Cause My Joyce Will Go Ann.
Outono, sábado, 22 horas, 51 minutos, 17 de abril, a pressão atmosférica ao nível do Mar Azul do Guarujá é de 759 mmHg. Ao meu lado uma prova de que a Natureza pode às vezes ser perfeita. Peso: 49,9 kg, altura: 164 cm, pressão arterial máxima sistólica: 118 mmHg; mínima diastólica: 68 mmHg. Pulso: 92,8 por minuto. Idade: quatorze. Nome: Joyce Ann.
Meio assustada, inocentíssima — porém muito saudável, inteligente, curiosa... e lolita, naturalmente.
Um pouco mais tarde, olhos fechados, a Musa torna o começo da madrugada mais brilhante que aurora trazida por Lúcifer. Sua mãe, zelosa porém cansada de tanto nos cuidar, vai dormir, deixando a incumbência para Simone, irmã mais velha — que meia hora depois dormiu de roupa e tudo no outro sofá. Ou seja, Deus, em sua magnífica bondade, foi preparando o mundo para que só nós dois ficássemos acordados esta noite. Deitada com a cabeça em meu colo, mãos infinitamente dadas, após nelas ter passado creme suíço Collagen Elastin, ouvíamos o cd que ela trouxera: Celine Dion. A música: My Heart Will Go On — repetindo por mais de vinte vezes.
As luzes, apagadas, e o controle remoto por perto para desregular o som de acordo com o desejo dos Deuses. Um pé esquerdo de sandália preta na cabeça da estátua argentina que tenho na sala. O fascículo com a biografia de Delacroix, que havia lido antes para ela, aberto na página em que a Liberdade conduz o povo. São detalhes que hoje moram no meu peito como se fossem meu doce Inspírito Santo. Momentos que ainda hoje me parecem o resumo dos últimos cinco mil anos da História.
Quem nunca viveu um grande amor assim — com tal e tamanha intensidade — não sabe o que está perdendo.
MUDE |