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Artigos-->A Sociologia Da Arte E O Problema Do Imaginário -- 12/11/2007 - 23:01 (Sereno Hopefaith) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Número do Registro de Direito Autoral:130951700092663600
Há um século e meio, a História da Arte teve como escopo fazer o balanço das obras do passado, inventariando-as, de forma descritiva, como se faz numa classificação na Botânica ou na Biologia, indiferente às funções sociais e às significações diversas na obra de diferentes autores.



A História, o historiador, não atribui valor decisivo exceto ao documento escrito, conferindo-lhe um valor absoluto. Ele o utiliza para ?ilustrar? uma verdade estabelecida, em função tão somente das fontes escritas que o acaso posicionou em suas pesquisas.



A Sociologia compartilha com a História a desconfiança em relação ao documento não-escrito ou não-verbal, faz de seu campo de investigação um privilégio do presente, a coletar informações funcionais, econômicas e ?sociais?, as únicas que considera válidas.



A elaboração de uma Sociologia da Arte nos métodos usuais da Sociologia produziu apenas obras decepcionantes. Para sociólogos e historiadores é conhecimento elementar que em toda sociedade é inerente sua estrutura econômica, política e social. Os escritores, e outros artistas, nada mais fazem do que materializar os valores do meio em que vivem, e questioná-los. A expressão de sua arte, por vezes exclui, a elaboração formal, literal, dos imperativos econômicos, institucionais ou sociais.



O acesso à significação das obras literárias, e a de outras artes, é efetuado pela intuição de uma ?Beleza? que escapa às miseráveis contingências da vida. Daí, a atenção mais das vezes superficial no estudo das relações que unem a Arte às demais atividades.



Há a vigência de um indisfarçável ?desprezo? que os ditos homens de ação, sejam eles técnicos ou eruditos, nutrem pelos escritores e outros artistas: ?Gente preguiçosa, não compreendo sua existência, o êxito financeiro deles é questionável, irritante?. Não há sensibilidade nem razão nesta opinião. É como se fosse exteriorizada por um bruto primitivo, civilizado apenas na aparência do colarinho branco. Aos não poucos emissores desta opinião, é certo que uma sociedade ?séria? deve dispensar esses homens criativos, que trabalham os significados supostamente supérfluos da sociedade.



Diz o ditado popular: ?A inveja é uma merda?. E é mesmo. Aquelas pessoas ao contrário de tentarem compreender as manifestações da Arte (literária e outras), reforçam aquele atributo que Wilhelm Reich (Análise do caráter) afirmar ser comum aos homens organizados e com uma rotina excessivamente mecanizada: Eles carecem de razão e sensibilidade porque o conteúdo de suas manifestações costumeiras é ditado por uma vaidade de comportamento que supõem ?pragmática?, quando é apenas medíocre o conteúdo de suas associações e comunicações estéreis.



As pessoas que têm, e mantêm aquele padrão opinativo, são invejosas das manifestações da Arte dos escritores e de outras. Elas cumprem uma subserviente rotina de repetirem opiniões sem atualidade (?diga uma bobagem ou uma mentira mil vezes e ela se tornará verdade?). Aquelas pessoas são carentes de conteúdo espiritual pertinente, atualizado, a resistência de caráter das mesmas manifesta-se, não em termos de conteúdo, mas formalmente (como que obedientes de uma rigorosa etiqueta), na maneira como cada uma se comporta tipicamente, no falar, no caminhar, no gesticular, no vestir, e em outros hábitos característicos, tipo maneira estereotipada de sorrir, de exteriorizar opiniões vulgares, os diálogos de uma incoerência cheia de questionáveis certezas, maneirismo misto de delicadeza e agressividade.



?Gente preguiçosa, não compreendo sua existência, o êxito financeiro deles é questionável, irritante?: Esta opinião é típica de uma mentalidade alegórica (as palavras e seu sentido nunca se combinam de maneira coerente). Essas pessoas são produto do que Reich denominava de ?couraça de caráter?, uma estrutura mental padrão caracterizada pela rigidez, a obstinação, a petulância. Uma pessoa (e são muitas, legiões), incapaz de autocrítica, de aceitar crítica pertinente de terceiros, por manterem a qualquer custo, a empáfia enquanto último recurso de auto-afirmação de um ego fragilizado, temeroso de incorporar novos conceitos e idéias com medo de perder a atual e fátua identidade.



As possibilidades de uma Sociologia da Arte conduz à exposição do problema da situação do escritor, e de outros criadores, na sociedade. Esse problema não concerne apenas à questão de saber como os homens ocuparam seus lazeres, é preciso afirmar que há quinhentos anos os livros (a filosofia, a ficção) tornaram-se, a mais necessária forma de testemunho e de precogitação (precognição), em todas as sociedades civilizadas do planeta.



A arte literária, e as outras artes, serve como instrumentos aos senhores da sociedade para divulgar e impor suas crenças e valores. Serve, principalmente, para questionar aquelas crenças e valores. A arte e a técnica da comunicação literária, as condições e efeitos da criação nas artes (Estética), penetram em cada um dos pensamentos e ações daqueles que consomem a produção literária dos escritores, e de outros artistas.



A representação literária não determina a forma de agir das pessoas. Ela serve para fornecer os meios críticos necessários a fazer com que algumas virtualidades dos condicionamentos comportamentais possam ser repensadas. O escritor é um criador não apenas de conceitos e objetos, principalmente de esquemas de pensamento.



Existe um pensamento plástico, assim como existe um pensamento matemático, político. O pensar estético ainda agoira é precariamente observado, pesquisado. Não é possível confrontar entre si disciplinas como a História, a Sociologia, a História da Arte, reduzir esse estudo a uma espécie de herbário, quando não se conseguiu ainda, sequer elucidar a natureza do fato artístico em suas relações com a sociedade.



Igual a todas as outras atividades intelectuais, a arte e a técnica de escrever estão destinadas a evoluir em função dos demais desenvolvimentos da humanidade. Inexiste conhecimento pertinente que busque desenvolver-se em função das aquisições experimentais de outras ciências e artes. O pensamento plástico não somente se limita a reutilizar os materiais elaborados. Ele é uma técnica e uma arte de informação criativa universal. É apreendido através da elaboração dramatizada de atos particulares, que, por sua vez, não têm autonomia na manifestação de suas ?especificidades?.



A arte literária é mais que uma fonte de conhecimento e informação complementar. Fosse desta forma, a arte literária e a Sociologia da Arte, não seriam mais que ilustrações metafóricas de conhecimentos adquiridos. As obras de arte permitem ao historiador, ao sociólogo, pesquisar elementos de informação e instrução que de outro modo não seria possível adquirir.



A arte literária e as outras artes são mais do que um conhecimento específico. Elas fazem parte de um exercício experimental do desenvolvimento do ser enquanto natureza comum e ?oceânica? (universal), inerente a cada um e a todos os seres. O fíico prêmio Nobel (1945) Wolgang Pauli, como que a confirmar a teorização do inconsciente por Freud, afirmou a descoberta do princípio de exclusão quântico: ?O inconsciente expande-se para além da terapêutica, como se fosse um universo em expansão, um complexo sistema cibernético ao modo de ?uma eletrônica cósmica a nível quântico?. A arte literária e as outras artes, suponho, têm grande afinidade interativa com este princípio.



Em arte, uma escola instituída, tende a um movimento de declínio ou deterioração de suas influências, após atingir a excelência de sua manifestação artística e/ou técnica. Por vezes, o historiador ou o sociólogo, ou o estudioso das artes, não acompanha a dinâmica dos pioneiros de um escola literária, ou de outras artes, devido à sensação antecipada, por parte do autor, ou artista, de situações sociais que ainda estão por acontecer.



O presságio ou o pressentimento social do escritor, ou artista, apenas se confirmará algum tempo depois, no futuro. E o que seria uma obra literária de advertência social, se não é igualmente captada em tempo hábil por outras pessoas, responsáveis pela divulgação da mesma, ela, obra, corre o risco de não exercer a influência intelectual, filosófica ou social pertinente à advertência que o escritor deseja pleitear em sociedade, quando na época de sua criação.



Por vezes o criador literário, e outros, em seu próprio tempo, não passa outra impressão, para a maioria das pessoas, exceto a de que é um outsider. Um estranho que não poucas vezes ironiza-se: ?Nasceu antes de seu tempo?, ?é um poeta?, ?vive no mundo da lua?, ?as personalidades de amanhã são os loucos de hoje?, ?é um estranho no ninho?, ?ele é um excêntrico?...?



Herbert Read, considerado um dos mais proeminentes filósofos modernos, e filósofo da arte, no capítulo primeiro de sua História da Pintura Moderna, escreveu: ?Na medida em que existe alguma lei observável na história coletiva da arte, ela é, tal como a lei da vida do artista individual, a lei não do progresso, mas da reação. Seja em grande ou em pequena escala, o equilíbrio da vida estética é permanentemente instável?. Read continua dizendo que o conhecimento de um artista que antecipa seu tempo em sua produção literária (ou em outras), somente depois de uma prolongada e aturada reflexão, começa a ser visto pelas pessoas carentes da percepção dinâmica do mundo que caracteriza sua criatividade. Em uma ou duas gerações, depois, é que começam a ver por que as coisas acontecem ou aconteceram conforme ele, o escritor, previu em sua ?ficção?.



Uma Sociologia da Arte implica num método para o deciframento sistemático não só das obras de arte, igualmente de inúmeros outros setores da atividade social. Ela supõe, mais uma vez, o reconhecimento de um pensamento plástico ou estético fundamental às atividades primeiras do homem.



Uma obra de arte não é, jamais, o substituto de outra. Ela é em si a coisa simultaneamente significante e significada. A arte cria e exprime tanto quanto qualquer outra forma de ação
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