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Artigos-->PORTUGAL FUTURISTA -- 16/03/2008 - 01:21 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PORTUGAL FUTURISTA

Uma revista marcante no panorama da literatura portuguesa de vanguarda em 1917





João Ferreira

15 de março de 2008



Pelos anos de 1946 eu ainda era estudante de Filosofia. Nessa altura tínhamos como cérebro orientador e atualizado o amigo e escritor Armindo Augusto, um franciscano muito culto, que privava de perto com a simpatia e a confiança do poeta e escritor Miguel Torga, médico literato independente que clinicava em Coimbra. Armindo Augusto caminhava na contramão dos críticos nacionais e tradicionais. Ele conhecia de perto tanto a geração de Orpheu quanto a Geração da Presença e era amigo de vários monstros sagrados da Literatura, além de Torga. Falava-nos com entusiasmo não só de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, mas de José Régio, de Miguel Torga e José Duro, sempre nos atualizando sobre correntes, autores e obras da literatura portuguesa contemporânea. Descobria autores e nos dizia o que havia sido publicado com qualidade sobre esses autores. Percebendo um dia que queríamos saber sobre a geração de Orpheu e suas idéias futuristas, lembrou-nos que fora publicada em 1917 uma revista chamada “Portugal Futurista” que representava oficialmente a voz portuguesa do Futurismo. E mostrava ao vivo o panorama da vanguarda literária portuguesa no início do século XX. Tornar possível a consulta dessa revista era tarefa difícil. A primeira edição estava esgotada desde há muito e só era encontrada em bibliotecas literárias especializadas. Por isso, nossa cabeça pensava ser viável encontrá-la ou na Biblioteca Municipal do Porto, ou na Biblioteca Nacional de Lisboa ou na Biblioteca da Universidade de Coimbra para consulta. Dentro deste panorama de difícil acesso, a maior parte das pessoas tinha porém a possibilidade de usufruir de informações indiretas sobre o movimento futurista em Portugal e sua revista nas histórias da Literatura, principalmente na de Antônio José Saraiva e Oscar Lopes.

Já na década de 80, aconteceu que Adriano de Carvalho, embaixador de Portugal junto do Governo Brasileiro em Brasília, me ofereceu uma linda e sugestiva edição fac-similada feita pela Contexto Editora, de Lisboa, em 1981. Em Capa laranja, muito sugestiva e inteirinha, essa edição dava-me a alegria do conhecimento direto deste grupo de escritores portugueses que enveredaram pela teoria e produção de textos relativos ao que chamavam então de Futurismo, um rótulo que vinha desde o , publicado por Marinetti em 1909, com toda a colaboração que eu desejara ter lido bem antes. Abrindo, a edição “Portugal Futurista” da Contexto Editora traz um oportuno artigo de Nuno Júdice (V-XIII). Para que o leitor tenha toda a cronologia que explica a evolução e o desenvolvimento do Futurismo em Portugal, os editores alinham a “cronologia do futurismo em paralelo com os principais acontecimentos literários (XIV-XVIII)”, depois um longo e detalhado estudo de Teolinda Gersão “Para o estudo do Futurismo literário em Portugal”(XIX-XXXIX) e só depois é que abre solene a capa de “Portugal Futurista” com três personagens em destaque: Santa Rita Pintor-José de Almada Negreiros e Amadeo de Souza-Cardoso. Vêm depois, anunciados ainda em plena capa, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Raul Leal, Álvaro de Campos e Blaise Cendras. A revista é caracterizada como “publicação eventual” e Carlos Filipe Porfírio aparece como director e Fundador. E como Editor, S. Ferreira. Almada Negreiros abre com o artigo “Bailados Russos em Lisboa”, quase um tipo de manifesto dirigido aos portugueses para lhes dizer : “Os bailados russos estão em Lisboa”Isto quer dizer: uma das mais belas étapes da civilização da Europa moderna está na nossa terra”: “ Os bailados russos são a melhor expressão de Arte que hoje podemos aconselhar porque elles explicar-te-hão a Sublime Simplicidade da Vida onde tu, Portuguez, vives ignorantemente crucificado”! Em seguida Bettencourt-Rebello dedica duas páginas a Santa-Rita Pintor, com um quadro exibindo bizarramente “Santa Rita Pintor, o grande iniciador do Movimento Futurista em Portugal”. Depois segue-se um artigo sobre o Futurismo também de Bettencourt Rebello, e, logo, o “Manifeste des Peintres Futuristes” (em francês) e “L’abstractionisme futuriste”, também em francês, com uma divagação ulttra-filosófica-vertigem a propósito da obra genial de Santa Rita Pintor, “abstração congenital intuitiva (matéria-força), a suprema realização do futurismo de Raul Leal. Logo em seguida o texto “Saltimbancos (Contrastes simultâneos”), datado de 1916, de José de Almada-Negreiros e Santa Rita-Pintor. Em seguida, o poema “Arbre” de Guillaume Apollinaire, também em francês, e “Três Poemas” de Mário de Sá-Carneiro e “Episódios” e Ficções de Interlúdio de Fernando Pessoa. O texto poético de Blaise Cendras “A la Tour-1910. Du Nord au Sud Zenith Nadir et les grands cris de l’Est L’Ocean a l’Ouest se gonfle la Tour a la Roue s’adresse Guillaume Apollinaire. Noutra página, a dar seguimento à revista futurista, Mima-Fataxa de Almada Negreiros. Em destaque mais pronunciado, o Ultimatum de Álvaro de Campos que é “Um mandado de despejo aos mandarins da Europa” (pp.30-34) e Primeira conferência futurista de Almada Negreiros: “Ultimatum futurista às gerações Portuguezas do século XX.”. Depois o “Manifesto futurista da Luxúria” de Madame Valentine de Saint-Point, em português, e o Music-Hall, manifesto futurista de Marinetti publicado no Daily Mail de 21 de novembro de 1913. E assim fechava o n. 1 de “Portugal Futurista”, que foi colocado à venda nas bancas ou quiosques, como se dizia no tempo, a 40 centavos. Todo o conteúdo desta revista pode ser lido e interpretado com mais segurança, acompanhando os textos, através do detalhado estudo de Teolinda Gersão, acima citado.



FONTE

Portugal Futurista. Lisboa: Contexto Editora, 1981.(Edição facsimilada).



João Ferreira

Brasília, 15 de março de 2008

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