: - tudo mera coincidência! Sim, mas não são as coincidências que causam estranheza e para os mais sensíveis perplexidade. O que nos atinge a todos é o que emerge por detrás das ditas coincidências: tentativas e mais tentativas de desresponsabilização. Tanto nos episódios com o governador como nos da UFMG, ninguém assume a responsabilidade pelo ato gerador dos graves acontecimentos. Todos ficam envolvidos numa velha tática política de moldar versões para que os fatos se eclipsem e acabem ficando impunes.



Pelas declarações ouvidas e lidas até agora ninguém se diz responsável pela convocação da PM para invadir o campus da universidade, espancar e prender estudantes e draconianamente sustar a sessão cinematográfica do Grass/Maconha e a discussão acadêmica que seguiria àquela apresentação. Mais uma vez pairam perguntas sem resposta, escamoteia-se a verdade, levantando-se cortina de fumaça com as açodadas criações de comissões de inquérito que nada ou pouco apuram. E quando esse pouco deixa de ser latente já obnubilaram os fatos e tudo escorre para a vala do esquecimento.



Independente do que venha a ocorrer, uma coisa é certa: mais uma vez e de maneira muito mais grave do que as anteriores a autonomia da Universidade foi ferida, ou melhor, foi pisoteada. E quem responde em primeiro lugar pela defesa da autonomia universitária é a Reitoria. É para sua defesa que existe o cargo e não para coroar carreiras acadêmicas muitas vezes e infelizmente trocadas pela volúpia do poder.



A mim me parece que a origem do último atentado à autonomia está no famigerado convênio feito pelo Reitor César de Sá Barreto com a Polícia Militar de Minas Gerais, aprovado pelo Conselho Universitário da época (quem sabe sem o devido aprofundamento da discussão que deveria preceder a aprovação) e certamente à revelia de todos os alunos, professores e funcionários da UFMG.



Por tudo isso, além do repúdio já feito, seja-me permitido breve problematização: Por que não aproveitar o momento, apesar de aflitivo, tão auspicioso, para retomar com toda a força o projeto de defesa da Autonomia da Universidade? Afinal é isto que está em foco. Deixe-se a comissão de inquérito correr paralelamente (quem sabe pode ficar até em plano secundário) e priorize-se o grande debate universitário: Que autonomia queremos de fato e de direito para a Universidade? Até quando a UFMG ficará garroteada por esta pseudo-autonomia pela qual está submissa ao MEC, a AGU, a tantos outros órgãos que vivem se ingerindo sorrateiramente em sua vida acadêmica e agora até inconstitucionalmente a uma entidade policial do Estado? Continuará a UFMG vivendo eternamente o drama da crise de identidade porque não sabe se continua autêntica universidade ou se será transformada em agência de ensino como as instituições particulares?

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