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Artigos-->CULTURA POPULAR X CULTURA ERUDITA -- 17/12/2004 - 19:25 (José Virgolino de Alencar) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CULTURA POPULAR X CULTURA ERUDITA

Autor: José Virgolino de Alencar



A consagrada e disseminada dicotomia que divide cultura em popular e erudita é um equívoco cometido pelos próprios operadores dos vários extratos culturais. Na verdade, os dois segmentos, popular e erudito, seguem juntos, sem hierarquia de qualidade de um sobre o outro. Aliás, ouso dizer que, na essência, não há separação entre popular e erudito. As pessoas é que vêem ou pensam ver duas formas distintas de cultura e não enxergam o entrelaçamento da criação artística que vem de uma raiz popular com a obra erudita, vista como uma árvore florida. Só que essa árvore frondosa é, sim, resultado da raiz que germinou e floriu.

Segundo o Dicionário Aurélio, erudição é “instrução vasta e variada, adquirida sobretudo pela leitura”. Vejam que erudição não é sofisticação, não é o sangue azul da cultura. Do Aurélio se conclui que erudição é volume de conhecimento. Assim, erudito é quem tem vasta e variada instrução captada na leitura, na acurada e ampla observação do conhecimento humano, na visão inteligente das coisas da vida.

Por esse prisma, quem constrói uma obra artística diversificada, eclética, vasta, fruto da leitura e de estudo das manifestações do povo, é popular e é erudito. No fundo, o que existe mesmo é gente culta e gente esnobe. De gente culta, a criação. De gente esnobe, sai malcriação. Gente culta estabelece preceitos. Gente esnobe destila preconceitos.

Tudo isso que falei acima vem a propósito da indiferença e da discriminação que sofrem grandes nomes da cultura dita popular e que são indiscutivelmente cultos e com extensa e variada obra que pode ser inserida no contexto da cultura dita erudita.

São muitos os nomes que poderia citar e sobre eles falar, mas o espaço aqui é limitado. Cito entre os que tenho escutado e lido, o nome de DAUDETEH Bandeira, cuja obra toca meu gosto pessoal, gosto razoavelmente diversificado, mas não esnobe.

Falarei do mestre, poeta, compositor, escritor e advogado, com volumosa obra e obra de qualidade, aquém DEUS deu o dom e nós devemos dar-lhe a cátedra, como professor que é. DAUDETEH Bandeira, nascido Manuel Bandeira de Caldas, vem de uma linhagem sertaneja de artistas, criadores natos.

DEUS colocou no seu gene esse incrível dom de construir um poema de improviso com a perfeição do ritmo, da rima e da métrica, além do conteúdo de qualidade. É poema, poesia pura, arte que encanta e emociona o leitor ou ouvinte. DAUDETEH tem um acervo de criação cultural digno de merecer troféu, comenda, láurea e até de ter portas de academias abertas para ele entrar.

Sem falar na imensa quantidade de versos cantados de improviso e não registrados, DAUDETEH conta com criações gravadas em papel e em disco suficientes para formar ou robustecer uma biblioteca. Desses milhares de criações, destacarei umas poucas, contornando a enorme dificuldade de selecionar o que é melhor, porque só tem coisa boa. Transcrevo, a seguir, partes de poemas catados aleatoriamente:



“BRASIL VIRGEM”

Pedaço de terra fértil

na última curva do globo,

habitada pelo índio,

pelo tigre e pelo lobo,

por letárgicos peçonhentos,

que faziam sonolentos,

suas costumeiras rondas

à margem dos grandes rios,

que exalavam nos baixios

hálito puro das ondas.



“ARRANHÕES DE SAUDADE”

O luar descamba a serra

e banha a montanha de prata,

o peixe pula no poço

desce a ÁGUA na cascata

e o vento faz um acorde

no realejo da mata.



“O PREÇO DO NOSSO AMOR”

Vou curtir minha saudade

nas brancas noites de lua.

Fazer como o Gaturamo

na alva cascata nua,

vou erguer os meus quiosques

entre os paredões dos bosques

e nunca mais vir à rua.



“CONVERSANDO COM AS ÁGUAS”

Minha esperança se esconde

pois a ÁGUA não responde

as perguntas que lhe fiz,

e ficou mais orgulhosa,

ÁGUA forte ambiciosa

só você é poderosa

só eu que sou infeliz.



“MINHA REDE”

A rede é um objeto

de primeira qualidade.

De se deitar numa rede

todos nós temos vontade,

até um casal segura.

Só que fica uma mistura

que nem feijão com arroz,

mas não há nada incomum,

a rede é feita pra um,

mas quebra o galho pra dois.



“A VERDADE”

Falar a verdade é bom.

Maria, sabendo disto,

passou ilesa com Cristo

pelas tropas de Abadom,

nos é dada como um dom,

pra não cometer-se engano,

benção do Pai soberano,

porque: falar a verdade

é a maior faculdade

que existe no ser humano.



“TROVAS”



Não há dor que doa mais

de que quando uma mulher

não quer o que a gente faz

e nem faz o que a gente quer.



No mundo do Criador

nós somos dois passarinhos,

que se unem no amor,

mas se separam nos ninhos.



“FOME”



Seu doutor, pensando bem

essa tal de dona FOME

é tão amedrontadora,

que faz medo o nome;

magra, alta, feia e rouca

tem uns dois palmos de boca

e meio metro de nariz,

essa figura sinistra

hoje é quem administra

a pobreza do País.



Apesar de horripilante

é a única entidade,

que mais consegue adesões

no seio da humanidade;

é dona da maioria,

favela e periferia

são seus melhores recintos,

e os seus associados

são assalariados

intitulados: FAMINTOS.



DOM DO IMPROVISO:



DAUDETH BANDEIRA tem

O santo dom do improviso,

Para ele bem cantar

Decorar não é preciso,

De sua memória sai

Ditado pelo DEUS pai

O verso puro e conciso.



ACRÓSTICO:



Divinas poesias jorram

Arremessadas em cascata

Uma boa, outra melhor,

De sua inventividade nata;

E na viola seresteira

Tocada bem por Bandeira

Há, sim, um quê de sonata.



Belas canções ele canta,

Alma de inspirado artista,

No regaço de uma donzela

Descansa a mente e a vista,

Esquece o mundo lá fora,

Intempérie ele despista,

Romântico, com a poesia,

Amada e amante conquista.









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