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Cronicas-->Cronicas PALMARENSES -- 06/04/2002 - 09:45 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O cara que tinha mais apelido que eu já conhecera na vida, era o Dudu-bode-branco. Melhor: Eduardo Monteiro de Carvalho, filho da distinta e boa senhora D.Nina, guardada na memória da boa gente da rua que dava do centro da cidade para a Usina 13 de Maio. Por causa dela, a gente bulia sapecando escárnio prá cima dele, com o poema "Cinema" de Ascenso Ferreira: - "Mas, D. Nina, aquilo é que é o tal de cinema? O rapaz pega moça, pega aqui, pega acolá!..."
Da mangação, ele também se ria, nem aí. Pessoa pacata o Dudu.
Não conheço ninguém na terra dos Palmares que num tenha tirado uma casquinha de gozação com ele. E ele arremedando em cima da bucha, no mesmo tantim!
O Juarez Baixim mesmo que arrotava criatividade nos pelachos mais rebuscados: era Mila, Irmão Camelo, Padre-branco, Sivuca, Du-vitiligo, Pomba-branca, Alma-penada, Pelanco-de-anum, Sarará-da-véia, Retrato-do-Hermeto, vóte, num sei onde arrumavam tanta titulatura pro sujeito sangue bom. Era. Todo mundo quando lhe dirigia a palavra, chamava Du acrescido de qualquer adjetivo, não escapava. Volta e meia, um novo alcunha. Mas não era por despeita nem ridicularização nem rixa, não, era por gostar mesmo, só por bulir um com o outro. Munganga pura de maloqueiro velho.
O cabra até hoje é torcedor do Sport Club do Recife, rubronegro roxo, caixa exemplar do Bandepe (antes, banco do estado; hoje, agência integrante do maior conglomerado financeiro holandês), protestante não sei de que igreja cristã que frequentava a católica, catimbó, xangó, centro espírita, o escambau do sincretismo religioso!; não bebe, não fuma, bem casado com d. Fátima, direito, trabalhador, jeitoso e bem-quisto por todos. Não conheço na face da terra que tenha tido desavença com ele.
Na vera, só possui um defeito: ser meu amigo. Então, não tem nenhum - como dissera o escritor conterràneo Luiz Berto no prefácio de um dos meus livros publicados - e, se botarem, eu tiro; arranco na hora qualquer peçonha que possa macular meu amigo.
De tão direito chego a imaginar como é que ele foi logo de arrumar amizade torpe feito a minha. E pior, ainda separava os uísques que ganhava só para que eu pudesse encher a tampa quando desse de passar pela sua residência. Espia só, o desmantelo. Era, era ele e o Santanna, o Cantador, ambos não bebiam - o bode nunca bebera, que eu saiba pelo menos; já o Santanna, esse já se perdera e muito, de hoje ser completo abstêmio -, eu chegava lá, traziam logo um escocês para eu bater o centro com as minhas pacutias. E só saía trocando as pernas, avalie.
Do Dudu-bode-branco, fomos colegas de banco, trabalhamos alguns anos juntos. Depois, o Eduardo Priquitim - a quem o Tininho arriava mangação e eu só o tratava por Gotama Bunda, o Sabetudo, e que por sua vez era vizinho do bode e trabalhou comigo quando eu era redator-chefe da Quilombo FM -, e toda vez que os transmissores da emissora pifavam, eu ia buscar do Priquitim para solucionar o problema. E quando levava o engenheiro eletrotécnico de volta e encontrava o Bode, era uma zona. A gente puxava conversa do arco da velha, rememorando as coisas boas de antanho.
Um dia lá, eu havia realizado um show, o "Por um novo dia", e o Bode que sempre esteve na primeira fila das minhas apresentações e eventos, queria rever a fita que o Givanilton Mendes havia filmado. Espia só. Eu, num sábado, de meio-dia prá tarde, cheio dos quequéos, recebi a cobrança e fui em casa buscá-la. Não podia fazer desfeita com o dileto amigo. Cumpri o trato. Ia emprestá-la para que ele pudesse rever, mas um convite para sapecar uma beiçada num Johnye Walker Blue não dava para abrir da vela. Arranchei-me lá, finquei o dente nas talagadas, baforando até altas horas da noite, um pascaio atrás do outro, maior fumaceiro de conversa mole. Ele, a Fátima, esposa dele, e as filhas que sempre tratei carinhosamente por cabritinhas, nem tavam aí num desgrudando um segundo sequer do vídeo, tudo levando a maior baforada do cigarro e doidices ébrias que eu insanamente emanava.
Gente, aguentar cachaça de bêbo num é mole. E eu mais ficava espaçoso, adiantado, pendurando os pés numa cadeira, desabotoando a camisa, espragatado todo na poltrona, cheio de nove horas, mentia exageradamente, inventava situações nunca dantes acontecidas, enrolava a conversa de só ver-lhes os olhos abuticados de supresa, mais de meia-noite e o litro já enxutinho, dei-me licença de ir embora. Parecia mais que quem estava em casa era eu.
Quando me levantei, o coral:
- Não, fique mais um pouquinho, a conversa tá muito boa! Tem outro litro de uísque lá dentro, venha, chegue!
Hum! Parecia verdade mesmo. Se fosse eu, trazia era um litro de estricnina ou de qualquer veneno brabo que alcançasse. Mas, incrédulo, não poderia ponderar como era uma coisa daquela. Se espremeram tanto para eu num ir embora que quase fico de vez. Não sei como num fui botado de casa prá fora pelo paciente anfitrião e familiares que sempre se recolhiam cedo, por volta das nove da noite e já beirava as duas da madrugada. Imagino que já devia de ter uma penca de vassouras entulhadas de cabeça prá baixo atrás da porta da cozinha, rezando pr eu arribar logo e deixá-los em paz para todo o sempre, amém. Ele aguentou resignado, aliás, todos aguentaram. E o que é pior (ainda tem pior de novo, gente): me convidaram para voltar na semana seguinte. Pode? Eles devem de ter ficado se martirizando trancados pela reapresentação do convite. Ou, estavam doidos: eu bebia, eles que ficavam desmiolados. Só sei duma: deixei uma inhaca triste no recinto de dormirem uns oito dias com as portas abertas e com as maiores baforadas de aromatizante para desimpestar o ambiente. Sei que era um tossido frouxo, uma falta de ar desgraçada, do povo adoecer de passar uns quize dias se desintoxicando. Eita, Bode! Essa foi de lascar. Tem amigo safado quem pode, né? Beijão pr ocês! Bié, bié, glup, glup!

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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