Usina de Letras
Usina de Letras
132 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62225 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22536)

Discursos (3238)

Ensaios - (10364)

Erótico (13569)

Frases (50620)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140803)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cordel-->O Camelô e a Garrafada de José Alves Sobrinho -- 04/02/2003 - 14:52 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Camelô e a Garrafada
José Alves Sobrinho*

Esta minha garrafada
Feita com mel de urucu,
Semente de cumaru,
Caroço de noz-moscada,
Casca de pau-de-jangada,
vagem de fava-de-cheiro,
raízes de marmeleiro,
pega-pinto, jandiroba,
café de manjerioba
e casca de cajueiro.

Casca de coco-de-praia,
Cardo-santo-, alho-do-mato,
Jurema unha-de-gato,
Folha de jerimataia,
O sumo da samambaia,
A casca da aroeira,
Raiz de carrapateira,
A casa do pau-ipê,
A folha do muçambê,
E a casca da quixabeira.

Raiz de jequitibá,
A folha do jucuri,
A flor do ouricuri,
A casca de jatobá,
Raspa e vagem de jucá,
a semente do turqueiro,
sumo da flor do umbuzeiro,
entrecasca do inhame,
folha e raiz de velame,
matruço e erva-de-cheiro.

Jalapa, jaborandi,
Melão-de-São-Caetano,
Folha de espinho-cigano,
Juá, japecanga, oiti,
A fruta do calumbi
A semente da paineira,
A folha da quaresmeira,
A casca da cipaúba,
A raiz da Carnaúba,
E a rapa da catingueira.

Raiz de mandacaru,
A fruta do pinhão-brabo,
A semente do quiabo,
A casca do mulungu,
A folha do cumaru
A folha do pau-de-aposta
A folha do pau-da costa,
Sumo da cana-do-mato,
Pau-de-negro, pau-de-rato,
Pau duro e pau-de-resposta.

A goma da alcatira,
Que é chamada tragacanto,
Quebra-faca, capim-santo,
Mangará de macambira,
A folha da sucupira,
A flor da jabuticaba,
A semente da goiaba,
O sumo da manipeba,
A fruta da jurubeba
E a casca da catuaba.

Se um dia a sociedade
Perguntar-me, interessada,
Para que serve a garrafada?
Respondo sem ter maldade:
Cura qualquer qualidade
De doença, reumatismo,
Sangue fraco, raquitismo,
Moleza, constipação,
Bucho inchado, indigestão,
Maleita, impaludismo.

Cura fraqueza geral,
Mal-de-monte, dor de ouvido,
Nervoso, ventre caído,
Desarranjo intestinal,
Para fraqueza sexual,
É bastante uma colher
Toma duas se quiser,
Na hora de se deitar,
Juro eu quando acordar
Sai procurando mulher.

Cura enxaqueca, esclerose,
Dispnéia, leucemia,
Mal-de-chagas, anemia,
Queimadura, disidrose,
Soltura, tuberculose,
Lezeira, banzo, sezão,
Coqueluche, inflamação,
“chega-e-vira” batedeira,
caxumba, cravo, frieira,
tosse-braba e amarelão.

Garanto até que com ela,
Eu já tenho levantado
Doente desenganado
De tifo e febre amarela,
Peito aberto e espinhela,
Escorrimento, adenite,
Flores brancas, hepatite,
Alergia, urticária,
Hemorróidas, solitárias
Coluna e labirintite.

Cura qualquer desmantelo
Tomado como é preciso:
Faz doido criar juízo
Careca criar cabelo
Cura dor-de-cotovelo,
Vício feio, mal costume,
Saudade, mágoa, queixume,
Recordação, dor e tédio,
E é um santo remédio,
Pra roedeira e ciúme.

Cura qualquer malefício,
Mandinga, coisa botada,
E até doença apanhada,
Lá no baixo meretrício
Sete-couros, panarício,
Nervo torto, osso quebrado,
Ainda estando aleijado
Se tomar um copo morno
Serve até para dor-de-corno,
Frescura e dor-de-veado.

Já dei as indicações,
Para o homem ou a mulher
É bastante uma colher
De sopa, nas refeições,
Não tem contra-indicações
Nem tem dieta exigente,
É só não tomar sol quente
Nem usar na refeição;
Carne de porco, limão,
E não beber aguardente.

Agora vou dar o preço
Aos meus fregueses fiéis:
Uma, é cinco, três são dez,
Não subo muito em desço
Dou mais o meu endereço,
Para se houver precisão,
Estou à disposição,
Lá na minha moradia
Bem no Buraco da Gia,
No bairro da Conceição.

José Alves Sobrinho: Poeta popular paraibano; pesquisador do cordel e da cultura popular. Fez uma parceria importante com o professor e pesquisador (falecido) Átila Almeida, pesquisando em todo Nordeste sobre o cordel. Ex- cantador de viola. Chegou a perder a voz depois recuperou. Funcionário aposentado da Universidade Federal da Paraíba. (Campina Grande-Pb). Lá organizou juntamente com o professor Átila um arquivo por volta de 5 mil folhetos de cordel. Deu inclusive cursos rápidos (de extensão) de literatura popular na Universidade, no antigo Nell. Autor de vários livros: Sabedoria de Caboclo (1975); Glossário da Poesia Popular (1982); Matulão de um Andarilho (1994); Dicionário Biobibliográfico de Repentistas e Poetas de Bancada: parceria com Átila Almeida (1977); Os Marcos e Vantagens: parceria com Átila Almeida (1981). Obras a sair: No Fundo do Matulão, Cantadores com quem cantei, Datação de Palavras, A Glosa, Memórias de um Cantador.



Comentarios

Maravilhoso  - 24/03/2019

Sou fã incondicional do Grande José Alves Sobrinho e fiquei muito triste quando soube da sua partida.Adoro o trabalho dele com Otacílio Batista referente ao Zé Limeira. Essa garrafada do camelô é simplesmente incrível. Gostaria de adquirir algumas obras dele, principalmente: "Dicionário Biobibliográfico de Repentistas e Poetas de Bancada". Mando um grande abraço a todos, Obrigado pela bela postagem.

O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui