MESTRE TEMPO
Aos trinta e cinco anos
fiz-me um filho,
nascera em novembro
sob o brilho
do concerto de Aranjuez.
Por isso dei-lhe um nome
compatível, musical
do autor dessa peça,
recital,
para me tocar ao violão.
Aos trinta e cinco anos
coincidência, mero acaso?
neste outro novembro
(te completas?)
pele nova, mãe, alma lavada
ao colo o fruto desse ventre
que ao sopro do vento
nos nasceu...
Eu, mortal, me indago
num repente:
quais os fluidos, a redoma
causa e efeito
que me fazem encarar
mais que perfeito
esse laivo de tempo
esse “fiat”?
Paro, mais uma vez a pensar,
coisa de que não raro me ocupo:
estaria mesmo escrito
na amarelecida página
do tempo?
ou surgiu assim do lodo
feito vidas,
instante matemático
todo, uno emblemático
aos mortais
nem sempre palpável compreender?
Mas me recolho de pronto
ao aposento, muito tarde
nos olhos exaustos,
da leitura do último rebento,
faço-me dormir, sonhar
e neste alento
mergulhar no enigmático fruir
do mestre tempo...
WALTER DA SILVA
Olinda, novembro, 1995
Extraído de “OS RITOS DA AURORA”®
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