... apenas o que se sabia era que o "homem" tinha ameaçado a todos os que tentassem agredi-lo; os seus capachos o rodeavam e o guardavam com tamanha obediência que nem mesmo os mais exaltados se encorajaram. Nas ruas os claros foram se abrindo e ele passava com um ar de vitória sobre todos - talvez até pensasse que toda aquela multidão não era capaz de combater apenas um homem; um único homem, que com sua autoridade fazia-se entender pelos quatros cantos do país.
Em certa ocasião, um pobre mendigo tentou reverenciar a sua péssima situação de cidadão, desempregado, mas foi em vão e como se não bastasse a recusa ainda foi agredido pelos capachos do ditador. Até as crianças que nem tinham muita certeza do que se passava também não concordavam com as idéias que na cabeça do "homem" se acumulavam.
Os filósofos e intelectuais se posicionaram contra e tiveram suas obras banidas de todas as livrarias; os músicos que expuseram suas críticas através da música foram presos e impedidos de fazerem qualquer tipo de apresentação pública ou manifestação que causasse aglomeração. Foram longos dias de pressões e prisões em todas as cidades do país. A revolta foi derrubando o conformismo da população que a cada dia mais ia se sentindo oprimida, castrada dentro da sua situação de mera escrava.
Em sua casa de verão, o nobre ditador ia tomando consciência da atual situação em que se encontrava o país - a revolta cada vez maior ia tomando o aspecto de uma revolução, talvez até um golpe dentro dos Estados ou a derrubada do atual governante e a implantação de um regime de governo mais livre e mais humanitário. Porém, aquele velho e louco ditador mandou capturar a todos os lideres e a pressionar o povo ainda mais. Muitos perderam seus empregos e outros deles se apossaram ganhando menos que os antigos empregados. A fome foi tomando conta dos pobres e dos médios, e como sempre o único e poderoso homem do país, descansa tranquilo e indiferente do que ocorre, bebendo vinho francês e fazendo carne assada para o almoço.