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cronicas-->Piegómetro -- 14/05/2000 - 17:45 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fala-se muito em recessão, dificuldades, desemprego, mas pouco se faz para resolver a questão. Não sei se o ramo de instrumentação anda em baixa ou não. O que sei é que há muitas oportunidades no ramo que não estão sendo aproveitadas.

O piegómetro, por exemplo, é um dos instrumentos de medição mais importantes e, ao contrário do que se imagina, tem ampla aplicação. Piegómetro é aquele instrumento que sinaliza o comportamento piegas das pessoas. Hoje ele é encontrado apenas em caixas de couro para uso profissional e, mesmo assim, vem sendo muito negligenciado. Por raro, torna-se caro e é pouco usado. As consequências estão aí.

Segundo o dicionário, piegas (adjetivo e substantivo de dois gêneros e dois números), é amimado; niquento; ridículo; chorão; ou a pessoa que é ridiculamente sensível ou assustadiça. Assim a questão básica parece ser não cair no ridículo ou não adoçar as palavras a ponto de não ser levado a sério. O piegómetro é portanto indicado na prevenção do mico e para a proteção do consumidor.

Infelizmente contudo, o acesso ao instrumento é limitado a alguns profissionais e seus fabricantes são tímidos, não reconhecem que o produto pode ser popularizado e que amplas camadas da população podem ser usuários do piegómetro. O piegómetro tem ampla utilização em colégios, consultórios, igrejas, festas familiares e em mais um número imenso de lugares, sem falar nos portáteis, para uso individual. Escritores, poetas, professores e palestrantes em geral também necessitam. Mesmo nas empresas, para uso nas festas de fim de ano e também na administração de desculpas esfarrapadas. Imagine o potencial de vendas. Cada sala de aula deste país deveria ser equipada com um piegómetro. O Ministério da Educação certamente poderia fazer logo um licitação e adquirir algo em torno de quinhentas mil unidades. Cada um de nós deveria ter o seu próprio piegómetro, prevenindo-se de situações desagradáveis para si e para os demais.

Se você vai à farmácia comprar um remédio e começa a contar a história de sua vida para o rapaz que o atende, o piegómetro acusa e você encerra logo a conversa sem pagar mico. No bar, após um desentendimento com a namorada, a mesma coisa, o piegómetro lhe protege do mico e ao garçom de ter que ouvir mais uma longa estória. Com piegómetros à mão podemos nos preservar de inúmeras situações desagradáveis. Na posse como síndico do prédio, evita-se o mal estar geral quando você falar comovido sobre as novas flores a serem plantadas na fachada, justificando assim o aumento na taxa mensal.

A publicidade também pode se valer do piegómetro. Toda propaganda antes de ser divulgada deveria ser submetida ao teste do piegómetro, admitindo-se no máximo índices no início da escala. Mais que isto já seria considerado propaganda enganosa. Isto evitaria muito choro em propagandas de margarina, fraldas e comida para cães. Partidos políticos deveriam fazer o teste antes dos discursos, se bem que neste caso seria mais indicado um modelo que combinasse o piegómetro com o desconfiómetro, muito mais necessário para eles.

Como todo o instrumento de medida, o uso do piegómetro deve ser cuidadoso e de acordo com as regras e observações feitas pelos fabricantes. A principal delas refere-se à escala usada. Lembre que o que é piegas para você pode não ser para o outro. Não se pode usar a mesma escala de medidas em uma reunião da diretoria da empresa e na festa da escola das crianças. Na reunião a escala é muito mais apertada e mesmo palavras amenas já devem ser acusadas pelo piegómetro da sala. Há modelos de parede lindos (lindo, por exemplo, já seria acusado). Já na festa da escola em que o pai assiste à representação de sua princesinha a exigência é mais amena. Uma que outra lágrima pode até ser tolerada sem que o piegómetro dispare. Nestes casos, é importante inclusive pedir aos pais que desliguem a campainha de seus piegómetros, sob pena de ninguém conseguir assistir á apresentação das crianças. Imagine, celulares e piegómetros tocando a cada instante. Assim, a correta escolha da escala é fundamental. Poder-se-ia ter modelos populares que, à semelhança das máquinas fotográficas, poderiam regular a escala automaticamente, de acordo com o ambiente. Pode-se também ter muitas variações de campainhas, como os celulares, ou talvez acoplar um ao outro.

Com imaginação e criatividade a indústria poderia criar vários modelos. Os populares, com calibragem automática, os de parede, de mesa. Modelos especiais para mesas de executivos, os portáteis e os com motivos religiosos. O Padre Marcelo, por exemplo, poderia lançar um modelo religioso. E naturalmente os pessoais. A Mont Blanc poderia lançar alguns modelos com o seu desenho tradicional. Nas formaturas de direito, medicina ou mesmo escola normal, os pais ou padrinhos poderiam oferecer como uma recordação. Confesso que, só de pensar nas possibilidades de sucesso, já fico com a voz embargada.

Mas fique atento. A despeito das vantagens do piegómetro, deve-se lembrar que não está proibido elogiar, abraçar, falar bem, comover-se, sob pena de se cair no extremo oposto e nos tornarmos muito duros, sem emoção, sem graça. No dia dos mães ou quando encontrar um velho amigo, por exemplo, desligue o piegómetro e vá em frente, afofe, beije, abrace, aperte bem. Se não desligar, paciência, deixe tocar.

Assim, espero que os fabricantes de instrumentos de medida evoluam e reconheçam o enorme potencial de negócios. Isto só para falar no piegómetro.

Imagine o desconfiómetro.


Escrito em 11.06.99
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