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Cartas-->Hoje é seu dia, pai! (c/ foto) -- 15/03/2001 - 03:47 (Georgina Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Pai:

Hoje é o dia do seu aniversário!... Gostaria que meu sentimento mesclado de amor, saudade, ternura e lamento chegasse até você e, mais do que isso, lhe fizesse muito bem. É incrível, pai, mas tenho me achado muito parecida com você ultimamente, eu que a minha vida inteira tanto me identifiquei com a mamãe.

Quando você se foi, aos meus vinte e quatro anos, havia toda uma turbulência própria da idade, além da minha tentativa de equilibrar casamento, trabalho, filho e visão de mundo. Desde os dezessete vinha convivendo com a sua doença e o exemplo da mamãe, forte e combativa, não permitia lamentos. Se ela, tão cansada e zelosa, era só esperança, não admitindo jamais para si mesma que o processo degenerativo de seu marido não recuaria, como eu poderia fazê-lo? Na verdade, havia um pacto familiar, no sentido de que você iria se restabelecer e tudo voltaria a ser como era antes.

Não vou negar os choros solitários e a falta de chão a que estive entregue nesses anos finais de adolescência e início da vida adulta. Tenho que admitir o pânico contido cada vez que uma maca carregava o seu corpo, já então franzino, para o interior de uma ambulância. Sendo a caçula da família, sentia-me impotente, sabendo que os meus irmãos, mais velhos e experientes, é que detinham sabedoria e experiência para contornar a situação da forma mais hábil. Toda família possui uma estrutura política e ali eu era apenas a décima e penúltima de suas criações.

Mas hoje, pai, estamos aqui a sós... Uma filha e um pai, relativamente dissociados de qualquer constelação. E quero dizer-lhe coisas... Entre elas, admitir que adorava muito quando você cantava aquela música da Marinha ao me levar para o Colégio. Íamos caminhando, meio aos seus casos, sorrisos e cumprimentos aos passantes. Depois me perguntava se estava faltando algum livro ou material escolar. Apesar de seu conservadorismo, era incrível como você era atencioso e simpático com meus namorados. Isso era uma importante para mim, que tanto gosto de viver a dois... Creio que você também era assim (viu como nos parecemos?), pois foi um bom marido e flagrado maravilhado com as chacretes do programa de domingo, disfarçava e dizia: - "Umas mulheres fortes, Sô!" Era a sua delicadeza para com a mamãe, fingindo não ver apelo libidinoso nas dançarinas e classificando-as apenas pela resistência física inesgotável. Realmente você sabia viver!

As lembranças são muitas... Apreciava o seu perfume quando ia para o trabalho e gostava do fato de você guardar na gaveta todos os trabalhinhos escolares que eu lhe dera por ocasião do dia dos pais. Quando fui aprovada na Faculdade de Direito da UERJ, pena que o curso de sua enfermidade já havia se iniciado. Você poderia ter ficado mais feliz com isso, assim como havia ocorrido anteriormente com a aprovação do Daniel para Medicina. O mérito de minha aprovação, assim como os demais que porventura tenha tido, devo-lhe todos, confiando-me a tão bons colégios e preocupando-se com a minha educação enquanto pôde. Mamãe, como sempre, era sua grande cúmplice nesse sentido.

No meu casamento, papai, você não deve ter entendido nada. Fiquei com medo de não lhe fazer bem ver-me vestida de noiva, já que não conseguia mais verbalizar as coisas. Poderia pensar que eu estava indo embora, deixando-o ali naquela situação. Mamãe acredita que fiz mal, pois o nascimento do Marquinhos deve ter-lhe causado estranheza. Preferia que tivesse ido até o quarto com a roupa da Igreja, como a cunhada Regina o fez. Mas se foi um esforço pra você tentar compreender, maior foi o carinho que eu percebia no seu olhar. Sempre gostou dos netos e das crianças! Tenho certeza de que reconheceu a cria e, de certa forma, sua autoria naquele bebê.

O dia de hoje me traz saudades... Dos seus olhos azuis-esverdeados e de sua sensibilidade para apreciar a gama de tons dessa cor espalhados pelo mundo.

Com todo o meu amor, pai!

Gina



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