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Artigos-->A Humildade -- 10/02/2008 - 15:51 (Max Diniz Cruzeiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A humildade ocorre quando um indivíduo detém um conhecimento superior a outro e na hora de manifestá-lo se subtrai de todo o saber que ele proporciona para se comunicar no mesmo nível de conhecimento da pessoa comum, transmitindo-o em uma linguagem que é amplamente utilizada pelos seus companheiros do grupo. O humilde está ligado também à capacidade da pessoa abdicar de um grau de hierarquia mais alto para se expressar na base da pirâmide como uma forma de mostrar sintonia com o divino ou o sagrado. É importante lembrar que tudo o que é captado pelos sentidos humanos é considerado aqui como uma unidade de informação e não apenas conhecimento desenvolvido através de estudos.



A pessoa humilde é sintetizada por uma série de valores estruturais e complexos que garantem sua condição que poderiam ser sintetizada pelos princípios ou sementes-valores: simplicidade, conduta, princípio da honestidade, princípio da não humilhação, princípio da tolerância, bondade, solidariedade, ética, temperança, felicidade, união, princípio da não soberba, princípio da não vaidade, amor, princípio da igualdade de si mesmo perante o próximo, princípio da valorização do próximo, princípio da não hierarquia entre desiguais, princípio da preservação cultural com antepassados e princípio da retórica baseada em ensinamentos de conhecimento e domínio público.



A simplicidade é um componente muito importante para quem é humilde. O simples busca formas de expressão que a pessoa comum ou o grupo que está dirigindo a palavra é capaz de compreender os códigos, símbolos e sinais utilizados para a expressão do pensamento. Os símbolos já estão contidos no cérebro dos ouvintes, porém as correlações ou associações não foram formadas por falta de outros elementos ou informações que indicassem exatamente as junções que deveriam ser criadas, para isto o interlocutor abre mão de seu conhecimento teórico e canaliza tais informações de uma forma que o comum possa chegar às conclusões por si mesmo, apenas ligando os fatos expostos. Nem sempre o que é simples para uma pessoa pode parecer simples para outra. Então esta tal “simplicidade” é relativa ao saber ou conhecimento de um grupo de pessoas que detém relativamente um conhecimento de nível semelhante com trocas de informações constante que garantem o nivelamento das informações.



O indivíduo simples é capaz de abstrair todo o seu conhecimento teórico para fazer chegar à informação a uma pessoa que detém supostamente menos conhecimento que ela sobre determinado assunto. Repare que quando um conhecimento é ampliado na mente de um indivíduo, isto não significa que ele deixou de ser simples, ele se tornou mais culto, porém o código de expressão que ele utiliza continuou o mesmo. Para que uma pessoa saia da simplicidade por sua forma natural de ser, ela deve elevar o nível de códigos que possui. Este seria o caminho inverso da simplicidade, mas é necessário para que o indivíduo busque suas informações nas fontes primárias do conhecimento livrando-o da dependência do saber de outras pessoas que detêm a dignidade de se tornarem humildes para transmitir o conhecimento no mesmo nível que o saber comum.



A conduta do humilde é um diferencial numa comunidade, pois as pessoas o reconhecem por suas ações, seus modos, seus costumes. Existe certa coerência no comportamento que o torna uma pessoa respeitável e confiável. O humilde geralmente é uma pessoa bem quista, todos ou quase todos zelam para que seus humildes possam viver na tranqüilidade de seus lares, pois são “pessoas de paz” não desejam o mal a ninguém, quase sempre não se ressentem com o mal que lhes fazem, ou se ressentem costumam a guardar para si até determinado nível. E até são respeitados quando saem do seu normal para expressar um sentimento de dor, angústia ou descontentamento. Este padrão de comportamento geralmente é disseminado nas classes sociais mais baixas da população, pois as pessoas têm um nível melhor de agregação e de mútua ajuda. Nestas classes sociais aqueles indivíduos considerados mais individualistas são naturalmente excluídos da comunidade e não conseguem uma grande penetração na comunidade quando precisam de ajuda, pois sua conduta passada reflete um senso social de não humildade que os tornam estranhos no “ninho”.



O princípio da honestidade fala que o humilde é aquela pessoa dotada de simplicidade cuja sua palavra é uma verdade quase incontestável a não ser que se prove por meio de outro conhecimento sua falsidade, porém o erro do humilde não reflete uma falha em seu caráter e sim uma falha em seu conhecimento. O falso humilde, aquele que engana ou abstrai por meio deste artifício é considerado pelo povo como uma pessoa “fingida”. Os fingidos não têm credibilidade, suas informações geralmente são forjadas e os intuitos são percebidos por outras pessoas que observam a forma em que os fatos são lançados numa seqüência de um diálogo.



No princípio da não humilhação, o humilde não usa do artifício de comunicar um fato pelo simples prazer de demonstrar conhecimento superior a outro. Ele utiliza do mecanismo primordial que já foi explicado aqui, a simplicidade, e não utiliza esta última como um meio de elevar-se e fazer com que a auto-estima do outro indivíduo decaia ou sua própria auto-estima se eleve. O verdadeiro humilde pelo princípio da não humilhação deseja apenas transferir a informação num linguajar que a pessoa possa compreender integralmente os fatos sem procurar a intenção de agregar outros elementos que envolvam a estima. Observe que às vezes o humilde deseja passar uma informação, mas o indivíduo não está preparado para ouvir. Ao tentar passar um conhecimento o receptor pode interpretar como uma intervenção ao seu conhecimento e procurará o caminho do ressentimento para justificar a barreira que ele criou involuntariamente para absorver o conteúdo que está sendo transferido. Em casos como este o indivíduo que detém o saber não deve insistir e deixar que a pessoa amadureça e esteja pronta para adquirir a informação.



O princípio da tolerância prevê que o humilde jamais deve levantar-se a voz para terceiros, pois estará sendo intransigente. A intransigência é um ato de elevar-se abruptamente de nível hierárquico para fazer valer o seu conhecimento ou opinião sobre as demais pessoas. É uma afronta e uma forma de submissão. Já a tolerância é calcada em valores como paciência, altruísmo, compreensão e misericórdia. O tolerante tem a humildade de esperar a sua vez ou sua oportunidade para praticar determinado ato ou ação. Não se importa se “beltrano” ou “sicrano” conseguiram primeiro. Ele será humilde o suficiente para esperar a sua hora. Numa roda de amigos saberá ouvir pensamentos contrários aos teus, como também saberá a hora exata de expor os seus pensamentos de uma forma que faça os outros e os “intolerantes” refletirem sobre suas opiniões. O humilde não está atrás da polêmica, ele quer apenas ser ouvido e ser respeitado em suas opiniões, também não deseja ser o centro das atenções e também não convencer ninguém, mas espera ampliar o seu conhecimento e dos outros que estão trocando informações.



A bondade muitas vezes é associada ao humilde, pois ele não espera nada em troca, a não ser crescimento pessoal que não é muito valorizado como base de troca na esfera das necessidades vitais dos seres humanos. Esta espécie de troca, embora imperceptível é mútua. Veja o caso de inúmeros estudiosos indígenas que se ofereceram para estudar o comportamento social dos índios e foram viver anos em suas tribos da mesma forma que os índios viviam. Os aborígines aprenderam e muito com os indianistas, como também os indianistas aprenderam bastante com o povo indígena. Mas se o estudioso chegasse lá querendo “catequizar” os índios seria de fato rejeitado pela tribo e até poderia correr risco de vida. Os indianistas tiveram que ter a humildade para absorver todo o conhecimento dos índios na tribo. No caso dos estudiosos que fizeram este procedimento para levar ao mundo de forma desinteressada o conhecimento dos índios pode-se dizer que o intercâmbio foi uma forma bondade mútua, no sentido de abdicação por parte do estudioso e tolerância por parte do indígena. No caso dos estudiosos que estavam interessados na utilização da flora e da fauna para fins comerciais o falso interesse resultou em uma falsa humildade para fins mercenários, pois as supostas “descobertas” dos estudiosos são transferidas dos índios para eles. E todo o conhecimento indígena é patenteado por laboratórios e nada é revertido para a tribo que detinha o verdadeiro conhecimento.



A solidariedade é um componente importante da humildade. O humilde geralmente não retém o conhecimento para si. Ele compartilha sabiamente de forma que todos possam ganhar com a informação que dispõe. O solidário espera o momento exato para manifestar seu entendimento e utiliza de simplicidade para suas idéias não terem rejeição. Ser solidário com humildade é reconhecer também o direito de trocar informações e expressão dos demais indivíduos de um grupo.



O humilde se guia pela ética. Entenda como ética um conjunto de preceitos que norteiam os relacionamentos e o modo de agir de cada indivíduo. Em muitos casos a ética é ditada por preceitos morais como um código civil, por exemplo, em outros as pessoas se guiam por fundamentação religiosa. Aqui ficam representadas as noções do que dizer? Do que não dizer? Como agir? Como não agir? O que fazer? O que não fazer? Tudo para preservar inconscientemente a forma humilde que a pessoa está acostumada a manifestar-se em sociedade.



A temperança surge como um substrato que pondera as relações na medida certa. Nem um pouco a mais ou um pouco a menos. A pessoa que é muito humilde sofre com um desvio de conduta, pois costuma a desfazer-se de si para elevar outros. Geralmente a baixa-estima está ligada ao indivíduo que é humilde ao extremo. A temperança é um tempero que é servido na medida exata para que o indivíduo não utilize além do necessário à virtude da humildade.



A felicidade é outro ingrediente importante, pois quando o humilde consegue passar sua noção para o próximo ele utiliza este conceito-semente-valor como um complemento pessoal e íntimo capaz de manifestar um desejo concretizado. É como se a pessoa doasse um pouquinho de seu intelecto para o próximo na forma que ele consegue decodificar a informação.



A união é uma forma de humildade em que as pessoas congregam em torno de um elemento comum para atingir um determinado objetivo na vida. Na união pode haver níveis hierárquicos e subordinação, mas a predisposição das pessoas a obedecerem a determinados indivíduos é uma forma de humildade delas em relação ao grupo.



O princípio da não soberba tem como base a não exaltação demasiada de si mesmo quando se quer ser humilde. O soberbo ativa elementos internos de si que traduzem uma elevação pessoal através de outros elementos ligados a psique. O humilde consegue facilmente perceber tais elementos quando ele aflora em um indivíduo, pois os valores são geralmente invertidos em relação à humildade.



Princípio da não vaidade reflete a manifestação da humildade através de elementos internos geradores de conhecimento por princípios como a simplicidade, conduta e propósito. Quando alguém utiliza a vaidade para demonstrar humildade ela na realidade está fazendo um marketing pessoal para demonstrar todo o seu conhecimento. Tal variação de humildade acaba por distanciar um pouco do verdadeiro conceito da palavra.



O Amor geralmente aflora no humilde no ato de transmissão de idéias pelo desinteresse material ou com o objetivo de elevação das idéias do receptor, por vezes ao ser concretizado ele se realiza por meio da felicidade. Quando é o amor a peça chave que faz alguém ser humilde a humildade desinteressada compartilha de sentimentos nobres. O humilde transforma o amor em uma ética capaz de costurar toda a teia de relacionamentos do indivíduo, pois ele, o amor, está acima de qualquer coisa que move sobre a terra.



Princípio da igualdade de si mesmo perante o próximo determina que na troca de informações o emissor fala na mesma sintonia que o receptor, sem ruídos provocados pelo distanciamento de hierarquias ou níveis sociais distantes. Isto não significa que uma pessoa da classe A vai à periferia e se encontra com outra da classe E e queira falar de forma cabocla trocando a entonação das palavras para parecer que pertence ao mesmo grupo social, mas sim que, caso seja humilde, irá conversar de forma simples, com palavras comuns ao conhecimento dos dois grupos e repassar a informação necessária entre estes dois indivíduos.



Princípio da valorização do próximo determina que o fato do emissor trocar os símbolos para parecer mais comum perante outra pessoa ou a um grupo social é um fator de valorização do receptor. Na maioria das vezes o emissor quer ser compreendido sem fazer o devido esforço de adequar seus símbolos à forma de pensar os receptores. Quando o emissor faz o esforço para adequar a mensagem ao receptor, ele está promovendo um ato de humildade no qual valoriza o linguajar e estrutura de comunicação do receptor.



O princípio da não hierarquia entre desiguais faz com que receptor e emissor caminhem no mesmo nível. Assim, uma mensagem precisa ser decodificada para ser compreendida. O humilde absorve um contexto e transfere seu conhecimento a outros de hierarquia inferior numa linguagem que é facilmente compreendido: os diferentes tornam-se iguais. O humilde sábio que tem o dom para desenvolver uma retórica neste sentido, é capaz de facilmente transmitir informações e migrar outras informações para o seu nível hierárquico. Existem casos em que a troca de informações não acontece no mesmo nível do emissor e do receptor. O emissor utiliza de um artifício da comunicação universal que gera conectivos globais que o receptor entende e consegue repassar para sua forma de expressão sensorial. Após surgir a igualdade para troca de informações, cada indivíduo parte para seu nível hierárquico correspondente e o conteúdo é transferido entre pessoas de mesmo nível cada qual em seus próprios símbolos específicos, sem interpretadores.



O princípio da preservação cultural com antepassados, na manifestação da humildade, diz que o vínculo com os antepassados faz com que os indivíduos por uma questão de laço de família e comodidade adquiram a humildade como um fator de berço que acompanhará toda sua geração até que ocorra uma ruptura no modo de pensar do presente com o passado. O fator histórico é preponderante, os causos, os contos, os ensinamentos da forma de pensar religiosa da família e as tradições culturais. Este princípio é muito comum em pequenas cidades, lugarejos afastados das grandes áreas urbanas e as áreas rurais.



E o princípio da retórica baseada em ensinamentos de conhecimento e domínio público é o princípio desenvolvido pelos reconhecidamente sábios que utilizam a humildade de forma a cativar o popular. Geralmente cita exemplos da vida prática do cidadão no linguajar que ele compreenda. A humildade neste caso é o instrumento utilizado para que na ocorra rejeição à informação imediatamente após ser transmitida. O emissor desenvolve um tema, trabalha com os argumentos, verifica quais argumentos entram em conflito, então desenvolve uma linha de ação no qual tenta tirar a veracidade dos contra-argumentos do receptor dispostos a derrubar toda a informação transmitida. Em seguida, uma vez derrubado todos os empecilhos, e sempre usando de humildade, o emissor expõe toda a linha de argumentação e os receptores passam a acreditar no novo paradigma ou informação exposta.



Geralmente para sociedade a palavra humildade está ligada às classes sociais mais baixas. Humilde para a versão popular é a pessoa pobre que vive em harmonia com o que possui e com Deus. Mas a humildade vai muito além de classes sociais, ela está presente dentre de cada ser humano na troca de informações. A sociedade tem o mau hábito de confundir falta de conhecimento com humildade. Falta de conhecimento não é humildade. A humildade está mais relacionada a um fator de ponderação do emissor que estuda previamente o receptor e transfere conhecimento pelos signos que ele conhece utilizando os sentidos humanos.



Humildade é um conceito complexo muito ligado à religião, pois é um sentimento ou uma conduta de ser muito bem quista pelos clérigos das mais diversas religiões. Por trás dele está um sentimento de irmandade e comunhão com a palavra divina. O humilde procura ter discernimento para melhor compreender seu papel como ser humano. Ele está apto a mudar de idéia quando um conhecimento superior ao que acredita for coerente e capaz de substituir sem conflitos suas crenças e suposições. Ser humilde é acrescentar no outro um pouco de si sem que com isto cause alguma espécie de indiferença, divergência, incompreensão ou atrito.

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