Toca o apito da fábrica.
O dia amanhece.
Homens e mulheres dirigem-se para seus empregos enterrando muitos de seus sonhos e projetos, em dias após dias, anos após anos.
Buscam a sobrevivência, sua e suas famílias, esquecendo de seus sonhos que há muito foram enterrados.
Os colégios buscam seus alunos em suas rotinas diárias, tentando esclarecer dúvidas não perguntadas, solucionando problemas desnecessários, narrando a história que foi escrita através de lutas e conquistas.
As lojas abrem suas portas.
O comércio desperta com suas ofertas e liquidações ilusórias.
É chegada a hora dos bancos abrirem suas portas, selecionando os clientes não metaleiros, engolindo-os um a um, para aninhá-los em suas longas filas, atrasando a todos para outras tarefas que ficam para "depois que o banco fechar".
O sino da igreja matriz soa doze badaladas.
As escolas agora vomitam seus aprendizes, abrindo espaço para a digestão do turno vespertino.
A cidade corre faminta para em poucos minutos alimentar-se com pequenos lanches e grande dietas, definhando desta maneira o bolso e a saúde da população.
A sesta é trocada por uma pestana realizada no banco do ónibus que leva de volta ao "castigo remunerado", ou por um pequeno cochilo em frente ao jornal da televisão.
E o dia vai findando.
Alguns voltam para seus lares televisivos, enquanto outros estressam-se por mais algumas horas em alguma escola noturna, tentando adquirir mais recursos para "engordar" seus salários, escolhendo muitas vezes uma profissão para satisfazer os sonhos frustados dos pais que não conseguiram prosperar e empurram os filhos para que estes façam o que eles não tiveram "oportunidade" de fazer.
E a noite chega e com ela vem todos os tipos de comemorações, possíveis e imagináveis, para relaxar de um dia estressante, fazendo com que as pessoas esqueçam por alguns minutos, que estão correndo para chegar a lugar nenhum.
E após dias, meses e anos, percebem que o tempo passou e não fizeram nada do que poderiam ou gostariam de ter feito.