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cronicas-->A Propaganda é a Alma do Negócio -- 25/03/2002 - 16:54 (Félix Alcides Coronel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Sr. Joaquim Soares trabalhava como torneiro numa empresa metalúrgica. Casado haviam já mais de dez anos com a única filha de um casal de imigrantes italianos, e com dois filhos pequenos, comentou certa noite com sua esposa que deviam seguir o caminho empreendedor que seus pais haviam lhes mostrado. Ambos concordaram então em que poupariam uma parte do dinheiro que ingressava mensalmente nas arcas da família durante o tempo que fosse necessário para poder iniciar o próprio negócio.

Depois de alguns meses, com o dinheiro poupado o Sr. Soares decidiu abrir uma pequena fábrica de pregos, no fundo do quintal. Para isto, comprou algumas ferramentas, uma modesta extrusora para arame de aço, de diversos diàmetros, e colocou de si toda aquela vontade que nasce naqueles que sabem que "Cada um por si, e Deus por todos...".

Com o passo dos anos, a pequena fabriqueta do Sr. Soares acabou se transformando numa pequena indústria, que fornecia pregos de todo tipo e tamanho a várias cidades da região. Assim, certo domingo, após o tradicional almoço composto de "ravioli", vinho tinto e "mousse" de maracujá na sobremesa, decidiu delegar algumas responsabilidades no mais velho dos seus filhos, já formado em Administração de Empresas, e cursando um MBA na MacKenzie de São Paulo, que aceitou a empreitada de muito bom grau.
Depois de dois meses de mudanças radicais dentro da empresa, tentando implantar o "Processo de gestão do Conhecimento", e onde a "Globalização" das compras e vendas da empresa haviam-se tornado moeda comum, o filho disse ao Sr. Soares:

- Pai, estamos atravessando um processo de mudanças, onde para permanecer no mercado, é necessário destinar uma porcentagem dos ingressos da empresa em publicidade, porque o senhor há de convir com que a propaganda é a alma do negócio... Além do mais, se promocionamos, poderemos incrementar as vendas, e assim, poderemos também trocar as velhas máquinas por essas novas que vimos lá na exposição, completamente informatizadas...

- Aham... - Respondeu o Sr. Soares. - E no que você pensou, meu filho?

- Bem, eu pensei que se a agência de publicidade daquele amigo que eu tenho na capital fizesse um comercial, nào teriamos grandes gastos, porque ele não cobrará o que normalmente cobra. Assim, promocionariamos a empresa e ainda por cima ajudariamos alguem que está se iniciando.

- Bom, você está certo. Sempre é bom prestar atenção às novas idéias, e é para isso que eu investi em você, filho. Amanhã sairemos para a capital, e falaremos com esse seu amigo...

No dia seguinte, estavam ambos no escritório do publicista.

- Bom dia...

- Bom dia Sr. Soares! Bom dia Eugênio! Que agradável surpresa!

- Viemos aqui por causa de uma publicidade...

- Aham. Entendo. Estão querendo fazer um comercial na TV. Ótimo! É sobre a empresa de vocês?

- Sim.

- Sr. Soares, pode ficar tranquilo, que fica tudo sob os meus cuidados. Na próxima segunda-feira, após a novela das oito, o primeiro comercial será o do senhor. Já pode programar seu vídeocassete...

- Muito bem, muito obrigado.

Após a conversa, o filho do Sr. Soares tratou a respeito de custos, e retornaram à fábrica. Essa mesma noite, o Sr. Soares comentou com a sua esposa sobre o comercial.
Chegada a novela das oito do dia indicado, a família inteira foi acometida de grande excitação. O gravador de videocassete pronto, o controle remoto na mão nervosa do Sr. Soares, todos torcendo para que aquela novela chata de árabes de brincadeira, traíras, infiéis e peruas desbocadas terminasse logo.
Após a mensagem de praxe, deu início ao comercial.
Uma imagem belíssima apareceu na tela da TV. Um lago de águas cristalinas, cheio de peixes coloridos, cisnes, patos, patinhos, todos eles nadando e se alimentando, flamengos, papagaios e alguns jaburús. Árvores por todo lugar, orquídeas que pendiam dessas árvores enfeitavam a maravilhosa paisagem, que transmitia uma mensagem subliminar de paz e tranquilidade...

No fundo da imagem, uma cruz...

A càmera deu um zoom, aproximando-se da mesma.

Tinha um ser humano naquela cruz. Devido à distància, não era possível distinguir o rosto, mas aquela pessoa tinha uma espécie de coroa na cabeça, além de uma ferida no flanco esquerdo...

A càmera deu mais zoom.

Notavam-se agora à perfeição as feições de sofrimento do homem que estava naquela cruz. A tristeza tomara conta do seu olhar... pequenas gotas de sangue escorriam pelo seu rosto. O longo cabelo engrenhado, podia-se imaginar a sua dificuldade para respirar...

A càmera deu mais zoom.

Era fácil agora distinguir as véias inchadas que como serpentes envolviam os braços do homem. Os nervos e músculos em completa tensão. As mãos e pés do homem pareciam estar machucados, mas devido à posição da càmera, não era possível identificar a gravidade dos ferimentos.

Até aqui, exatos vinte e seis segundos de propaganda.

E a càmera deu mais zoom...

Após passar a càmera pelo rosto do homem, foi percorrendo lentamente os braços, o pulso, a mão...
E na palma da mão, uma enorme cabeça de prego...

E a càmera deu mais zoom...

Podia ler-se na cabeça do prego:

"PREGOS SOARES"

De imediato o Sr. Soares foi acometido por uma grande emoção, e furioso, ligou para o publicista:

- Seu maldito incompetente! Minha família pertence ao Catecumenato há mais de vinte anos! Como você ousa fazer uma coisa dessas! Vou processá-lo primeiro, para comer o seu maldito fígado na grelha, depois!!

- Do outro lado do telefone - Sr. Soares, calma, por favor, tenha calma!. Vou solucionar o inconveniente! Me dê prazo até a próxima segunda, no mesmo horário!

- (O velho respirando fundo, tentando conter tanta raiva...) - Tudo bem, mas se falhar, pode se despedir da sua carreira!!!

Na próxima segunda, todo o mundo esperando, mas com certas reticências.

Após o final da novela, o comercial.

Desta vez, a imagem em nada lembrava aquela paisagem belíssima.
Parecia que um certo remanescente de Hiroshima havia sido colocado ali.
O lago seco, com o fundo resquebrajado... O esqueleto de centenas de peixes podia ser visto em qualquer direção. As penas das aves que ali se encontravam, agora só fumegavam... As árvores ainda com fogo, em nada se assemelhavam àquelas tão verdes, tào cheias de vida...

E a càmera deu um zoom...

No fundo da imagem, uma cruz...

A càmera deu mais zoom...

A cruz vazia.

De repente, numa viragem no posicionamento do cameraman, a imagem focalizou duas pessoas se movimentado rapidamente através daquela imagem desolada...

A càmera deu mais zoom...

Notava-se que eram dois guardas pretorianos, correndo desesperadamente, espada em punho...

A càmera deu mais zoom...

Via-se o suor escorrer pelos seus rostos, o olhar implacável de cães de caça...

E em off, um dos guardas pretorianos dizia ao outro:

- (Com grande agitação ao iniciar a fala...) - Eu te falei! Ah, mas eu te falei! (Falta de ar no guarda pretoriano, devido ao esforço da corrida...) - Se houvesses usado "PREGOS SOARES" aquele danado não fugia!!!
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