Usina de Letras
Usina de Letras
19 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->OITO HORAS! É HORA MARTA! -- 27/12/2002 - 15:27 (COELHO DE MORAES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OITO HORAS! É HORA MARTA!
De Coelho De Moraes, baseado na obra de Carlos Wallenstein, escritor português (1925)
Personagens: Marta, Benjamim, Hamlet, John Cenoura, Gerente
[Na abertura uma inscrição]: “Quando a rotina é toda a realidade de um homem, a alteração dessa rotina pode levar esse homem para além da realidade... para o fantástico ou...
Cena 1
[Um homem atarefado pelo corredor, carrega papéis fala]: Telefonemas... desses meus telefonemas depende a vida muitos operários... a hora é essa... [ele se senta à mesa para tomar do telefone quando uma mulher aparece á porta da fábrica. Chove. Eles se olham. B olha para o relógio. 8 horas. Ele pensa, um pouco assustado]: Oito horas! Oh! Oito horas é a hora dos acontecimentos definitivos.
M: [ela está molhada e usa um casaco muito fino. Suas roupas são elegantes e caras] Meu nome é Marta e trabalho em centrifugadoras.
B: [segurando o telefone] Que tenho eu com isso?
M: Talvez precise de mim...
B: Não preciso.
M: [triste] É pena.
[B a olha de cima abaixo, olhando bem o corpo da moça e pensa]: Se houvesse um comunista por aí logo perceberia que os industriais também são sensíveis.
B: O que você deseja?
M: [se olha e percebe que B nota suas roupas] Trabalhar.
[B pensa colocando a mão nas roupas dela] O sofrimento de quem não é rico é sem garça e enche o saco. Se pelo menos ela pedisse piedade. Isso me dá um prazer imenso. Devemos desconfiar dos industriais incapazes de piedade.
M: Mas o senhor disse que não precisa.
[B, olhando para ela pensa] É uma comunista ou uma ingênua?
M: Se precisasse de uma operária para centrifugar, teria dito, não é verdade?
B: Sim, com certeza.
M: Não tenho a mínima carta de recomendação. São contra a moral. Além disso sei que as cartas, com o senhor Benjamim, não dão resultado.
[B andando em torno da mesa, pensa]: Será um elogio á minha honestidade? Matreirice de fêmea? Manobra do Partido? [B estava em pé atrás dela].
B: Realmente, não costumo...
M: De resto... nem eu podia ter pedido uma carta da fábrica de onde saí. Pratiquei um roubo. [trovão, a chuva aumenta].
B: Um roubo?
M: Um roubo. Mas sou muito rápida de mãos e faço as máquinas produzirem mais.
B: Mas... mas o que você roubou?
M: O senhor acha que isso é coisa importante para saber?
B: Um pouco sim... você está a propor-se a trabalhar aqui... além disso, sou um homem honrado e depois de sua confissão tenho o dever de entrega-la à polícia.
M: Pensei que se contentasse com a espontaneidade de minha declaração.
B: Fiquei contente, sim, mas... mas... há um pormenor que me confunde. Se você trabalhava nas centrifugadoras, que poderia ter roubado? Alguma peça da máquina? De que lhe serviria? Uns quilos de matéria prima?... Para que?
M: Senhor Benjamim, a sua dúvida demonstra que o senhor é uma pessoa metodicamente inteligente. O gerente da fábrica de onde eu venho... sempre me chamava aos seu escritório e dava-me beliscões nas pernas.
B: Beliscões nas pernas...
M: Sim... digo pernas mas ele se aproveitava um pouco mais... O senhor o conhece, não é verdade?
B: Sim, faz tempo... sempre foi um depravado.
M: [um pouco irritada] Beliscões nas pernas me irritam e me fazem arrepiar até o fio último de meus cabelos, que contorna a nuca, me desce pelo pescoço e vai me levantar todos os pelos do corpo. Me dá a impressão de que sou completamente careca – mas ao mesmo tempo me sobe uma rara volúpia intensa. Por isso, quando me vinham dizer que o gerente queria me ver no escritório... [interpõe-se cenas desse momento] ...eu não poderia deixar de ir, pois naquele momento era o meu desejo... [o gerente beliscando a perna e a bunda dela] ...mas aos poucos fui criando pelo gerente um grane ódio. Odiava-o! odiava-o muito!
B. Ele merece... é um patife.
M: Odiava-o por tudo isso.Os olhos esbugalhados... [cena interposta da cara de pau do gerente] ...que tinha quando me beliscava... depois aquela lassidão... a gosma escorrendo pela minha mão... e o olhar de nojo para me dizer que em retirasse.... tudo isso requeria vingança, senhor Benjamim! [Ela o olha pedindo aprovação].
B: Claro, claro...
M: Ai, aquele bigode! O modo indecente como ele esfregava... mas o que é que eu podia fazer?
B: Sei lá... eu não sei...
M: O que faria o senhor em meu lugar?
B: Eu?! Mas você se atreve a fazer uma hipótese dessas? Muito bonito o tal gerente a me dar beliscões nas pernas! Salafrário!
M: Ora... também eu não sabia o que fazer... Que pode uma operária fazer a um industrial? Bater-lhe... talvez... mas ele nem sente. Insulta-lo... também não sente. Mata-lo... morria no seu posto... não! A única coisa que o prejudica é roubá-lo.
B: Muito claro.
M: Mas roubar-lhe o que, senhor Benjamim?
B: Dinheiro, que é mais fácil.
M: Isso também eu queria, mas nunca vi dinheiro naquele escritório.
B: Nunca? É o que eu havia pensado. Ele está arruinado. [B ri desbragadamente].

Cena 2
[Escritório do gerente. A moça está deitada sobre a mesa, seminua. O gerente está seminu beliscando suas partes. Ela gosta. Ela vê um papelinho sobre outros papéis. Em seguida saindo do escritório ela mostra o papel a um amigo. Ele pega e oferece dinheiro que ela não aceita. Ele faz menção com as mãos para o estoque da loja e ela escolhe a roupa que usa naquele momento e sai.]

Cena 3
[Tomada dos olhos esbugalhados de B.]
B: Continua rapariga, continua que vai acontecer qualquer coisa de extraordinário à face da terra.
M: O tal rapaz...
B: Qual?
M: [chorando] O rapaz muito respeitador... Morreu quando houve a greve. Mas na agonia pediu que eu dissesse ao gerente a seguinte frase: [interpõe cena do sujeito] Quem te arruinou não fui só eu; foi também o meu ódio de classe. [E expirou] Mais tarde dispensaram meus serviços.
B: Você contou essa história a mais alguém?
M: A ninguém, senhor Benjamim. Sou séria. Conto-a a si mas é para me empregar.
B: Já está empregada. Sabe que esse casaco vale muito dinheiro?
M: Não faz mal. Não o quero vender. Vou para a s centrifugadoras?
B: Vai para o meu escritório.
M: Para que?
B: Ora essa, para que!
M: vai me beliscar as pernas, também?
[Ele sai sem responder].

Cena 4
[Ela sai pelo corredor, rapidamente. B a observa escondido. Ela anda com desenvoltura e elegância. Olhos do B e bamboleio da M. Cenas interpostas com o rapaz do papelinho dizendo para B e um outro, o Hamlet]:
Eu inventei essa formula, produziremos mais, ficaremos mais ricos, só que... eu quero três quartos do capital da empresa... o quarto restante fica para vocês dois. [Ultimas passadas de M pela esquina do corredor. Tocam-lhe as costas. É Hamlet.]
H: Ei Benjamim.
B: Olha o que eu fiquei sabendo agora. O nosso riquíssimo e bondoso John Cenoura não inventou formula alguma. Ele conseguiu do gerente beliscador de pernas... em troca de um mísero casaco de peles... Ele está seis vezes mais rico do que nós... a troco de nada...
H: É preciso acabar com esse malandro...
B: Espancar é pouco... quem sabe denunciar o patife?
H: Denunciar? Isso seria morrer... dormir... mais nada...
B: Tem razão... a denúncia pode virar-se contra nós...
[Olham-se demoradamente até para o espectador... mal estar...]
B: Então?
H: Não adianta... sou incapaz de uma decisão, incapaz... [entra um nevoeiro.]
B: Olha o fantasma! [...Sons de bigorna, metais e malhos... Hamlet com revolver na mão sobe um portaló na direção do fantasma... um cartaz com Marta pintada nele, seminua, aí o cartaz caem e cai a sai de M onde podemos ver belas pernas, cheias de dentadas. B tenta ir naquela direção mas membros do partido vêem na direção contrária.]
[B começa a gritar]: comunistas! Comunistas!
[E do alto o gerente jogava pernas ortopédicas sobre mim, olhando o nada. B começa a rir.
B: gritava]: nada a fazer, nada a fazer se não beliscar as pernas!
[B corre pelo corredor. H está atrás dele. Enfermeiros estão atrás dele, lá no fundo.]
H: Deixe eu beliscar suas pernas, Benjamim, deixa, deixa.
B entra na sala. M está deitada no sofá assassinada. O peito cheio de sangue com os olhos fixos na entrada de B. B cai perto do corpo, desanimado. Olha para o relógio de pulso e olha para o da parede. Marcam 8 horas. O relógio soa.
B: Ainda dá tempo de telefonar... [pega uns papéis sobre a mesa... vai para o corredor, empurra H... entra em seu escritório...] é preciso salvar os operários... tragam os telefones! Tragam os telefones! Com esse telefonemas eu posso salvar a vida de diversos operários.
[Trovões. Ele olha para a porta da fábrica. Tem uma mulher com casaco olhando para ele. Close nela.]
M: Meu nome é Marta!
[Escurece lentamente.]




Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui