O grande Papa João Paulo II deixou o mundo de matéria em que vivemos sem que os mentores da União Europeia compreendessem a sua mensagem e acedessem ao seu apelo, mais que justo e diversas vezes formulado, de incluírem, no preâmbulo do seu novo e misterioso Tratado, sua Constituição, uma referência à contribuição do Cristianismo, ao longo dos séculos, para com a civilização europeia e ocidental, o que é inegável. Não foi ouvido e esses mentores mais jacobinos entre os quais a França chiraquiana, em adiantado processo de islamização, que foi a mais irredutível em tal cedência, tiveram ocasião de ver, após a sua morte, o enorme peso que o Cristianismo continua a ter não só na Europa “laica” como também por todo o mundo civilizado. E para que uma comunidade possa existir tem que haver algo de comum, supranacional, capaz de unir os seus povos e, com o devido respeito pelas minorias religiosas da Europa, eu não vejo elo mais forte do que os valores cristãos que, transcendendo a própria religião, estão profundamente enraizados na nossa civilização ocidental. E é precisamente este elo e estas raízes que não são reconhecidas.
Milhões de crentes e não crentes, desde os mais humildes aos mais poderosos, até os representantes de outras grandes religiões se deslocaram a Roma, numa peregrinação jamais vista, para prestarem a última homenagem ao mais ecuménico, mais abrangente e mais moderno chefe da Igreja Católica da era da globalização, precisamente porque tentou demonstrar que a Fé se sobrepõe aos dogmas e ritos das diferentes religiões, no caminho para a sua dimensão cósmica. Isto também prova aos utópicos da União e à ala “desorientada” do seu Parlamento, que, ao contrário do que pensam, a doutrina cristã está ainda bem viva e emerge bem alto quando tem à sua frente um verdadeiro cristão que sabe projectar universalmente a essência da doutrina de Cristo e defender com humildade e abnegação mas firmemente os seus milenares valores que nos trouxeram o respeito pelo próximo e os fundamentos da democracia.
Aqueles que o criticaram e lhe chamaram conservador ainda não vislumbraram que a Igreja jamais poderá deixar-se subverter pelos conceitos de modernidade momentânea que o mundo materialista, consumista e hedónico lhe quer impor com finalidades meramente especulativas e até mercantilistas. Não poderá estar de acordo com o que se opõe aos seus princípios como o matrimónio homossexual, a luxúria a que assistimos, o sexo livre, o negócio da prostituição e da droga que trouxeram os grandes problemas com que a Humanidade hoje se debate como a SIDA, a perversão da imprescindível célula familiar e consequentes comportamentos que levam à necessidade de recorrer ao aborto.
É óbvio que a Igreja não impede ninguém de viver a sua vida à sua maneira, como quiser mas não se pode associar àqueles que não seguem nem querem seguir e até desdenham dos preceitos da sua doutrina e que, com os conceitos de modernidade que adoptaram, acabaram por ser os grandes responsáveis pela propagação de tais calamidades. Se os valores cristãos de humildade e amor ao próximo fossem observados, naturalmente que a Humanidade não estaria confrontada com tão graves problemas! A chave duma sociedade equilibrada e pacífica, capaz de contornar as consequências do processo conflitual da evolução, foi-nos dada há já dois mil anos!
Como homem, Karol Wojtyla de certeza que passou pelo que não passaram os seus críticos e detractores, pois foi um trabalhador braçal e intelectual que soube resistir denodadamente às utopias opressoras e desumanas dos aparelhos Nacional Socialista Operário Alemão (Nazi) de Adolfo Hitler e do Comunista Soviético de José Estaline e seus camaradas. Foi um resistente, um que via o que seus críticos ainda não enxergam. Foi um Papa moderno e pacífico que soube enfrentar, com santidade e serenidade, os desafios da conturbada era em que viveu e exerceu o seu pontificado.