Temos acompanhado em amplos setores acadêmicos a implantação de novas cátedras e disciplinas correspondentes aos anseios do mercado. As universidades viraram grandes negócios? Evidentemente. Não podemos negar uma realidade abrupta que acaba por mediatizar relações institucionais e, em certo sentido, propagar o secular mito da “cidade dos saberes”.
Imponderáveis muros de concreto continuam guardando mentes brilhantes. Vejo isso com grande preocupação. As razões que levam a ciência a não ter consciência, vontade puramente técnica (comum a todos), é pensar o método sem afeto. Percebam os desinibidos do audiovisual pornô: exibem corpos esbeltos, cheios de silicone e esteróides, mas encenam às câmeras uma falsa verdade. Não há como imaginar um ato de amor e afeto nestas condições.
Esse tipo de mercado humano transforma “orgasmos” em dinheiro. Exibem uma grande técnica do coito, mas não podemos negar a ausência do tão sonhado sentimento.
Pretendo exemplificar os métodos científicos focados numa eterna necessidade de manutenção de seus núcleos de poder. A mentalidade institucional ainda está submersa num princípio clássico de ritos e formalismos estruturais, inadequados aos interesses coletivos. Os problemas humanos (meio ambiente, violência, desemprego, aquecimentos global,entre outros) devem ser pensados no contexto da interdependência das culturas.
Um determinado problema social (político e econômico) atende necessidades específicas em cada região, embora o uso de ações afirmativas se liguem aos exemplos gerais. Ou seja, por diversas vezes, buscamos soluções inadequadas para determinado contexto geográfico: como perceber as peculiaridades gerais sócio-econômicas de lugares tão distintos entre si, como Paraíba, Mato Grosso ou o Rio Grande do Sul?
São consequências do atual capitalismo globalizado, e o que vejo, são problemáticas tratadas com unilateralismos. Os biólogos se ocupam com a preservação ecológica, os químicos se enclausuram em laboratórios farmacêuticos, os sociólogos não querem saber de instrumental prático, só estatisticas e relatórios. Como estabelecer a ligação entre essas áreas?
Ciência sem consciência e consciência sem ciência representam a ruína da alma (Morin,1999). Como muitas estudiosas(os) são capazes de solidificar, em pleno século XXI, a não aceitação da ambivalência, da complexidade? Certa vez conversei com uma aluna do curso de Engenharia Civil (UFRN), sobre problemas envolvendo o sistema hídrico residencial em grandes métropoles. A história dos projetos de distribuição de água desenvolvido pelos romanos na antiguidade era notável, e foi inserida no diálogo. “Nunca pensei em história”. Ela não ponderou o discurso histórico (os projetos de engenharia e arquitetura) em sua argumentação. “Os cálculos resolvem melhor isso”.
Na Grécia Antiga, filosofia e matemática nasceram juntas. Os egípcios trabalhavam a medicina apoiados na teoria conjuntiva de símbolos em sua cosmogonia (princípios astrais e materiais). Diversas culturas tribais fizeram do xamanismo-tomemismo (relação de espiritualidade e natureza) a constituição de suas regras e códigos de sobrevivência com a natureza. Desenvolveram um sistema avançado de inter-reações, organização de saberes e cultos relacionados com sua existência, seu passado, seu equilíbrio (Lévi-Strauss,1976).
Essa visão inovadora apodera-se dos discursos para um saber polarizado, capaz de redigir teses e monografias transdisciplinares nos cursos universitários. A relação tríade (Cultura + Saber = Poder) gerindo novas interceções pedagógicas é outro fator imprescindível. Na era das informações do século XXI, descartar saberes inter-conexos seria negar a interatividade das pessoas pelo Orkut como espaço de novas relações culturais.
Pensar software e não pensar sociologia? Como não?! O que vem a ser a trajetória dos sistemas digitais na democracia do conhecimento? Quais são os exemplos históricos positivos e negativos nesse compartilhar de informações?
A cultura da informação (analógica, digital ou material) não estabiliza, ela reproduz incomparavelmente novos conceitos de cultura compartilhada em menos tempo. Os poderes uníssonos de grupos econômicos e políticos estão desesperados com tais práticas: arquivos-música, textos digitalizados, publicações autônomas e acesso irrestrito de conteúdo (de péssima e boa qualidade), são alguns dos mecanismos de “outra” indústria cultural no século XXI.
Falamos e misturamos – como um grande liquidificador – ciências sociais, exatas, medicina, internet e outras coisas. Os parâmetros conjunturais dessas novas ferramentas e construções de cultura nos dão uma idéia clara para repensar modelos ditos “estabelecidos” na imaginária e real cultura(as).
Não podemos aceitar o equívoco de imaginar tanta informação como realidades extraterrestres. Ou então, continuar com a perspectiva carreirista dos grandes negócios acadêmicos...
Referências
LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Cidadania digital e o ecossistema das redes. (Artigo Científico, circulação livre pela internet), 2007.