Usina de Letras
Usina de Letras
161 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62228 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22536)

Discursos (3238)

Ensaios - (10364)

Erótico (13569)

Frases (50621)

Humor (20031)

Infantil (5433)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140803)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cordel-->O Saco por Helvia Callou -- 04/02/2003 - 14:45 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Cordel O Saco
Hélvia Callou*

Há muito anos atrás
No brejo do Ceará
Quatro irmãos residiam
Em um ditoso lugar,
Chamado, Fazenda Saco
Sem ninguém os perturbar.

Os irmãos que residiam
No Saco que se rasgou,
Era Maria e José
Santana e João Callou.
Foi por causa deste último
Que a questão começou.

Essa gente pertencia
A tal família Callou.
E por sorte ou ironia
Somente u se casou
Quando velho, na igreja
E o civil despresou.

Foram morrendo os irmãos
Até o que se casou,
Deixa viúva Gracinha
Filha de Luiz Callou
Que até aquele dia
Lá na fazenda morou.

Pelos direitos da lei,
Ela não herdava nada.
Porque essa no civil
Com João não era casada,
Mas Santana teve pena
De lhe deixar deserdada.

Ordenou que dessem a ela,
Algumas braças de terra,
Cinco cabeças de gado
E o roçado da serra,
Pra não dizerem que João
Deixou-a mais pobre que era.

No ano de sessenta e oito
Santana, a última herdeira,
Faleceu deixando o Saco
Entregue a cabroeira,
Que cuidava da Fazenda
Com ela na dianteira.

Deste ano para cá
Começou esta questão,
Os primos eram herdeiros
Da fazenda dos irmãos,
Que morreram sem deixar
Filhos naquele torrão.

Gracinha tinha seu pai,
Que era também herdeiro,
E já morando no Saco
Apertou o nó primeiro,
Para ninguém pôr a mão
No gado, terra e dinheiro.

Abriu a boca do Saco,
Pra ela e sua família.
Virou o fundo pros primos
De modo que ninguém via,
O que dentro se passava
Só bobo não percebia.

No ano seguinte ela,
Fez um falso testamento
E quando os primos tiveram
Deste o conhecimento
Contrataram um advogado
Para ver o documento.

Foi incumbido pra causa
Doutor Gregório Callou
Ganha pro’s primos em Brasília
Mas a questão não findou
Porque tinha como inventariante
O velho Luis Callou.

Ele, o pai da viúva
Não podia permitir
Que lhes tirassem a herança
Ele ter que repartir
Esta herança co m os outros,
Querendo a só pra si.

Em um desastre de trem
Morre o advogado.
Logo depois o inventariante
Tem o seu fogo apagado,
No ano de setenta e cinco
Antes do prazo acabado.

O segundo inventariante
Foi Paizinho Sabiá
Esse também faleceu
Antes do prazo acabar
Um terceiro assumiu
Também herdeiro de lá.

Recebia o Saco agora,
Um terceiro inventariante,
Chamado José Callou
Com um advogado possante,
O Doutor Luís Borba
Levando a questão adiante.

A questão já percorria,
Seis anos sem solução.
Com três inventariantes,
Dois advogados em ação,
Mexendo na papelama
Sem alcançar posição.

Até parece mentira,
Mas, é o que ocorria.
Todos os inventariantes
Do Saco, sempre morria
Sem terminar o mandato
E o terceiro já ia.

Com a morte de Zezinho,
E sete anos de questão,
Gracinha vai ajustiça
Com o uso capião
Mas o doutor Perboare
Protesta contra a ação.

Gracinha pra conseguir
Ser proprietária do Saco,
Já tinha ido ao cartórii,
Com um papel no suvaco
Pra se casar com Santana
Só os ossos no buraco.

O juiz disse: Senhora,
Isso é infração a lei
Casar mulher com mulher
Isso dá bode... não sei
Ainda mais uma morta
Nem casamento de gay

Ela ofereceu dinheiro
Mas o juiz não cedeu,
Isto é uma coisa absurda
Casar com quem já morreu
E quando for descoberto?
Com que cara fico eu?

Sete anos de silêncio
Gracinha se aproveitou
Das 100 cabeças de gado
Que o vaqueiro afirmou
Ter Santana lá deixado,
Nenhum hoje restou.

Dinheiro e talvez jóias,
Se tinha, ninguém os viu.
Suíno, bode e carneiros
Se evaporou...sumiu
Do Saco só resta a terra
Só que ninguém repartiu.

São 15 braças de terra
Medida de espinhaço.
De fundo não sei ao certo
Ora não haver embaraço
Deixou esta lacuna em branco
Pra não dizerem que é falso.

Se por acaso os primos
Ganharem esta questão
Vão ter que venderem o Saco
Devido a situação
De ter muito mais herdeiros
Do que lá vegetação.

Em oitenta e três contratam
O quarto incentariante
Agora Cleto Sampaio
Levando a questão adiante
Desamarrará o Saco,
Doutor Perboare garante.

O doutor Tácio Ribeiro,
Advogado da Gracinha
Garante a ela a vitória
E a questão se encaminha
Para uma solução,
Não sei quando. Advinha?

Doutor Perboare e Cleto,
Afirmam com decisão
Que os primos são ganhadores
Desta famosa questão
Que já se tornou história
Para a nova geração.

A cada ano que passa
O número de herdeiros cresce,
O Saco não sai do canto
Gracinha não desvanece
Com a mão dentro do Saco
Fazendo a Deus uma prece.

Muitos dos primos que são
Herdeiros de lá também
Não dão a mínima importância
Mas, alguns deles porém
Já provaram a doçura
De cana que o Saco tem.

Mas agora o Saco está
Coitado, desprevenido
Já lhe tiraram as costuras
E lhe sujaram o tecido.
De tantos puxar nas beiras
O fundo já está poído.

Porque nestes anos todos
Que ele está em questão,
Foram tantos os que lhe abriram,
Lhe passaram tanto a mão
Que hoje ele se encontra
Na triste situação.

Quando será que a questão
Do Saco, vai ter seu fim?
Quando venderem as terras
Não se esqueçam de mim,
Se me der dinheiro eu quero
Pra editar folhetim.

Este aqui já faz parte
Deste fato histórico antigo,
Deve ficar arquivado
Junto com os novos artigos
Da nova lei que criaram
Pra casamento em jazigo.
* Hélvia Callou poeta pernambucana de Serrita, radicada na Paraíba em Campina Grande, para a qual veio estudar, se profissionalizar. Professora da rede municipal de ensino. Autora de outros cordéis e livros de poesia. Ex- presidente da Associação de Poetas e Escritores de Campina Grande-Pb.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui