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Cordel-->GATILHO FALHO -- 09/02/2003 - 00:36 (Benedito Generoso da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
GATILHO FALHO

Isso foi há tantos anos,
Sendo eu criança pequena,
Só que não em Barbacena,
Mas no interior paulista,
Onde um cabra especialista,
No manejo da dois canos,
Era bom sem fazer cena.

Hoje penso que foi pena
Ele ter nascido pobre,
Já que por falta de cobre
Nunca ficou conhecido
Como um Kid temido,
Ou um Hércules na arena,
Mas era honrado e nobre.

Por mais que eu me desdobre,
Jamais dele eu direi tudo,
Porquanto ele era mudo
E não podia escutar
Nem um trovão ribombar,
Estourando como um odre,
Naquele som mais agudo.

Não estou sendo papudo,
Nem inventando lorota;
Isso não é anedota
E seu mal não tinha cura,
Só que é verdade pura:
Mesmo sendo um surdo-mudo,
Ele era um poliglota.

Se ninguém fé nisso bota,
Não pode a culpa ser minha,
Porque sei que ele tinha
A pontaria certeira
E, caçando na capoeira,
Atirando de canhota,
Não perdia uma rolinha.

Para dizer a que vinha,
Um caso aqui eu narro:
A fêmea do João de Barro
Amava o gavião traiçoeiro,
Ele deu um tiro certeiro
E ela caiu mortinha,
Sem dar sequer um pigarro.

Entre um e outro cigarro,
Seu trabuco estava armado,
Cotia, onça ou veado
Se debruçavam no chão,
Ante o tiro de canhão,
E ninguém tirava sarro
Do caçador afamado.

Eu ficava deslumbrado,
Porém cheio de confiança
Que um dia minha lança
Faria igual proeza,
E hoje tenho a destreza
Daquele cabra calado,
Que me deixou a herança.

Ele era adulto, eu criança,
Mas com interesse eu via
A infalível pontaria
Desse atirador de elite,
E mesmo sem um convite,
Não foi em vão a esperança
De ser como ele um dia.

Mas a minha alegria,
Nesse tempo começando,
Consistia em trepando
Nas pitangueiras do prado,
Ou então nadando pelado
Num lago que lá havia,
Com meu coração arfando.

Só que o tempo foi passando,
Correndo igual potro xucro,
E aquele forte trabuco
Aos poucos perdeu seu dom
E, cada vez menos bom,
De vez em quando falhando,
Deixou seu dono maluco.

Na verdade está caduco,
Lembrando só do passado
Com o pau de fogo apagado,
Mas das façanhas que eu vi,
De minha parte aprendi
Caçar pomba e macuco
E outros bichos no cerrado.

O gatilho emperrado
Não mais estoura uma bomba
E, quem foi caçador de pomba,
Trazendo cheio o bornal,
Já não assusta pardal,
No prego está pendurado,
Se levanta, logo tomba.

No entanto, aquele que zomba
Terá um igual destino,
Pois quem hoje é menino
Será ancião amanhã
E, ao perder o afã,
Não vai mais erguer a tromba,
Nem que lhe badale o sino.

Por isso eu falo e opino
Que a culpa não é dele,
Nós seremos como ele,
Que agora não dá mais tiro,
E enquanto isso eu prefiro
Cuidar do meu paladino,
Dando um melhor trato nele.

Quando conheci aquele
Que só colheu a vitória
Sem dar mão à palmatória
E, de cabeça erguida,
Nunca teve em sua vida
O mal de varicocele,
Achei que a vida era glória.

Sei que não poupou a história
Sequer Camões e Cervantes;
Pra mim e meus semelhantes
Não adianta chá de alho,
Se o gatilho ficar falho,
Saberemos de memória:
Jamais será como antes.

Gabam-se os ignorantes,
Achando que o tempo espera,
Todavia, a primavera
Inverno se torna um dia,
Lavando em água fria
Homens de armas abrasantes...
O gatilho, então, já era.

BENEDITO GENEROSO DA COSTA







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