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Artigos-->CARTA DE FIDEL CASTRO -- 24/02/2008 - 23:24 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A quem procura a verdade sobre Cuba importa ler e até guardar em seus arquivos a Carta de renúncia de Fidel Castro em 19.02.2008





Queridos compatriotas:



Prometi-vos na passada sexta-feira, 5 de Fevereiro, que na próxima reflexão abordaria um tema de interesse para muitos compatriotas. Desta vez, a reflexão assume a forma de mensagem.



Chegou o momento de eleger o Conselho de Estado, o seu Presidente, Vice-presidentes e o Secretário.



Desempenhei o honroso cargo de presidente durante muitos anos. Em 15 de Fevereiro de 1976 foi aprovada a Constituição Socialista por voto livre e secreto por mais de 95% dos cidadãos com direito a voto. A primeira Assembleia Nacional constituiu-se em 2 de Dezembro desse ano e elegeu o Conselho de Estado e a sua Presidência. Antes exerci o cargo de Primeiro-Ministro durante quase 18 anos. Sempre dispus das prerrogativas necessárias para levar em frente a obra revolucionária com o apoio da imensa maioria do povo.



Conhecendo o meu estado crítico de saúde, muitos no exterior pensavam que a renúncia provisória ao cargo de Presidente do Conselho de Estado em 31 de Julho de 2006, que deixei nas mãos do Primeiro Vice-Presidente, Raul Castro Ruz, era definitiva. O próprio Raul, que adicionalmente ocupa o cargo de Ministro das F.A.R. por mérito pessoal, e os restantes companheiros da direcção do partido e do Estado, foram renitentes em considerar-me afastado dos meus cargos, apesar do meu precário estado de saúde.



Era incómoda a minha posição perante um adversário que tudo fez para se desfazer de mim e não me agradava nada satisfazê-lo.



Mais tarde recuperei o domínio total da minha mente, a possibilidade de ler e, obrigado pelo repouso, pensar muito. Tinha a força física suficiente para escrever longas horas, as quais dividia com a reabilitação e os programas necessários à recuperação. Um elementar senso comum dizia-me que essa actividade estava ao meu alcance. Por outro lado, quando falava da minha saúde, preocupou-me sempre evitar ilusões que no caso de um desenlace adverso, trariam notícias traumáticas ao nosso povo no meio da batalha. Prepará-lo para a minha ausência, psicológica e politicamente, era a minha primeira obrigação depois de tantos anos de luta. Nunca deixei de referir que se tratava de uma recuperação «não isenta de riscos».



O meu desejo sempre foi o de cumprir até ao meu último alento. É o que posso oferecer.



Aos meus queridos compatriotas, que recentemente me deram a imensa honra de me eleger para o Parlamento, em cujo seio se devem adoptar decisões importantes para o destino da nossa Revolução, comunico-lhes que não aspirarei nem aceitarei – repito – não aspirarei nem aceitarei, o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante em Chefe.



Em breves cartas dirigidas a Randy Alonso, Director do programa Mesa Redonda da Televisão Nacional, que a meu pedido foram divulgadas, discretamente se incluíam elementos desta mensagem que hoje escrevo, apesar de nem sequer o destinatário das missivas conhecer o meu propósito. Tinha confiança em Randy porque o conheci bem quando era estudante de jornalismo, e me reunia quase todas as semanas com os principais representantes dos estudantes universitários, do que já era conhecido como a alma do país, na biblioteca da ampla casa de Kohly, onde se albergavam. Hoje todo o país é uma imensa Universidade.



Parágrafos seleccionados da carta enviada a Randy em 17 de Dezembro de 2007:



«A minha mais profunda convicção é que as respostas ao actuais problemas da sociedade cubana, que possui uma média educacional próxima dos doze anos, quase um milhão de pessoas com cursos universitários e a possibilidade real de estudo para os seus cidadãos sem discriminação alguma, requerem respostas mais variadas para cada problema concreto que as contidas num tabuleiro de xadrez. Nem um só detalhe se pode ignorar, e não se trata de um caminho fácil, se queremos que a inteligência do ser humano numa sociedade revolucionário prevaleça sobre os seus instintos».



«O meu dever elementar não é apegar-me aos cargos, nem muito menos obstruir a passagem a pessoas mais jovens, mas contribuir com as experiências e as ideias cujo modesto valor provém da época excepcional que me calhou viver».



«Penso como Niemeyer que há que ser consequente até ao final».



Carta de 8 de Janeiro de 2008:



«… Sou partidário decidido do voto unido (um princípio que preserva o mérito ignorado) [1]. Foi o que nos permitiu evitar a tendência para copiar o que vinha dos países doantigo campo socialista, entre elas o retrato de um candidato único, tão solitário como, simultaneamente, tão solidário com Cuba. Respeito muito aquela primeira tentativa de construir o socialismo, graças ao que pudemos continuar o caminho escolhido».



«Tinha bem presente que toda a glória do mundo cabe num grão de milho», reiterava naquela carta.



Portanto, atraiçoaria a minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e uma entrega total, que não estou em condições físicas de oferecer. Digo-o sem dramatismo.



Afortunadamente, o nosso processo conta ainda com quadros da velha guarda, juntamente com outros que eram muito jovens quando se iniciou a primeira tapa da Revolução. Alguns, quase meninos, juntaram-se aos combatentes das montanhas e depois, com o seu heroísmo e as suas missões internacionalistas, encheram de glória o país. Têm a autoridade e a experiência para garantir a substituição. O nosso processo dispõe ainda da geração intermédia que connosco aprendeu os elementos da complexa e quase inacessível arte de organizar e dirigir uma revolução.



O caminho será sempre difícil e requererá o esforço inteligente de todos. Desconfio dos caminhos aparentemente fáceis da apologética, ou da autoflagelação como antítese. Preparar-se sempre para a pior das variantes. Ser tão prudentes no êxito como firmes na adversidade é um princípio que não pode esquecer-se. O adversário a derrotar é extremamente forte, mas mantivemos a fronteira durante quase meio século.



Não me despeço de vós. Desejo apenas combater como um soldado das ideias. Continuarei a escrever sob o título «Reflexões do companheiro Fidel». Será uma arma mais do arsenal com o qual se poderá contar. Talvez a minha voz seja escutada. Serei cuidadoso.



Obrigado



Nota do tradutor:

[1] Voto em lista de nomes



Publicado no Granma de 19 de Fevereiro de 2008



Tradução de José Paulo Gascão

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