Ambrósia (*)
No verbete "Etiópia" [**] encontra-se explanado o que em português se passa com a traiçoeira terminação "ia". Dá-se com ambrósia o mesmo que com "estratégia", "autópsia", "rapsódia", Mesopotâmia e com outros substantivos que, paroxítonos em grego, passam a proparoxítonos em latim e, pois, também em português.
Quer empregada como nome próprio, quer como nome comum, a palavra -- diz-nos o inigualável filólogo Gonçalves Viana nas "Palestras Filológicas" -- é proparoxitona,"ambrósia", aentuação corretamente seguida pelo vocabulário ortográfico ofiial de Portugal (1940).
A edição brasileira do Caldas Aulete deturpou --
nesse e em outros passos -- o que se encontrava na segunda edição portuguesa e confirmado na terceira: Os melhores lexicógrafos mandam pronunciar "ambrósia".
Essa é a prosódia da palavra desde Camões; não havia então sinais diacríticos como hoje, mas a métrica obriga-nos a ler "ambrósia" (Os Lusíadas, X, 4:
"Os vinhos odoriferos, que acima
Estão não só do Italico Falerno,
Mas da ambrosia que Jove tanto estima
Com todo o ajuntamento sempiterno."
Otoniel Mota, em edição comentada de "Os Lusíadas", é claro: "Camões acentua ambrósia, pronúncia correta, de acordo com o latim".
Apesar de estudos de autoridades respeitadas como as que menciono, há, modernamente no mercado de livros, a obra "Iscas de Ambrosia" [leia-se "ía"], que se trata de "1246 frases saborosamente bem-humoradas", do autor Márcio Cotrim, editora Arte Capital.
O "Dicionário Aurélio" informa:
Ambrosia: Do grego ambrosía, pelo latim ambrosia. Manjar dos deuses do Olimpo, que dava e conservava a imortalidade. Por extensão, comida deliciosa [daí talvez o título da obra retro-referida]. Doce feito com ovos e leite cozidos em calda de açúcar.
Ambrósia: Gênero de plantas da família das compostas.
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(*) ALMEIDA, Napoleão Mendes de ("Dicionário de Questões Vernáculas", 8ª ed., São Paulo, SP, Editora Caminho Suave, ano 1980, p.21).
(**) "Dicionário de Questões Vernáculas,
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