VIVA O SENADO !
Obs: A crónica é antiga, 1994, mas continua valendo.
Hoje amanheci de bom humor, sem revolta e relativamente satisfeito com a minha situação e com a do Brasil. Não estava interessado em agredir políticos nem reclamar das autoridades constituídas. Não que eles não mereçam, mas, porque havia acordado em estado de paz. Logo ao acordar ouvi no rádio a notícia de que a quadrilha do senado havia aprovado uma lei de anistia para aqueles que haviam roubado o nosso dinheiro. Um projeto supimpa votado em 60 segundos, livrara o "Luceninha",- o mais pobre dos senadores - de perder o mandato que ganhara imprimindo a minúscula quantidade de 150 mil calendários, com sua linda foto, e distribuídos entre os seus enganados eleitores. Sem querer ofender ao meu doberman "Hitler", quando ouvi os latidos de alguns deles defendendo a razão da aprovação, senti que não iria conseguir me abster de agredir, pelo menos um dia no ano, a canalha de Brasília. E incrível como eles conseguem insultar a minha inteligência, aumentar o meu mau humor e logicamente obrigarem-me a chamá-los de ladrões, corruptos e outros adjetivos leves, que sempre conseguem tirar de suas faces, um sorriso cínico quando ouvem esses elogios.
Um dos canalhas disse que o "Luceninha", dentro de sua" honestidade", procurou oferecer aos pobres eleitores pelo menos, um calendário no mês de julho, já que o povo merecia ao menos uma lembrança de seu "pobre" senador, batalhador incansável das verbas para as empreiteiras de seu querido Estado.
Outro não menos leal, declarou que ele fora ingênuo e jamais poderia imaginar que usar a Gráfica do Senado fosse qualquer tipo de crime. Todos os colegas sempre usaram a mamãe Gráfica para resolver os problemas de ordem política e nunca ninguém foi punido.
O próprio inocente disse que quem ofereceu foi o Diretor da Gráfica, seu subordinado, e que jamais o avisou que era proibido.
Se o mais pobre faz 150 mil calendários, os mais ricos e sofisticados, imaginem, devem fabricar papel moeda. Se o que fez 150 mil calendários é ingênuo,(foi o que declarou o comparsa) e trata-se do Presidente do Senado, estamos munidos de excelentes e atípicos legisladores: Ingênuo e ladrões.
Pela disputa da votação, houve um voto contra. Chego a conclusão que o Senado é a casa dos ingênuos ou seja: o Senado está sem nada. Aliás, nada, foi o que eles sempre fizeram em benefício do povo e da nação. Ali nada se faz, nada se cria tudo se reforma, inclusive decisões da justiça contrárias aos interesses pessoais de qualquer um dos quadrilhados.
O grande tribuno e senador Cícero, deu sua cabeça em favor da honra do Senado e da república de Roma. Nos memoráveis discursos contra Catilina e Felipe, dizia que a dignidade dos Senadores deveria permanecer até o fim dos séculos como exemplo para as nações e para o mundo. Agora vejo que ele jogou sua cabeça fora por nada e deve estar revolvendo-se no seu túmulo de tanta indignação.
Anistiar esses ladrões do meu dinheiro, teve a acolhida de urgência urgentíssima. Para aumentar o salário mínimo e votar o orçamento teve a acolhida lenta lentíssima.
Diante de tanta safadeza, ainda querem que eu peça nota fiscal para comprar mais caro e o governo distribuir o dinheiro com esse sindicato de ladrões? O "risadinha" que se cuide, o real está ficando a cada dia mais irreal, 19% a menos em apenas 5 meses. Quando assumir não me venha com aquele velho chavão "o povo também tem que dar a sua cota de sacrifício". Esse eu já ouvi 5 vezes em 20 anos.
Enquanto não pagarem os 10 salários de aposentadoria que tenho direito, já que contribui durante 38 anos pelo teto, não perderei nenhuma oportunidade de sonegar ou pegar de volta o que é meu, e usarei todos artifícios ilegais, bem como, ensinarei como fazer, gratuitamente aqueles que estiverem na minha situação. Eles fazem as próprias leis e eu farei as minhas. As deles ficarão só para eles e as minhas distribuirei com quem quiser, não sou egoísta, "ingênuo", "político honesto" nem distribuo calendários no mês de julho com o dinheiro do povo.
