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Artigos-->APRESENTAÇÃO DE "FORTUNA CRÍTICA" -- 19/03/2008 - 21:30 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
APRESENTAÇÃO: FORTUNA CRÍTICA



Hardi Filho *



Nas comunidades humanas costuma-se falar de “laços de amizade” quando pessoas se relacionam bem e são solidárias entre si em todas as horas e situações. Entre mim e o autor deste livro (...) não há laços de amizade. O que há, realmente, é um “nó de amizade”, um nó daqueles que o caboclo chama de “nó cego”, impossível de ser desatado. Como isto aconteceu e acontece eu não sei. Creio que seja um caso de sintonia vital: não que sejamos iguais no modo de pensar e escrever, mas semelhantes, muito semelhantes não só na estrita acepção da palavra, mas na modéstia de nossas origens, na simplicidade de nossas vidas, na constância do nosso ânimo literário, na firmeza do nosso idealismo e, ainda, na consciência dos nossos limites; e também, ouso dizer, na certeza e no íntimo orgulho de nossas qualidades.

Na escrita, todos sabem, somos até bastante diferentes. Eu comecei sob a influência dos clássicos românticos; Francisco Miguel de Moura já era ligado à corrente moderna. Repito: para o estabelecimento desta amizade indissolúvel contribuiu na certa um conjunto de fatores: o pendor intelectual, a retidão de caráter, a conduta familiar, a postura digna frente às dificuldades, vicissitudes e conquistas, a permuta de idéias, o pensamento sempre alerta às conceituações, a permanente disposição para as conversas relacionadas com os grandes e pequenos mistérios da Existência, da vida neste planeta Terra, onde vivemos o mundo das nossas impressões (..). Existem evidentemente outros elementos contributivos, mas não há dúvida de que as impressões, boas e más, influem no cotidiano de todos nós.(...) Embora haja no próprio nome – impressão – um quê de provisoriedade, tem impressões que nascem com a marca do definitivo, sejam elas edificantes e prazerosas ou indicativas de caminhos e exemplos a não serem seguidos. O fato é comprovado no nosso dia-a-dia. Um sem-número de impressões se modificam com o passar do tempo. Poucas são as impressões que perduram da forma como surgiram. A digressão teve o intuito de enfatizar os casos de impressão boa e definitiva, que proporcionam satisfação duradoura, que contribuem para a nossa vida de paz e confiança. Creio que tal foi a impressão que tivemos um do outro, eu e Francisco Miguel de Moura, quando nos conhecemos em 1965 ou 66, não sei ao certo. Faz tanto tempo.

Mas vamos ao que interessa. O soneto, já disseram e ainda dizem, é a minha forma poética preferida; preferência, aliás, mostrada desde o primeiro livro – “Cinzas e Orvalhos” ;– em 1964. Chico Miguel, eclético, também soneteava no seu primeiro livro ;– “Areias” – mas ali já imprimia a sua característica modernista. A convivência com Chico Miguel e o contato com a poesia de Fernando Pessoa me animaram a fazer incursões por caminhos poéticos mais atualizados. Por outro lado, a convivência comigo, creio, influiu um pouco para que Chico Miguel nunca desprezasse a forma dos catorze versos; prova disso são os seus “Sonetos da Paixão” (1988).

Francisco Miguel de Moura, eu já o disse 12 anos atrás saudando-o na Academia, sabe ser um poeta ao nível das elites culturais, mas quando quer sabe também a comunicação simples e popular das idéias e dos sentimentos, sem prejuízo da arte e da correção de linguagem. (...) FMM, simplesmente uma afirmação de competência literária, (...) transpôs o portão do Parnaso, “de pé direito à frente”, como bem o disse Fontes Ibiapina na apresentação de “Areias”, datada de 18 de dezembro de 1965.

Neste momento, apresentar o livro (...) de um amigo de tantos anos, companheiro de movimentos lítero-culturais, colega na criação de CLIP, colega na UBE, colega na APL, é agradável oportunidade de relembrar um passado de lutas produtivas, quase diria – heróicas, no enfrentamento e na transposição de inumeráveis obstáculos, na superação de precariedades do meio, da falta de apoio do poder público e da indiferença geral reinante naqueles tempos, enfim situações que, naturalmente de menor porte, ainda acontecem nos dias atuais. Realmente nos orgulha e emociona lembrar que foi nessas condições que transcorreu a nossa mocidade, a juventude de muitos de nós, num trabalho idealista, num contributo que, prosseguindo na idade madura, permanece ativo até agora, mercê da abnegação de vocacionados e eternos sonhadores, alguns dos quais já se tornaram, por assim dizer, figuras representativas de movimentos marcantes na vida literária do Estado do Piauí. Hoje e aqui, o exemplo de Francisco Miguel de Moura.

(...) Não entro no mérito da versatilidade do escritor, na importância de sua vasta produção em verso, e em prosa: na ensaística, na historiografia, no romance, na crônica e na crítica. Destaco apenas o sonetista, o sonetista capaz de encarar um desafio poético quando este se enseja como exercício edificante de criação literária. Aliás, foi o que aconteceu entre nós dois, há pouco tempo, quando ele ousou contestar o conteúdo realista de um soneto meu que tratava dos efeitos do tempo na pessoa humana. Eu rebati a sua contestação com outro soneto; ele replicou; eu trepliquei, e então por várias semanas mantivemos um prazeroso desafio sonetista sobre o Tempo, um tema realmente instigante. O desafio, uma intercalação de idéias e conceitos a quatro mãos, resultou num original volume de 52 sonetos intitulado “Tempo Contra Tempo”. Deliberadamente não entrei na crítica elogiosa ao livro de Francisco Miguel de Moura, como decerto fariam e de maneira exemplar apresentadores cultos e entendidos na matéria. Preferi tentar chamar a atenção de todos para essa forma fixa de poesia, que chegou até nós, que nunca sumirá, e que no passado mereceu honras e compensações valiosas de reis e de homens de Estado. (...) No entanto, na modéstia dos meus conhecimentos no assunto, garanto que eles, os SONETOS... de Francisco Miguel de Moura, são compostos com “arte e substância imaginativa.” E não desperdiço a oportunidade de mais uma vez afirmar que a literatura piauiense é até melhor, em qualidade, do que a de vários centros culturais tidos e havidos como de primeira linha no Brasil.

____________________________________

*Hardi Filho, poeta, cronista, crítico literário e membro da Academia Piauiense de Letras, apresentou Francisco Miguel de Moura, na ocasião do lançamento de SONETOS ESCOLHIDOS – de cujo discurso foram retirados estes trechos.



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