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Teses_Monologos-->Monólogo do Pai -- 03/04/2002 - 22:20 (Francisco Assis de Freitas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Monólogo do Pai
Dedicado aos pais amorosos


É razoável concordar que houvessem dificuldades psicológicas devido as suas fraquezas morais. Pois parecia uma personalidade acima de Jesus, condecorada pelo baixo mundo, com a fama da ilusão transitória levando-o a contagiar-se da falsa idolatria. Logo, vivia nas nuvens da realidade, com o assédio da imprensa e os gritos da multidão. É evidente que perdera a humildade natural dos pobres, metamorfoseando-se, já que sua presença despertava suspiros nas mulheres vazias e enternecidas por interesse.
Existe a compreensão de que na esfera social as circunstâncias não eram desfavoráveis a uma conduta digna; para isto era necessário possuir força moral. Tinha namorado uma jovem modelo em início de carreira com todo o frescor e beleza da idade. Agora, era obrigado a reconhecer que se relacionou com uma mulher negra de origem humilde, e, além disso, que não se achava dentro do padrão de beleza estipulado pela sociedade racista que o celebrizou. Isto pode ter sido interpretado, como um vexame.
Lamúria Egocêntrica
– Por que foi acontecer justamente comigo? Não posso ser pobre de espírito, já que tenho estrela! Afinal, o que fiz de errado na vida? O que houve de vergonhoso para ser ocultado? Não sou um infeliz, por que tive esse comportamento inusitado? Não podia negar aquela filha, esta foi uma decisão absurda. E a razão foi seu nascimento pobre. Não era melhor ter reconhecido? Ela tem a minha cor; é tão negra, quanto eu; não vejo mal algum! Ou será que a alma dela é negra e a minha não? Lance mais estranho... A coitada teve de recorrer à “justiça”, que situação constrangedora! Para que uma guerra num episódio corriqueiro? É incrível porque isto ocorre. Será que senti mesquinhez de dividir o patrimônio? Minha atitude não podia ser pior. Preocupei-me só com o dinheiro, o nome, a humilhação. Por ignorância, eu não a queria como filha, mesmo sendo irmã dos meus filhos. Parece que essa é minha maldição! E não consigo explicar essa fraqueza para mim mesmo. Pobre moça! Outra em seu lugar teria odiado o pai! Fui injusto e pernicioso. Será que ela sente ódio por mim? Pode ser que sim, é o preço da derrota... Foi submetida à maior segregação da história da humanidade. Discriminação racial da própria paternidade, é um horror! Onde eu estava meu Deus? Era apenas uma criança de cor, que queria acolher o pai de sangue. Errei de modo imperdoável. Fui medíocre! Ou situação difícil e incômoda. Oh! Meu Deus pode me perdoar? O país todo ficou sabendo e censurando. Foi uma tortura para nós dois. Que pretexto eu queria? Por que essa criança não podia ser minha filha? Por ser naturalmente negra? Será que todo sexo que fiz foi com mulheres de pele clara? Se assim foi, não seria segregar a própria raça? Não é admissível a minha postura. A falta de hombridade para abraçar minha filha com o amor de pai me fez sentir uma grande dúvida. Nem depois do exame provando que ela falou a verdade, pedi perdão! Como deve ser dolorosa a vida para ela! Mísera criatura de Deus, e minha filha, à qual senti repúdio de assumir publicamente. Rejeitada pelo pai, pelo próprio sangue, pela sua cor... Mais que rejeitada, insultada! Por que? Por ser negra e pobre. Que absurdo! Procedi como um canalha. Deus me perdoe e a proteja mais do que aos outros. Todos sabem que mesmo sendo celebridade, não apelei para a fama, nem tentei subornar o laboratório. Entretanto admito que tinha esperança que o exame desse negativo. Desgraçadamente deu positivo. São os percalços da vida. Pelo menos isso para redimir a minha culpa. O que se passava na minha cabeça? Seria medo de ser gozado pelo locutor? Psicologicamente fui tomado da fobia de que ela só queria o meu dinheiro. Por isso cometi um grande erro. Porém, mesmo que eu estivesse certo, para que serve o dinheiro dos pais, se não for para satisfazer as necessidades e os gostos dos filhos? Ainda imaginei o disparate de que ela só queria se promover, ser política. Então me pergunto: Se fosse verdade, que mal há nisso? Pode o pai ser contra os sonhos e o sucesso dos filhos? Não ajudei a promover estranhos? Meu modo de proceder não tem sentido. Como pode a população conhecê-la melhor do que eu? O mais incrível é que nunca senti pena ou amor por aquela criatura. Será que a vejo como um monstro desalmado? Isto é penoso de admitir. Ser renegada pelo pai é como ser condenada ao suplício na fogueira. É uma dor surda, sem fim. E eu sou o pai, mesmo contra a minha vontade. Vejo agora que não basta a glória, é indispensável ser homem. Depois de tudo, ainda teve ânimo para escrever um livro. E outra vez fui do contra, me neguei a dar o apoio de pai. Sou um fraco, um mau-caráter, merecia morrer à míngua no deserto! Não tive coragem sequer de cumprimentá-la. Aleguei que no livro ela só faz referência ao pai, não fala da mãe. O que eu pretendia, enfim? Quem sou eu para dizer o que uma filha ultrajada deve pensar e escrever? Fiquei totalmente perdido, sem rumo. Tenho de reconhecer que como ser humano, sou um pobre-diabo. Não passo de um molambo social que teve sorte na vida. Não percebi o que estava ocorrendo com aquela jovem! Mesmo que fosse para padecer, queria ter um pai. Não tinha razão de ser assim! Não vi que aquela moça sofrida tinha obstinação, qualidades morais! Se alguma culpa houve nesse episódio, com certeza, foi minha. De quem a colocou no mundo. Não tive firmeza para cumpri meu dever de pai, nem grandeza de alma para assumi-la. Na verdade, não queria ver o rosto da mãe dela na televisão. Aquela colocação foi um argumento de defesa. Foi uma apelação, estava blefando. Que conduta abjeta esse minha! Contudo a elite brasileira que me paparica, não vê desse modo. Como sou uma figura de prestígio, por que não pedi aos jornalistas para apresentá-la às câmaras? Por que não falei que estava arrependido? Distante do fato tudo parece muito simples, mas fiquei com medo de não reconhecê-la e com vergonha de que fosse velha e feia... Por que só agora fui me conscientizar da realidade? Aquele modelo é uma rainha, não podia decepcioná-la. É claro que chegou ao auge global pela minha fama. O próprio pai ficou revoltado... No fundo, é uma mulher triste, sem marido, não queria magoá-la. Afinal, é loira, bonita e famosa. Era uma mulher maravilhosa, não muito inteligente e egoísta é verdade, mas gostava de mim, dos louros e de dinheiro. Nunca pude esquecê-la. Cheguei a imaginar como seria a cor de um filho com ela... Para agravar, a televisão é minha aliada. Ajuda a difundir a minha imagem. Divulga os comerciais enganosos que apresento faltando vitaminas. Não podia desapontá-las!

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