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Artigos-->A NECESSIDADE DA ARTE -- 07/03/2008 - 08:15 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A NECESSIDADE DA ARTE



Ernst Fischer, intelectual austríaco da resistência, era jornalista, escritor, poeta e crítico de arte. Nasceu no fim do século 19 e participou ativamente das lutas políticas do seu tempo. O título acima, tomei-lhe emprestado de um velho livro dos anos sessenta, quando também nós, jovens brasileiros, sentimos na carne, outros mais, alguns menos, as agruras e impiedades do regime militar, durante a tomada de poder, no governo Goulart. Particularmente, comecei a lidar com arte, aos dez anos de idade, quando, num aniversário suburbano, sonorizado de alto-falantes, fui obrigado pelo velho Raul, meu pai, a cantar uma certa música, que houvera composto na noite anterior. Memória de elefante teria eu, se algum desses leitores mais exigentes ousasse sabiamente me perguntar sobre o que se tratava. Depois dessa experiência imberbe e bastante elucidativa para o objetivo desse artigo, comecei a me interessar tanto pelas artes em geral, que, se não sou artista hoje em dia, deve-se a algumas circunstâncias talvez relevantes. Desde então, com algumas incursões na música, com o apoio de um curso elementar que fiz na Escola Industrial, como era chamado o hoje ETEPAM, tive a honra de estudar com uns certos maestros já famosos e um não menos percussionista, Naná Vasconcelos, a quem tomávamos, um do outro, a aula de solfejo.

O velho e sábio Fischer, tivera sido inclusive, ministro da Educação do seu país, exercendo forte influência sobre a juventude e, mais efetivamente, sobre o programa de trabalho a que a arte como manifestação inerente ao homem sói disseminar em seu meio. Num paralelo com essa assertiva, lembro-me bem que durante nossa estada na tal Escola Industrial, onde o regime de ensino era integral e alguém poderia escolher e expandir uma profissão, o programa governamental de um tal Jurema – não recordo o pré-nome - estava necessariamente voltado para a inserção do aluno no gosto pelas artes plásticas, música, mecânica, desenho, escultura e por aí vai. Ali, naquele modesto porém organizado centro de ensino de artes e ofícios, tomávamos gosto pelas artes, tanto que terminei desembocando na música, numa banda de música, donde saíram figuras de relevo, principalmente o maestro Mário Câncio, recém-falecido, a quem devo uma eterna gratidão por me ter apoiado como cantor e compositor. Na Áustria, Ernst Fischer, no início do século 20, era dotado dessa visão acolhedora, incentivadora e transformadora do social, que é a arte, qualquer que seja sua manifestação, onde quer que se instale e se propague. Ademais, sua frase famosa, repetida ad nauseam pelo Antônio Cândido, não seria enfadonho repetir: “A arte não é feita para passar por portas abertas, mas para abrir portas”. O engajamento, a weltanschaaung, do qual falam os alemães, atingem-nos por completo, nos nossos dias, onde uma nova visão de mundo há que ser reconstruída, há de ser reinstalada, posto que perdida nos tempos do descaso e do oba-oba, onde o que menos interessa é o belo em si. De f ato, existem aqui e ali, alguns esforços espontâneos e sistemáticos, a fim de levar a arte ao povo e fazer dela um elemento de catarse, de testemunho humanístico... mas ainda é pouco. Urge que as escolas adotem um modelo mais do que facultativo ao acesso e à compreensão da arte: da música, da literatura, da pintura, da escultura e do desenho livre, tal como se vê no grafite encontrado nas ruas, como um elemento de inclusão social e de engajamento humano. Jamais me esquecerei, tanto quanto nunca me arrependerei de, aos dez anos de idade, ter sentido o primeiro grande e longo alumbramento, e de me ter musicalizado até os dias de hoje, quando sinto e insisto em persuadir os jovens mais próximos, a exemplo do meu próprio filho, a fazer da arte, sua principal razão de viver para uma sobrevivência mais digna, independentemente da profissão que tenha escolhido e de tal modo que possa, indiretamente, mitigar as dores deste vasto mundo.

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WALTER DA SILVA – Administrador e Prof. Universitário

(publicado no JORNAL DE IDÉIAS, março de 2008)

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