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Poesias-->AUSÊNCIAS -- 17/08/2002 - 20:36 (COELHO DE MORAES) |
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AUSÊNCIAS
-Coelho-
Por qualquer causa ou duração
a ausência da amada
sugere prova de abandono
Melodias e canções
da ausência amorosa
fazem o peito romper
Viver em eterno estado de partida
mostra a vocação do migrador
eu, que sofro, sedentário
sou deixado de lado como um embrulho qualquer
A mulher dá forma à ausência
ela tece e canta
ela espera e dormita
na sombra do tear
O homem deve saber se alimentar
enquanto espera
de outras coisas
de outras bocas e manjares
de outros lábios doces e salgados
esquecendo excessos e cansaços
O homem é o voraz navegador
O esquecimento pode ser
a ausência bem suportada
pode ser
Momentaneamente infiel
é condição da sobrevivência
pode ser
Suspirar depois de cada sopro incompleto
Respirar depois de cada beijo em si repleto
Gozar os benefícios da imediata lembrança
pode ser
O abraço que funde imagens
de dois se torna um
e eu abandonado me torno
uma imagem descolada
amarela e seca
O presente insustentável
me bloqueia entre dois tempos
dois simples pedaços de angústia
vagueando nas bordas de um tempo
em vai e vem
abrindo o palco da linguagem
e a linguagem – é sabido – nasce da ausência
cria-se aí uma ficção
cria-se aí a obstinação por múltiplos papéis
e o beijo se manifesta
lanhado de suor e esperas
Se não chorar a ausência
o luto se encurta
Aprende-se a esquecer
o sentimento de amor
que se abate sobre a carência
Quero ficar à margem
da amabilidade mundana que me espia
Quero a amada convocada em mim
exposta em meu peito que arfa
Invoco sua proteção
para que o amor ausente
não me transforme
em detrito social
Por qualquer causa ou duração
a ausência da amada
sugere prova de abandono
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